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LUTA: Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+ é celebrado

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A data é marcada por uma trajetória de desafios e conquistas da comunidade 

O Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+  é comemorado nesta segunda-feira (28). A comemoração busca celebrar a diversidade de expressões de gênero e amor, destacando os grupos que mais sofrem alguma forma de preconceito. No Brasil, o dia foi celebrado pela primeira vez em 1995, no Rio de Janeiro. A data deu seus primeiros passos após os protestos de Stonewall, nos Estados Unidos, em 1969. Os protestos ocorreram após policiais invadirem o bar Stoneawall Inn, em Nova Iorque. O local era frequentado por pessoas que eram marginalizadas pela sociedade da época, como gays, lésbicas, artistas drag  e pessoas sem-teto. Nos anos que se seguiram, passeatas foram realizadas para celebrar o aniversário dos protestos de 1969. E destas passeatas surgiram o que viria a ser um movimento internacional do orgulho que se faz presente até hoje através das paradas da diversidade e de movimentos político- sociais mundo afora.  Mas a luta contra a intolerância e o preconceito é árdua e parece longe do fim. 

Em pleno século XXI, ainda existe um número significativo de nações que punem e oprimem sua população por acreditarem que são existências que contrariam a vontade de uma divindade ou são subversivas a uma ordem social. Entre estas nações, há a Hungria, cujo parlamento aprovou recentemente uma lei que proíbe a exposição de conteúdos LGBTQIA+ em escolas e programas de televisão para menores de idade. Seguindo essa linha conservadora, a punição por propaganda LGBTQIA+ já existe na Rússia. Na Arábia Saudita e Iêmen a pena para a homosexualidade é de morte. 

Ativista LGBTQIA+ detido em protesto contra a censura do governo russo em São Petersburgo

O Brasil vem caminhando na direção contrária. No dia 13 de junho de 2019, O Supremo Tribunal Federal (STF) definiu a prática de homofobia e transfobia como crime pelo artigo 20 da Lei do Racismo (Lei 7.716/1989). O STF assim tipificou os atos até que o Congresso Nacional implemente uma lei que tipifique esse crime, pois ainda não há uma lei federal que garanta a proteção da população LGBTQIA+ no Brasil. Os direitos de doar sangue e se casar também foram conquistas alcançadas através do poder judiciário, o que evidencia uma dificuldade do legislativo brasileiro em se posicionar a favor da comunidade 

Apesar do aparente avanço, um relatório feito em 2020 pela parceria da ONG Grupo Gay da Bahia com a organização civil Acontece Arte e Política LGBT constatou um aumento no número de assassinatos de pessoas LGBTQIA+ entre 1990 e 2020. Enquanto foram registradas 164 mortes em 1990 no Brasil, esse número aumentou para 445 em 2017. Em 2020, houve uma queda de 28% no número de assassinatos. Outro relatório, do Observatório de Mortes Violentas depessoas LGBTIA+ no Brasil, afirma que, em 2020, 237 pessoas da comunidade tiveram morte violenta no Brasil, vítimas da homotransfobia. A pesquisa também aponta 224 homicídios (94,5%) e 13 suicídios (5,5%)  de pessoas LGBTQIA+ em 2020 em decorrência de LGBTfobia. 

