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Dia do Disco: como vinil conquista entusiastas e liga diferentes gerações

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Em alusão ao Dia do Disco, comemorado neste sábado (20), o Quinto Andar conversou com colecionadores de diferentes gerações que são ligados pela mesma paixão: o vinil

Texto: Emily Menezes (7° semestre/UNI7) e Yuri Silva (8° semestre/UNI7)

O vinil deve ser retirado com cuidado da capa, segurado pelas bordas. Ao fixá-lo também com cuidado no prato da vitrola, o dono do aparelho deve mover o braço fonográfico gentilmente, posicionando a agulha sobre as ranhuras do LP, onde estão impressas as ondas sonoras.

Deve-se ainda configurar os controles de reprodução, como os ajustes de velocidade e tonalidade. O passo a passo é seguido à risca pelos iniciantes do mundo dos vinis, estes reproduzidos de forma mais complexa se comparados aos serviços de “streaming” que dominam as mídias de reprodução musical atualmente.

Mas é quando se aperta o botão de play que a experiência se transforma. “É uma sensação única, existe um ritual legal. No meu caso, eu escolho o disco e tiro ele. Cheiro a capa, passo uma flanela na mídia”, explica o vendedor Carlos Edmar Pontes, de 58 anos, sobre a escolha do próximo LP que irá tocar em sua vitrola.  

Edmar Pontes é dono da “Edmar Discos”, loja inspirada em seu amor pela mídia, e conhece esse passo a passo como ninguém, tão comum para ele quanto o clique em aplicativos de reprodução de música. “Há um lance muito interessante comigo, que já escuto música desde a década de 1970: quando vou ouvir uma faixa no meio do disco e não coloco o braço da vitrola no espaço certo, que é aquela linha entre as faixas, eu volto até acertar a faixa, sem perder a introdução da música”, detalha o entusiasta.  

Edmar Pontes realizando a venda de vinis da Feira Mais Vinil, que ocorreu em janeiro de 2024, na Estação das Artes (Imagens: Redes Sociais)

O amor compartilhado pelos discos de vinil, que deu origem ao Dia do Disco, em 1978, comemorado todo 20 de abril, é tema de feiras e eventos culturais que reúne colecionadores de todas as gerações. Um deles é o jornalista Daniel de Rezende Damasceno, de 29 anos.

“Eu não peguei a fase áurea em que as pessoas compravam discos mega barato. Eu já comprei quando a moda estava ressurgindo, então ainda consegui pegar bons discos a preços mega baratos. E sempre quando têm feiras, coisas do tipo, eu participo, porque é uma forma de conhecer o passado, de conhecer uma outra forma de escutar as músicas”, afirma o jornalista. 

O ressurgimento dos discos de vinil é o nome dado ao aumento de vendas do formato nos últimos anos. De acordo com o relatório da Associação da Indústria Fonográfica dos Estados Unidos (RIAA, sigla em inglês), em 2023, pela segunda vez desde 1987, a venda dos LPs no país foi maior que a venda dos CDs.

O primeiro ano em que isso aconteceu foi em 2022. O relatório aponta ainda a tendência de crescimento das vendas: ano passado, foram vendidas 43 milhões de cópias, superando a marca de 41 milhões registrada no ano anterior. Em 1988, os CDs, bem menores em tamanho e reproduzidos em aparelhos menos complexos, superou os vinis e deu início à era de formatos cada vez mais compactos para a reprodução de músicas. 

“Minha mãe tinha vários discos em casa e, um aparelho três em um encostado, os discos eram empoeirados. Como eu já nasci indo para a segunda metade dos anos 90, o disco de vinil já era uma mídia decadente. Eu vivi, na verdade, a era do CD. Existia um grande aparelho em casa que tocava músicas em CD, que na verdade eu tenho até hoje, então o meu primeiro contato [com o vinil] já foi como uma mídia obsoleta. Foi só quando eu me tornei adolescente e passei a gostar um pouco mais de música que eles entraram verdadeiramente em minha vida”, conta Daniel de Rezende Damasceno. 

Início da paixão 

Colecionador Edmar Pontes (Imagem: Arquivo Pessoal)

Edmar Pontes (na imagem acima) mostra dois discos de sua coleção: à esquerda, está o “A new world record”, da banda Electric Light Orchestra (ELO); à direita, está o LP “The Beatles”, mais conhecido como “Beatles’65 brasileiro”, que foi o lançamento nacional do álbum “Beatles for sale”.

