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JORNALISMO AMBIENTAL: E como anda a pauta do amanhã?

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Dois jornalistas, um vereador ativista e uma cidade que clama por uma problematização ambiental

Logo nas primeiras aulas de um curso de jornalismo termos como deadline, lead, fechamento e tantos outros que nos remetem a urgência da profissão começam a fazer sentido. O ato de reportar um fato está, na maioria dos casos, ligado ao agora. Por isso, na pressa das redações, milhares de possibilidades de narrativas se perdem. Outras, vão por água abaixo, cedendo a pressões e interesses econômicos que sustentam os grandes grupos.

A questão ambiental é uma dessas áreas. Restrita a colunas, blogs e matérias perenes, a exceção do jornal O Estado com o caderno Estado Verde, a cobertura sobre a temática segue uma linha quase descritiva e sem um aprofundamento maior. Nesse cenário, fomos ouvir dois jornalistas, cada um em seu grupo, e o vereador ativista ambiental que a mais de 20 anos volta os olhos da cidade para a urgência verde.

Anda perdida com os pauteiros do hoje?

Parque do Cocó local de descoberta do jornalista Demitri Tulio para suas reportagens ambientais. Foto - Leilane Freitas

Parque do Cocó local de descoberta do jornalista Demitri Tulio para suas reportagens ambientais. Foto – Leilane Freitas

Foi como um hobby que o jornalista Demitri Túlio, do jornal O Povo, começou a atuar de maneira mais contundente no jornalismo ambiental. Mesmo tendo uma carreira que se direcionava para esse viés, com algumas matérias sobre o assunto, como no caso de uma reportagem sobre o semiárido cearense, foi com a pauta urgente do pulmão da cidade que o jornalista iniciou um projeto pessoal que não precisou dos grandes veículos para ser viabilizado.

O jornalista foi editor de Cidades por alguns anos e, desde 1996, atua nesse campo, seja como editor de Cidade, que foi por ano, ou em seu perfil no Instagram. Ele vê certo avanço nas discussões. Tem por exemplo a Floresta do Cocó, como ele faz questão de chamar. “Na cabeça das pessoas o Cocó era um monte mato”.

Demitri acredita que, para além de uma proibição dos veículos, existe uma falta de sensibilidade dos jornalistas e defende um caderno de meio ambiente.

“Não me sinto só nesse campo de cobertura, mas acredito que falta sensibilidade e isso não está relacionado a um ou outro jornalista. Esse “pauteiro” no Ceará, ele poderia ser mais sensível ao meio ambiente, até porque ele está inserido na cidade. Acho que os jornais pecam porque pulverizam essa pauta”.

Às voltas com um público muito específico?

 Capa do caderno Semiárido Conviver&Produzir do Jonal Diário do Nordeste - Arquivo

Capa do caderno Semiárido Conviver&Produzir do Jonal Diário do Nordeste – Arquivo

 
Um dos grandes dilemas que envolvem maior profundidade nas temáticas ambientais por parte dos jornais é o público que consumiria esse tipo de informação. Maristela Crispim, editora do caderno Regional do Diário do Nordeste e responsável pelo blog “Gestão Ambiental” e de uma coluna semanal sobre meio ambiente na versão impressa do DN, esclarece: “Meu blog sobre meio ambiente não é o que tem maior audiência no portal, mas é um dos que as pessoas passam mais tempo”.

Com vivência de assessoria na Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Maristela percebeu que esse era um campo de atuação importante, pela falta de proximidade do grande público com a questão. Em seus textos e projetos, a jornalista busca aproximar as pessoas da pauta e acredita que o melhor caminho para a cobertura ganhar volume seria integrá-la ao dia a dia, contextualizando que pequenas coisas, como deslizamentos, por exemplo, estão ligadas à questão ambiental.

A jornalista esclarece que um grande desafio é selecionar o que é publicado, uma vez que muitas empresas se utilizam do marketing envolvido na questão ambiental. “A gente sempre diz: ainda é só o projeto, deixa que a gente dá quando for algo maior, quando tiver uma conclusão”.

Pauta do amanhã restrita ao senso comum?
O ex-vereador e professor João Alfredo é um ativista de longa data da causa ambiental. Ele acredita que não se pode falar sobre meio ambiente sem citar dois grandes marcos: a Eco 92 e o ano de 2007, quando se aprofundaram os debates sobre os males provocados pelo efeito estufa.

João Alfredo vê com bons olhos as pequenas resistências na mídia cearense sobre o assunto e acredita que o jornalismo pode ser um grande parceiro no ativismo ambiental. “O pensamento dominante, capitalista e desenvolvimentista acaba penetrando na imprensa. As notícias aparecem desconectadas. O mesmo jornal pode tratar de crise hídrica e do problema da seca e fazer um editorial saudando o governador que traz uma refinaria para o estado do Ceará. o que se salvam são jornalistas que têm tido uma grande capacidade de colocar esse debate de uma maneira mais completa, mas é muito pouco”.

 Vereador João Alfredo em seu gabinete na Câmara Municipal de Fortaleza Foto - Leilane Freitas

Vereador João Alfredo em seu gabinete na Câmara Municipal de Fortaleza. Foto – Leilane Freitas

Natural ao ativismo e a imprensa é o Parque do Cocó, mas estaríamos limitando a questão apenas nesse foco? “Eu concordo com isso, mas temos que entender que é o movimento antigo e a bacia do Cocó integra a cidade toda. Isso, fora do peso que tem por está na área mais desenvolvida da cidade, mas concordo que as questões são bem maiores que o Cocó em si”.

João acredita que a cobertura é insuficiente e que o problema, como um todo, está no modelo de desenvolvimento, o que acaba guiando o discurso da imprensa e da sociedade. O vereador cita a questão das energias renováveis para evidenciar o nosso modelo de desenvolvimento que ainda não se abriu para o novo.

Mas a pauta de amanhã já é o hoje!
Em comum os três entrevistados trazem uma reflexão. Estaria mesmo a pauta de amanhã presa em hábitos de uma sociedade que não se sente parte do meio-ambiente? Nesse sentido, o papel da mídia não seria educar? E mais, até quando esse amanhã estará distante?

A pauta do amanhã já é hoje. E é um hoje que não espera e que clama por espaço. O Cocó, o Mangue, o Rio Ceará, a Sabiaguaba são meio-ambiente, mas são política, economia, cidade e interior. São notícia.

Felipe Gomes
7° Semestre

Leilane Freitas
7° Semestre

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