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COVID-19: Em tempo de pandemia os cuidados com higiene e resíduos

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Momento é de alerta e as medidas de contenção se fazem necessárias. A mudança de hábitos é fundamental e exige o compromisso de cada cidadão para evitar a disseminação da doença

Responsável pela morte de mais de 300 mil pessoas, a pandemia do novo coronavírus assola o mundo. No Brasil, logo nos primeiros dias do mês maio foram registradas 10 mil mortes pela Covid-19. Com objetivo de esclarecer dúvidas e cuidados acerca da doença, o médico sanitarista Edenilo Baltazar e professor do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, fala nesta entrevista sobre os procedimentos com higienização, uso correto de máscaras, educação ambiental e ações do Governo Federal que mais atrapalham do que ajudam, na contramão do que a Organização Mundial da Saúde (OMS) vem pregando.

Jornal Papiro: Diariamente passa na TV os cuidados que devemos ter com nossa higiene, assim como da nossa casa e até com os alimentos. Existe algum procedimento mais eficaz na hora de higienização?

Edenilo Baltazar: Para combater a disseminação do novo coronavírus, entendo que são os que estão sendo repassados. Lavar as mãos e borrifar as compras com água e sabão, utilizar o álcool em gel, quando não tiver disponível água e sabão. Também é importante, que aquelas pessoas que necessitam sair de casa usem máscaras. Ao retornarem para casa, deixar o calçado do lado de fora, não circular com ele dentro da casa. Logo em seguida tomar banho. É importante salientar que roupas sujas devem ser colocadas em sacos para posterior lavagem.

JP: Pela grande demanda por máscaras descartáveis, passou-se a indicar a criação de máscaras de pano, feitas com materiais encontrados em casa. Ao seu ver, elas têm uma eficácia maior na proteção de quem usa? São mais ou menos indicadas do que as descartáveis? Quais os cuidados na hora de reutilizar?

EB: As máscaras cirúrgicas e a N95 possuem maior eficácia. E as máscaras de pano devem ser utilizadas no máximo por duas horas, depois disso não garantem a proteção. Então vejamos, se um trabalhador precisa realmente ir ao trabalho, o empregador deverá fornecer esse material de proteção individual. Considerando o tempo de deslocamento de ida e volta e pelo menos 8h de trabalho e mais 1 de almoço, são 6 máscaras de pano por dia para que de fato o trabalhador esteja protegido.

JP: O isolamento social, provocado pela pandemia da Covid- 19, tem mudado a forma de como as pessoas trabalham, a questão sobre higienização e impactado a economia de vários países. Mas o que chamou atenção foram as mudanças no meio-ambiente. Podemos dizer que é preciso repensar hábitos da nossa relação com o meio-ambiente?

EB: Com certeza. Durante a história da humanidade, principalmente da civilização ocidental, sempre ocorreu uma visão de que o homem é o centro de tudo e que o meio ambiente está para nos servir. Essa visão é ultrapassada. Estamos vendo diversos exemplos de como nós não somos tão importantes e nem necessários para a natureza. A qualidade do ar melhorou em muitos lugares, a poluição em rios, lagos e oceanos diminuiu. A poluição sonora também e com isso os animais ocuparam diversos espaços que não poderiam circular.

JP: O senhor acredita que essas mudanças provocadas pela pandemia vão continuar depois que passar esse período? Como avalia?

EB: Torço para que isto aconteça, mas não acredito. Falo da relação do homem com o meio ambiente. Vai voltar ao que era antes. Mas com relação ao vírus sim. Nossos hábitos irão mudar e teremos que lidar com isso por um bom tempo.

JP: Para o Ministério da Saúde a taxa ideal de isolamento social deve ser igual ou maior que 70%. Aqui no Ceará, o último índice divulgado foi de 59% podendo cair até 50% nos dias da semana. Para o senhor, o que está por trás do descumprimento das medidas de segurança?

EB: São diversos fatores. O primeiro e mais importante é que o Brasil é o único país em que não existe um comando central. O Governo Federal mais atrapalha do que ajuda. Se não fosse o protagonismo dos governadores e prefeitos a situação estaria bem pior. O discurso do presidente Jair Bolsonaro, sem partido, vai de contramão do que a OMS vem pregando. Além de outros fatores como residências pequenas que moram de 6 a mais pessoas.

Lookdown, bloqueio em inglês, é uma modalidade mais rígida do isolamento social (Imagem: Pexels)

JP: Como avalia as novas regras estabelecidas pelo Governo para combate à pandemia no Ceará? É a favor de lockdown para maior controle da situação no Estado? Essa versão mais rígida vai acarretar mais geração de resíduos?

EB: Sim. Não teremos outra solução, infelizmente. E durante o isolamento mais rígido acredito que o nível de estresse irá aumentar mais ainda. Consequentemente o consumo e geração de resíduos.

JP: De acordo com a Abrelp – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, durante o período de isolamento social a estimativa do aumento na produção de resíduos sólidos, lixo orgânico e reciclável, é de 15% a 25%. Quais atitudes podem minimizar esse impacto no ambiente?

EB: É preciso afirmar que a responsabilidade pela Educação Ambiental da população é do Estado. O art. 225 da Constituição Federal, de 1988, afirma que a Educação Ambiental deve ocorrer em todos os níveis de ensino, o que não vem acontecendo e consequentemente falta um amadurecimento por parte da população com relação a separação dos resíduos domiciliares. Aqui em Fortaleza, não possui coleta seletiva o que dificulta este processo. Avançamos em alguns tópicos por exemplo: a criação dos Ecopontos. Mas se a população não tiver educação para separar o lixo e depois levar ao ecoponto, não funciona. E com a continuação do isolamento social acaba sendo natural descontar isso em outros mecanismos, como o consumo de alimentos e bebidas alcoólicas e consequente aumento da geração de resíduos sólidos.

JP: Acerca do descarte de resíduos hospitalares, o senhor acredita que seria mais prudente haver uma coleta mais rígida?

EB: Os resíduos de Serviços de Saúde possuem uma legislação específica. São regulados pela Resolução da Diretoria Colegiada – RDC da ANVISA. Esta instituição de Estado, não de governo, vem acompanhando e monitorando bem esta situação.

Perfil – Edenilo Baltazar

Para Edenilo Baltazar, a educação ambiental tem que ser efetiva em todos os níveis de ensino (Foto: Arquivo Pessoal)

Edenilo Baltazar Barreira Filho é doutor em saúde coletiva, sanitarista e professor do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Durante sua carreira profissional ele atuou em áreas de reforma agrária por meio do projeto LUMIAR. Também fez parte da coordenação da Vigilância em Saúde Ambiental da Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza – CE.

Atualmente está engajado em projeto do Hospital Sírio-Libanês, por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (PROADI-SUS), atuando como facilitador do Curso de Especialização em Vigilância em Saúde.

Texto: Ermeson Santiago (7º semestre – Jornalismo/UNI7); Fátima Belarmino (7º semestre – Jornalismo/UNI7); Letícia Lotf ( 7º semestre – Jornalismo/UNI7); Levi Barbosa ( 8º semestre – Jornalismo/UNI7); Matheus Castro (8º semestre – Jornalismo/UNI7)

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