O ativista da causa LGBTQIA+ residente em Fortaleza e filiado ao Partido Socialismo e Liberdade ( PSOL)  Ari Areia, fala que existe uma imprecisão de dados referentes ao Brasil ser o país que mais mata LGBT’S no mundo “Este dado não tem muita precisão porque nós não temos estatísticas oficiais sobre isso. O que temos é um esforço dos movimentos sociais que acompanham a pauta LGBT que fazem uma catalogação dos casos que são noticiados na imprensa.” Ari afirma que no Ceará, por exemplo, há uma dificuldade por parte da Secretaria de Segurança Pública e da Secretaria de Direitos Humanos de ter dados sobre a quantidade de LGBT’S que sofreram violência ou que foram mortos. Areia chama atenção para o dado importante de que o Brasil também é o país que mais consome conteúdo adulto com pessoas transexuais no mundo. “Estamos diante de um paradoxo que diz respeito diretamente a um processo de desumanização de corpos trans”. O ativista reitera que as pessoas transexuais sofrem com a objetificação de seus corpos e esta objetificação contribui para um cenário onde pessoas transexuais e travestis são vistas como pertencentes à prostituição.” O corpo trans e travesti são aqueles procurados na calada da noite.Boa parte do público dessa procura é feita por homens casados que se afirmam heterosexuais”. Ari afirma que estas situações são fruto de um processo histórico que colocou a população LBGTQIA+ em um patamar inferior de humanidade. E este patamar diz respeito a ausência do poder público em reconhecer a humanidade desta população, assim como a ausência de legislação que a proteja e garanta direitos básicos. Areia também é co-fundador do projeto “Outra Casa”, local que acolhe pessoas LGBT em situação de vulnerabilidade social. “Este projeto surge como uma forma de resolver um problema de moradia que foi agravado pela pandemia.” Ari afirma que a pandemia colocou muitas pessoas LGBTQIA+ em uma situação difícil, onde se viram sem emprego ou meios de manter uma vida digna, e as que possuíam um teto, se viram em desconforto pela convivência com uma família LGBTfóbica.  O “Outra Casa” surge para atender a essas vulnerabilidades. 

Ari Areia, militante do PSOL e ativista da causa LGBTQIA+ e dos Direitos Humanos

Quem também falou sobre o assunto foi a artista LGBT fortalezense Lay Maia. Lay se auto afirma “ume artista negre e não binárie” e possui formação superior em música pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Maia carrega nas letras de suas músicas toda a dor e desesperança que permeiam a experiência de uma existência trans. “ Nessa sociedade tão obcecada pelo normal e pelo padrão doentio, canto também a força de descobrir que não se está só, e a potência que é ser diferente!”. Quando questionada sobre a situação da comunidade LGBTQIA+ brasileira, Lay ressalta a questão religiosa, não vendo a religião como causa, mas como bode expiatório. “ A condenação cristã sobre a população LGBT serve, até hoje, como amenizador de qualquer culpa ou remorso por parte dos nossos opressores, pois, na mente do cristão nós “merecemos” tudo o que nos acontece. Não é à toa que um dos países que mais mata LGBTs no mundo é também um país predominantemente Cristão”

Maia também fala sobre um mundo dominado pelo masculino e pela heteronormatividade. A artista afirma que vivemos  em um mundo  liderado por homens,governado pela masculinidade.” Tudo que nos desperta respeito, temor ou atração tem ligação direta com o estereótipo masculino. Nós nos acostumamos a viver assim. Tudo que foge ou renega essa norma causa a ira tanto da parte de quem oprime e se vê no auge do privilégio quanto de quem abdicou de tudo que queria para se encaixar num sistema sufocante e não suporta ver alguém emergir dele sem desistir da sua verdadeira essência. E assim observamos as religiões cristãs sendo usadas, mais uma vez, para manutenção do poder do homem.” 

Lay Maia é musicista natural de Fortaleza e se soma a uma geração de artistas LGBTQIA+ cearenses que surgiu nos últimos anos

A realidade de Lay é espelho da realidade de milhares de pessoas que fogem do padrão estabelecido por uma sociedade construída em sua essência por valores cisgêneros, heterosexuais e machistas. Ao contrário da geração atual,Lay faz parte de uma geração que não viu muitos artistas LGBTQIA+  para se inspirar, mas isso não impediu que a artista seguisse seu coração para se tornar uma referência até agora regional de artista LGBTQIA+.”Infelizmente, na infância, não me recordo muito de ter artistas como referência ou inspiração. Lembro de vibrar com a Madonna e Christina Aguilera. Sonhar em usar os looks, achar incrível a vibe de “faço o que eu quero, nenhum homem vai mandar em mim” que elas passavam nos clipes. Definitivamente assistí-las foi fundamental para a construção da pessoa artista que eu sou hoje. Tanto na estética, quanto na força das performances, das letras, de mandar uma mensagem, de estimular a luta por alguma causa.”

