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Os desafios dos biógrafos brasileiros

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Questões, como a legislação brasileira e a liberdade de expressão, dificultam a publicação de biografias. Escritores buscam medidas para reverter essa realidade

A polêmica sobre biografias não autorizadas está em evidência. No início deste mês, a produtora Paula Lavigne e outros membros do grupo Procure Saber, tais como Caetano Veloso, Chico Buarque, Milton Nascimento, Gilberto Gil, Djavan e Erasmo Carlos, afirmaram em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo que estão se mobilizando para impedir as mudanças na legislação. Eles querem que a publicação de biografias só seja feita após a autorização dos biografados. Em 2006, o jornalista, professor e biógrafo Paulo César de Araújo, teve sua obra Roberto Carlos em Detalhes, retirada de circulação. O cantor proibiu a comercialização de fatos da sua vida pessoal.

Para discutir esse tema, a 8ª Conferência Global de Jornalismo Investigativo, promoveu o painel “Marighella e Vlado Herzog: Biógrafos de Verdade”, que contou com a presença dos jornalistas e biógrafos Mário Magalhães e Audálio Dantas.

O estudante de jornalismo da Fa7, Iury Costa, conversa com Audálio Dantas sobre os desafios dos biógrafos. (Foto: Liane Braga)

O estudante de jornalismo da Fa7, Iury Costa, conversa com Audálio Dantas sobre os desafios dos biógrafos. (Foto: Liane Braga)

Para Mário Magalhães, autor da biografia de Carlos Marighella, guerrilheiro que lutou contra a ditadura militar, as condições que a legislação oferece para a publicação de biografias sobre figuras públicas são lamentáveis. “Para fazer o meu trabalho, precisei da autorização da mulher do Marighella. Mas nem sempre os familiares ou o próprio biografado autorizam a pesquisa. É preciso entender que a história do biografado, quando se trata de uma figura pública, não pertence apenas a ele, pertence à sociedade, ao Brasil e nós temos o dever de saber. O Estado não pode proibir que uma história de projeção pública seja publicada. Isso significa perder história”, afirmou Magalhães, criticando a legislação, que não permite que se escreva uma biografia que atinja a moral da pessoa.

Audálio Dantas, autor da biografia do jornalista e militante do Partido Comunista Brasileiro, Vlado Herzog, falou sobre as dificuldades de ser biógrafo no Brasil. “O trabalho para escrever uma biografia profunda e detalhista dura anos. É preciso dedicação. Conseguir uma boa editora também é importante”, disse.

Segundo ele, 10% do valor arrecadado com as vendas são destinados aos familiares e empresários. “Isso é uma afronta à liberdade de expressão”, criticou o jornalista, que antes de escrever “As duas guerras de Vlado Herzog”, precisou ir ao Ministério da Justiça pedir autorização para pesquisar no Arquivo Nacional, “Quando cheguei lá, apresentei a autorização da família. Eles não aceitaram e disseram que eu precisava do atestado de óbito. Disse que o atestado era um documento falso, pois sabemos que o Vlado não se matou. Ele foi torturado e morto. Então, tive de ir ao Ministério da Justiça para conseguir autorização”, revelou Dantas.

Quem são eles?

Mário Magalhães é carioca, 49 anos, jornalista do UOL. Foi ombudsman do jornal Folha de S.Paulo por um ano e autor do livro-reportagem O Narcotráfico (Publifolha-2000).

Audálio Dantas é alagoano, 84 anos, e foi o primeiro presidente eleito por voto direto da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), em 1983. Em 1978, foi eleito deputado federal pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Em 1981, recebeu o Prêmio de Defesa dos Direitos Humanos da ONU. Ele já escreveu mais de dez livros, entre eles O Menino Lula, pela Editora Ediouro, e As Duas Guerras de Vlado Herzog (Civilização Brasileira).

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