Entre jornalismo e literatura, a consciência crítica
“Uma das coisas que me levaram a fazer jornalismo: o super-homem” disse, descontraidamente, o jornalista e professor Ronaldo Salgado ao falar sobre os motivos que, quando garoto, o fizeram sonhar com o curso de Jornalismo. Para quem desconhece a história do super-herói, quando não estava em ação, ele era repórter do jornal fictício Planeta Diário.
A citação foi feita durante palestra no evento Café Literário, que ocorreu na Faculdade 7 de Setembro (FA7), na manhã do último sábado (08). O evento foi organizado pelas professoras Kátia Patrocínio, da disciplina de Jornalismo Literário, e Edma Góis, de Planejamento e Edição de Revistas.
Com o tema “Dinâmica de saberes e fazeres: as relações entre jornalismo e literatura”, o Café Literário teve como convidado de honra uma das personalidades mais fortes do jornalismo cearense: Ronaldo Salgado. Mais de vinte anos de magistério na Universidade Federal do Ceará (UFC) somados a outros mais de exercício da profissão, transformam Salgado em uma referência para estudantes de jornalismo.
Antes de dar início à palestra, porém, Salgado sentiu a necessidade de esclarecer aos presentes: “Jornalismo é jornalismo e literatura é literatura. Não podemos confundir isso”. De acordo com o professor, contudo, tanto o jornalismo influencia a literatura quanto a literatura influencia o jornalismo, principalmente por ambos tratarem de narrativas que possuem elementos semelhantes como enredo, personagens, espaço, tempo e foco.
Além disso, Salgado afirma que jornalismo literário é “tudo o que vem antes do jornalismo comercial”, ou seja, tudo o que era produzido intuitivamente pelos repórteres, cronistas, escritores, dentre outros, e não o que é determinado pela lógica empresarial, como pode-se ver no jornalismo dito contemporâneo. “Esse caráter (comercial) é o que ameaça o jornalismo”, pontua o professor.
É por isso que, para Ronaldo Salgado, o jornalismo interpretativo se faz tão importante. “O que está em jogo é a nossa capacidade de simbolizar as coisas”. E acrescenta: “Não se faz jornalismo sem consciência crítica”.
Na oportunidade, os presentes também discutiram outros assuntos com o professor, como: possibilidade de criar produtos como revista, jornal, documentário e livro-reportagem para o trabalho de conclusão do curso de Jornalismo; crise da imprensa na Argentina; ascensão do jornalismo “sangrento”;regulação da mídia; especulações sobre o fim do jornal impresso; censura, dentre outros.
Para encerrar uma manhã de intenso debate construtivo, foram distribuídos exemplares do livro “A Crônica Reporteira de João do Rio”, de autoria do professor Ronaldo Salgado. O livro trata da contextualização do jornalismo literário a partir do exemplo de João do Rio, um dos precursores da estética literária em jornais brasileiros.
(Luana Severo)