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Geração Z: Desestimulados, jovens brasileiros pensam em deixar país

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De acordo com pesquisa realizada e divulgada pelo Datafolha, 76% dos jovens brasileiros dizem ter muita ou alguma vontade de sair do país

Foto: Passaportes. (Fonte: Vânia Tajra)

Pesquisa realizada com jovens brasileiros e divulgada pelo Datafolha, em 15 de outubro de 2022, aponta que 76% dos jovens dizem ter muita ou alguma vontade de deixar definitivamente o Brasil. Um dos motivos apontados na pesquisa é o alto pessimismo com relação ao país, embora 67% dos jovens entre 15 e 29 anos esperem que sua situação pessoal esteja muito melhor daqui a dez anos.  

Segundo dados da pesquisa, quanto mais jovem é o brasileiro, maior é o desejo de deixar o país. Pontos como a estabilidade financeira/ficarem ricos (20%), compra de imóvel (16%),  boa formação e término dos estudos (8%), são mencionados na pesquisa.

Dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) apontam que a taxa de evasão escolar entre 2020 e 2021 passou de 2,3%  para 5,6%.

Aqui no Ceará, a estudante do 1º semestre de Jornalismo da UNI7, Graziele Aldir de Brito Moura, diz que tem a vontade de ir para fora do Brasil para ter a oportunidade de conhecer uma nova cultura, ter maior valorização profissional, assim como o acesso ao lazer, segurança e qualidade de vida. A universitária aponta que, diferente do Brasil, outros países podem oferecer uma melhor qualidade de vida, dar mais oportunidades de trabalho e, também, a valorização da cultura.

Na pesquisa, jovens brasileiros estão divididos entre os que pensam que os estudos são a única maneira de se ter acréscimo de renda (19%), os que dizem que só podem obter o que querem pelo trabalho (50%), e a maioria, que pensa que os estudos não são a única forma de se obter mais renda (67%).

Para o Banco Mundial, o maior e mais conhecido banco de desenvolvimento no mundo, cada ano adicional de estudo no Brasil reflete em um valor 15% maior na renda futura, acima dos 8% na média global. Essa diferença acontece porque no Brasil há menos adultos qualificados.

Júlia Santos, estudante do 3º semestre de Publicidade e Propaganda, diz ter vontade de sair do país e ir para o Canadá. A universitária diz que o motivo por trás desse pensamento são as oportunidades e qualidade de vida que o país oferece. Para Júlia “os salários são maiores, tem mais segurança e oportunidade”. 

Foto: Jovem pensando em sair do país. (Fonte: Arte de Bernardo Barros)

O doutor em sociologia, professor e publicitário, Márcio Benevides, enxerga o Brasil (levando em conta a visão social do país) como uma “multiplicidade de dimensões continentais e milagre socioantropológico que prossegue se fragmentando ante a dogmas e ideologias, onde nós somos narcotizados e recolonizados pelas mídias digitais internacionais, que vendem tudo a todos a preços variados”. 

Quando questionado sobre o que leva o jovem brasileiro a querer deixar o país, Márcio aponta para diversos motivos, além de conhecer outras culturas e as poucas vagas no mercado de trabalho (que geralmente exige uma experiência que o jovem ainda não adquiriu ou que está adquirindo), como uma família cuja sociabilidade seja abusiva, amarras do fanatismo pseudorreligioso, a (re)descoberta das sexualidades, cursos por intercâmbio, imigração em busca de possibilidades minúsculas ou inexistentes no Brasil, namoro a distância, crises socioeconômicas, conflitos e guerras, dentre outros. 

O sociólogo aponta que, para manter o brasileiro no país, há fatores como melhorar o nível da educação, vagas em trabalhos sadios e éticos, garantia à saúde e segurança e também poder aquisitivo para a diversão com lazeres que também ajudam a produzir subjetividades. “Este pacote básico de dignidade seria efetivo e formativo se pudesse ser garantido a todos os jovens brasileiros com equidade e qualidade, sobretudo aos mais carentes de afeto e de cultura”, disse. 

Além disso, Márcio Benevides afirma que a migração de jovens brasileiros para fora do país pode causar um impacto negativo, sobretudo na economia e na cultura. O sociólogo aponta que esses impactos só poderiam ser medidos sociologicamente com amostras (qualitativas e estatísticas) amplas em um prazo médio, “mas é óbvio que nosso País se empobrece polissemicamente com a partida de nossos promissores jovens”, afirmou. 

Sendo assim, a estudante do 1º semestre de Publicidade e Propaganda, Adria Nascimento de Araújo, não tem vontade de morar fora do país. Adria diz que, quando criança, tinha vontade pois “via aquele pessoal que viajava para aqueles lugares frios, aquelas roupas muito chiques, muito elegantes, justamente por causa do frio. Eu achava aquilo muito chique. E, hoje em dia, eu não tenho vontade de morar fora do Brasil porque eu amo o meu país, eu nasci aqui e quero morar aqui para o resto da minha vida”. 

A universitária diz que o motivo é um sentimento de patriotismo e, também, por causa da arquitetura e beleza locais que não podem ser encontradas em outros países. Ao falar sobre o que outros países tem que o Brasil não oferece, Adria diz que, dependendo do país, ela observa que as pessoas têm uma qualidade de vida mais fácil de ser alcançada mas “o Brasil tem qualidade de vida sim, só que é uma coisa que é muito distante, é algo mais difícil. Ou requer um enorme sacrifício da pessoa ou então a pessoa tem que ter a sorte de, ou ganhar na mega sena para bancar essa qualidade de vida ou descender, ter parentesco, ser herdeiro de alguém com muito dinheiro”. A estudante deixa claro que qualidade de vida não é somente ter dinheiro mas saber administrá-lo, pois não adianta a pessoa ser alguém com a mente no lugar, que não deixa o dinheiro “manipular”, e não ter dinheiro para, por exemplo, pagar um plano de saúde ou para comprar alimentos saudáveis.

Essa é a mesma situação do estudante do 9º semestre de direito Victor Nascimento, que afirma ter tido a vontade de morar fora quando adolescente. Atualmente, Victor já não nutre mais tal desejo. Ele afirma que, no passado, acreditava que arriscar a vida em outro país era a solução para vários problemas financeiros, mas hoje vê que era apostar em um cenário incerto (principalmente, quando a pessoa já tem estabilidade financeira). O estudante, no entanto, acredita que o motivo por trás de tantos sonharem em morar fora seja porque outros países oferecem “um recomeço, uma oportunidade de entrar em desafios onde há um otimismo quanto a uma melhora de vida. Provavelmente as pessoas são apaixonadas por esse sentimento, esse otimismo, que faz com que sonhem com dias melhores, especialmente no cenário econômico”. 

No levantamento feito pelo Datafolha, foram ouvidos mil jovens entre 15 e 29 anos em 12 das maiores capitais do país. A pesquisa, feita em 20 e 21 de julho de 2022, tem margem de erro de 3 pontos percentuais.

Texto: Ana Karoline, Bernardo Barros e Herbert Seabra (Jornalismo / UNI7)

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