Maia fica feliz em saber que a geração atual possui artistas desafiando padrões e quebrando estereótipos. “Eu invejo essa geração que tem como ícone da música personalidades como a Pabllo Vittar e Glória Groove. Através destas artistas, as pessoas de alguma forma veêm suas peculiaridades validadas pela mídia, e isso muda a cabeça delas! Passam a querer valorizar essa peculiaridade e não a esconde-la!”

Pabblo Vittar
Glória Groove

Nos últimos anos, a Terra do Sol viu seu brilho aumentar com o surgimento de outros artistas que também representam a comunidade LGBTQIA+ local, como o ator e cantor Silvero Pereira. Silvero é natural de Mombaça e já em Fortaleza fundou o Coletivo Artístico As Travestidas, grupo composto por atores e atrizes homosexuais e transexuais. Silvero ganhou notoriedade e papéis de peso em novelas da emissora Globo. O ator também fez parte do elenco de “Bacurau”, filme que ganhou o Prêmio do Júri no Festival de Cannes. 

Ari Areia, Lay Maia e Silvero Pereira fazem parte de 8,1% população fortalezense, percentual aproximado da população LGBTQIA+ da capital. De acordo com dados da Agência de Notícias da Aids, a Agência Aids, o Brasil possui  21 milhões de gays (10% da população), 12 milhões de lésbicas (6%) e 1 milhão de pessoas trans (0,05%). Todos os dados sobre o meio LGBTQIA+ do Brasil são provenientes de pesquisas feitas por movimentos sociais e ONGS que são parte da comunidade LGBTQIA+ ou que se preocupam com a situação da comunidade no Brasil. 

STONEWALL E MARSHA P. JHONSON

O bar StoneWall Inn fica no bairro Greenwich Village, na cidade de Nova Iorque. O local se tornou um símbolo da luta pelo respeito à diversidade e hoje é ponto de visitação. Uma das figuras marcantes dos protestos de 1969 foi Marsha P. Jhonson, uma travesti, drag queen e ativista pela libertação da comunidade LGBTQIA+ que se destacou nos protestos e foi brutalmente assassinada anos depois. Sua morte continua sendo coberta de mistérios e as autoridades nunca descobriram quem a matou. Marsha se tornou um símbolo de resistência para os movimentos negro e transexual.

Faixada do bar StoneWall Inn, em Nova Iorque
Marsha P. Jhonson, mulher trans que se tornou símbolo de luta e resistência

EVENTOS

Hoje, 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, às 18h, o escritor e professor Thiago Noronha realiza um bate-papo de lançamento do seu livro de estreia, O primeiro Parágrafo das Memórias de um Louco, pelo Sesc Fortaleza. A live ocorrerá pelo perfil no Instagram do autor @umnoronha

A obra reúne 36 contos organizados em 6 partes. Os contos possuem temáticas, geografias e tempos diversos. Fortaleza prevalece como homenageada pela escrita, exaltando muitos de seus bairros: Praia de Iracema, Centro e João XXIII, onde nasceu o autor. Num estilo predominante de realismo-fantástico, o livro traz referências à cultura nordestina, à infância dos anos 90, à cultura LGBT, ao Rio de Janeiro (onde o autor morou enquanto jovem adulto) e às memórias de seus avós sobre a migração para a Amazônia nos tempos de seca.

Para celebrar o mês do orgulho, acontece o Festival For Rainbow oferece uma programação diversificada a ser exibida pelo canal do projeto no YouTube. O festival acontece entre os dias 24 e 28 de junho. Para mais informações, entrar na conta de instagram @festivalforrainbow.

Texto: Cesar Rodrigues  (3° semestre -Jornalismo/UNI7) 

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