CULTURA: Protesto bem-humorado elege bode vereador
Eleito há cem anos, o Bode Ioiô tornou-se símbolo da cultura cearense.

Há diversas formas de realizar um protesto político, mas em 1922, a população de Fortaleza decidiu, através do bom humor, eleger um bode para vereador do município. Apesar de não tomar posse do cargo, sua eleição tornou-se um episódio folclórico na história da capital cearense. No marco do centenário de sua eleição, o Bode Ioiô recebeu um museu em sua homenagem, na Cidade da Criança, localizada no Centro de Fortaleza.
O museu do Bode Ioiô conta com um acervo de artesanatos, cordéis, fotografias e demais homenagens ao bode vereador. Para o turismólogo, educador e idealizador do museu, Gerson Linhares, o espaço é uma contribuição cultural importante para a educação patrimonial do estado. “Através do museu a gente dá esse olhar para a cultura popular. O museu do Bode Ioiô veio para contribuir com isso e fazer com que as crianças venham conhecer a história da cidade através desse personagem popular”, afirma.
Inaugurado no dia 24 de agosto de 2022, o Museu do Bode Ioiô é divido em três etapas que contam a história do personagem: a primeira etapa retrata o sertão, onde é narrada a origem do Bode Ioiô e a importância dos caprinos para economia local; na segunda etapa, conta-se as histórias e curiosidades do período em que Ioiô ganhou fama na cidade de Fortaleza; por último, Ioiô é apresentado como destaque nacional através da homenagem que o bode vereador recebeu no desfile de carnaval do Rio de Janeiro.
O Bode Cidadão
A chegada do Bode Ioiô na capital foi no ano de 1915 junto aos retirantes que fugiam da seca que assolava o interior do estado. Em Fortaleza, foi vendido para a empresa Rossbach Brazil Company, localizada na antiga Praia do Peixe, hoje, Praia de Iracema. Diariamente, o bode costumava se deslocar até o Centro da cidade, principalmente, até a Praça do Ferreira, localidade onde se alimentava, puxava as saias das moças e ganhava até “uma dose” de cachaça. Cotidianamente repetia esse trajeto e por essa razão, foi apelidado pelos boêmios de “Ioiô”. “O bode era visto como um cidadão cearense. Apesar do código de postura que proibia a circulação de animais na cidade, o bode circulava livremente pelas ruas de Fortaleza. Frequentava bares, cafés e até andava de bonde”, afirma Gerson Linhares.
Como forma de resposta aos males sociais resultantes da seca e do êxodo rural que assolavam a cidade de Fortaleza, um grupo de boêmios, liderados pelo advogado, poeta e escritor, Quintino Cunha, prestaram serviço de cabo eleitoral para a campanha do bode cidadão. Através da campanha e do prestígio que ele tinha entre a população de Fortaleza, em 1922, Ioiô foi o nome mais registrado nas cédulas de votação para vereador.
Foi relembrando a inusitada eleição que, no ano de 2019, a escola que pertence a elite do samba carioca, Paraíso do Tuiuti, escolheu o Bode Ioiô para ser tema de seu samba-enredo. Para Gerson Linhares, o bode ter sido destaque na Sapucaí trouxe “visibilidade em nível nacional para o personagem folclórico cearense. ”
As aventuras do Bode Ioiô fazem parte do imaginário coletivo da população de Fortaleza. Seus “causos” foram narrados por memorialistas e historiadores do estado do Ceará. O resgate histórico da figura folclórica do bode vereador contribui para manter viva a cultura popular da região, afirma o turismólogo.
A entrevista completa com o turismólogo, educador e idealizador do Museu do Bode Ioiô, Gerson Linhares, você ouve no endereço:
Serviço O Museu do Bode Ioiô fica instalado na Cidade da Criança, logradouro no Centro de Fortaleza. Com entrada franca, o museu funciona de segunda a sábado, de 9 às 17 horas. Instagram: @museudobodeioio |
Texto: Ives Natan (Jornalismo / UNI7)