“Foi numa tertúlia, lá pelos anos de 1975 ou 76. Meu irmão mais velho saia e tinha que me levar se não ele não ia”, relembra Carlos Edmar, ao contar carinho sobre seu primeiro contato com um LP. “Então, na casa do anfitrião, eu, sentado na sala, vi os álbuns azul e vermelho dos Beatles. Foi amor à primeira vista”, diz o vendedor, citando as primeiras coletâneas a reunirem toda a trajetória da banda britânica.

Os quatro cavaleiros de Liverpool também marcaram presença em outro momento histórico para a paixão do comerciante: seu primeiro disco. “Foi um compacto que trazia no Lado A a faixa “Ob-La-Di, Ob-La-Da”, e no Lado B, “While My Guitar Gently Weeps”. Essa por sinal foi a música que eu mais ouvi na vida”, conclui Carlos Edmar. 

“While my guitar gently weeps”, música que Carlos Edmar mais ouviu em sua vida. Artista: The Beatles.

Crescendo na era dos CDs, a adesão do jornalista Daniel de Rezende Damasceno aos vinis foi diferente. “Eu tinha uma internet muito ruim em casa, não conseguia fazer download de músicas e tinha um aparelho de micro system muito bom, com som excelente, que não rodava discos e CDs gravados, então passei a comprar os CDs em casa. Foi assim que comecei a comprar CDs e discos. Os discos comecei a comprar mais por uma questão decorativa. O primeiro vinil que eu comprei, se não estou enganado, foi o “Think as a Brick”, do Jethro Tull, e logo depois comprei o “Selling England by the Pound”, do Genesis. Como eu disse, eu tinha muita vontade de escutar música. Meus pais não davam dinheiro para comprar o MP3”, relembra. 

“I know what I like (in your wardrobe)”, faixa do álbum “Selling England by the pound”, da banda Genesis. O disco foi um dos primeiros da coleção de Daniel de Rezende Damasceno.

“Outro ponto de virada foi quando eu entrei na faculdade. Tudo tinha mudado, a tecnologia havia mudado. Na faculdade, eu já tinha acesso à música onde quer que eu fosse, mas eu fui percebendo que a música foi se tornando cada vez mais apenas uma trilha sonora do meu cotidiano e não aquela fruição ritualística que eu tinha na adolescência. E isso foi me irritando bastante. Quando comecei a estagiar, eu pensei “por que não voltar a escutar mídia física? Por que não parar uma ou duas horas de um dia para voltar a escutar apenas música?”, destaca o jornalista. 

Daniel de Rezende Damasceno (Imagem: Arquivo Pessoal)

De todas as perguntas sobre a história de Carlos Edmar e de Daniel Rezende com os discos, a mais difícil é sobre qual é o favorito. O vendedor resume em uma frase: “Não existe disco favorito, existem discos favoritos”. O mesmo pensamento é compartilhado pelo jornalista, que justifica a resposta afirmando que há discos para momentos e sensações diferentes. Como exemplos de LPs que marcaram sua vida, ele cita dois que carregam o nome de duas cores: o melancólico “Blue” (azul, em inglês), da cantora-compositora Joni Mitchel, e “Red” (vermelho, em inglês), da banda de rock progressivo King Crimson, que flerta neste álbum com uma sonoridade mais agressiva que os discos anteriores. 

“Case of you”, música do álbum “Blue”, de Joni Mitchell, um dos discos preferidos de Daniel.

Música no Brasil 
No início de 2024, a entidade Pró-Música, principal representante da indústria fonográfica brasileira, publicou relatório sobre o consumo de música no País. De acordo com o levantamento, houve crescimento do mercado físico. Os vinis, por exemplo, tiveram um aumento nas vendas de 136,2% em relação a 2022, se tornando a mídia física de reprodução musical mais vendida.  

Nos cenários nacional e internacional, as plataformas de streaming continuam dominando a indústria fonográfica. Sobre as diferenças nos formatos, Edmar Pontes, após detalhar a experiência de ouvir um disco, descrita no início deste texto, comenta que “no streaming, você faz a pesquisa do artista e escolhe a playlist ou monta uma, e pronto, é bem mecânico”. 

“Eu não considero que o som do vinil seja melhor. Muito longe disso, na verdade. Entretanto, o que diferencia é o ritual. É você chegar em casa, pode desligar seu WhatsApp, seu Instagram, o TikTok, fechar as luzes, poder sentar-se em sua poltrona ou seu sofá, ter um bom aparelho de som, e colocar aquele disco que você tanto espera, que você tanto gosta, que há uma conexão emotiva e afetiva com ele, e passar uma hora escutando, se deleitando com as ondas sonoras”, comenta o jornalista Daniel de Rezende Damasceno.

Redes sociais:

Loja Edmar Discos (@discosedmar)

Daniel de Rezende Damasceno (@danielrezended)

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