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Fortaleza 291: Impressões da cidade na visão de um multiartista cearense

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Totonho Laprovitera faz um retrato histórico e poético sobre as mudanças e transformações ao longo dos anos

“Ainda dizem que Fortaleza não tem história. Pode não ter memória, mas história tem. E tem é muita”. É com essa frase que o arquiteto, urbanista, artista plástico, poeta e compositor Francisco Antônio Laprovitera Teixeira, 59, conhecido como “Totonho”, analisa Fortaleza.

De família materna italiana, sua relação com a cidade se iniciou a partir da chegada de seus avós ao Brasil, após a primeira guerra mundial, influenciados pelas coisas boas que ouviam falar do país. “Os meus avós se casaram e estavam buscando novos horizontes, e ouviam falar do Brasil como um paraíso, onde não havia tremores de terra, nem guerra. Um lugar de muita paz”. Totonho costuma dizer que tem uma visão de Fortaleza contada por estrangeiros. E outra, oriunda de sua família paterna e tradicional na cidade.

O artista, com seu olhar peculiar sobre Fortaleza, relata de forma histórica como era a cidade dos nativos: muito pequena, aconchegante, afetuosa com seus pares. Todos se conheciam e as desigualdades não existiam. A influência da cultura francesa se fazia notar na elegância dos ternos, no requinte do champanhe e no brilho dos lustres. Mas, perdeu parte de sua nobreza com a inserção da cultura americana pós-guerra. “Não acho que foi um bom negócio, não. Pelo menos a meu ver, porque nós trocamos o champanhe pela Coca-Cola”.

“As pessoas têm o péssimo hábito de não cuidar do nosso patrimônio. Muitas vezes, você salva com a mudança de uso” – Totonho Laprovitera

De memória singular, Totonho lembra com carinho de sua infância na década de 1960. Costumava sair de seu bairro, Aldeota, e ir de ônibus até a Praça dos Leões. Em seguida, caminhava em direção a Praça do Ferreira para comprar jornal na ‘Banca do Bodinho’. “As pessoas que passavam, se impressionavam comigo lendo jornal. Comprava para ler a página de esportes. Depois, recortava as figurinhas para colocar no time de botão”. Já adolescente, ia para as tertúlias (reunião de familiares e amigos) com os amigos. “Voltava com os amigos a pé. Só tinha medo de uma coisa: mordida de cachorro, porque não tinha violência aqui”. Época em que as divergências entre as pessoas não era motivo de conflito. “Era um espaço onde as divergências não significavam agressões, muita gente se amava e cada um tinha seu ponto de vista e defendia. Seria um grande resgate do fortalezense, o afeto que a gente sempre teve”.

O apego aos atributos tradicionais da cidade é uma das inspirações de Totonho

 

O arquiteto tem forte apego às coisas da terra, à valorização do patrimônio material e imaterial, ao cuidado com a história de sua cidade. “As pessoas têm o péssimo hábito de não cuidar do nosso patrimônio. Muitas vezes, você salva com a mudança de uso” – requalificação de espaços urbanos abandonados. Amante da boemia, o artista plástico sempre foi afeito à vida noturna. “A boemia eu entendo como uma grande virtude do ser humano. Eu até brinco: não conheço boêmio mal carácter”.

Hoje, ele enxerga várias Fortalezas numa mesma cidade, devido à transformação cultural e estrutural ao longo dos anos. “Posso conhecer muito daqui, mas tem região que se você me soltar eu me perco, porque mudou. A Fortaleza de antes não é mais a mesma”.

 

Vida artística

Laprovitera iniciou vida artista quando criança, desenhando em folhas de caderno. Foi descoberto, ainda muito jovem, pela artista plástica Heloysa Juaçaba, que o lançou no mundo artístico e lhe deu a oportunidade de participar de exposições coletivas na Casa de Cultura Raimundo Cela. Também foi referendado pelo renomado artista plástico Aldemir Martins. “Eles me incentivaram a seguir carreira, mas ainda tinha medo de ser artista plástico, mas produzia muito, sempre produzi muito”.

Desde então, foi desenvolvendo outras habilidades: desenhando cartum, escrevendo livro, poesias, entre outros. Ainda pretende lançar um trabalho com fotos do que ele chama de “cena urbana”. Por enquanto, capta e publica no instagram, imagens de pessoas comuns e suas reações no dia a dia.

 

Camila Vasconcelos

8º Semestre

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