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FORTALEZA 291: Um enredo contado pela artista transexual Alícia Pietá

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A cidade que é palco de muitas das histórias vivenciadas por uma pessoa apaixonada por dança, teatro, música e cinema

Terra do Sol, “Capital Alencarina”, inspiração de um dos mais bonitos romances da literatura – Iracema, de José de Alencar. Foram nessas terras que a atriz, maquiadora e cabeleireira, Alicia Pietá, 31 anos, nasceu, cresceu e se reconheceu. A atriz é a prova viva do que pode ser chamado de dom. A graduação em Artes Cênicas, pelo Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), foi apenas um aperfeiçoamento do que ela já tirava de letra: a arte!

“Ali eu me encontrei, foi uma descoberta, tanto profissional como pessoal. Até hoje costumo dizer que a arte é transformadora”, diz Alicia ao falar do Coletivo As Travestidas, do qual faz parte desde 2008. As Travestidas retrata o universo de travestis e transformistas no mundo, e, em todas as suas apresentações, levanta muitas questões sobre o assunto. Apesar de fazer turnês em outras cidades e estados, os fortalezenses ainda são o maior público do grupo, lotando os teatros da capital cearense.

Os espetáculos normalmente acontecem no Teatro Dragão do Mar, onde Alicia diz se sentir “parte da cidade, pois possui uma programação cultural que atende a todos os públicos”. Moradora do Montese, a atriz simpatiza com outro bairro – o Benfica. “Um local mais jovem, mais aberto e diversificado”. A artista conta que apesar de não frequentar muito as praias de Fortaleza, a beleza delas é característica forte de Fortaleza.

“Mas, o que eu mais gosto em Fortaleza são as pessoas”, diz Alicia ao criar um contraponto na afirmação. “Nós temos esse lado gaiato do cearense, e, ao mesmo tempo em que esse jeito aproxima, ele também afasta, pois pode ser carregado de preconceito, por exemplo. Se o cearense faz piada até com ele mesmo, com a sua própria desgraça, imagina com a gente (risos)”.

E acrescenta: “Mais do que no Brasil, no Nordeste a gente percebe um preconceito muito forte, devido ao regionalismo, à religiosidade. Então, nesse contexto, acho que há preconceito sim, há ignorância sim, há machismo sim!”, diz Alicia, em tom de manifestação.

“A cidade ideal para mim seria com mais atividades culturais populares. Um local que realmente integra, que é viva culturalmente e que se valoriza enquanto cidade” – Alicia Pietá

 A Fortaleza de Alícia

A cidade de Alícia diz muito sobre a sua essência, as suas vivências e sobre o seu dom, como dito nas primeiras linhas deste enredo. A sua Fortaleza fala de arte, de música, de festividade, de experiências. “A cidade ideal para mim seria com mais atividades culturais populares e não elitistas. Um local que realmente integra, que é viva culturalmente e que se valoriza enquanto cidade”, conclui.

Alicia finaliza a conversa falando sobre ser trans em Fortaleza. Diz que “incomoda as pessoas te olharem de cima a baixo, em bancos, supermercados”. Fortaleza não é a pior cidade no quesito preconceito, mas ela ainda sofre com o olhar torto e as “piadinhas” que ouve nas ruas.

Educação. Essa foi a palavra que deu um ponto final na conversa. Educação é o que falta para Fortaleza ser uma cidade ideal, sem preconceito, aos olhos de Alicia Pietá.

 

Isabella Vasconcelos

8º semestre

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