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O uso da câmera escondida nas reportagens

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Os jornalistas Eduardo Fasutini, André Luiz Azevedo e Fernando Molica conversaram com participantes da 8ª Conferência Global de Jornalismo Investigativo sobre os desafios do uso da câmera escondida

O uso da câmera escondida em reportagens ainda é um assunto delicado, que envolve a questão da ética jornalística. Para tratar do assunto, os jornalistas André Luiz Azevedo e Eduardo Faustini (TV Globo), além de Fernando Molica (Jornal O Dia), conversaram com cerca de 150 participantes da palestra “Reportagem com Câmera Escondida”, na 8ª Conferência Global de Jornalismo Investigativo. Durante a conversa, não foi permitido filmar ou fotografar. O registro poderia colocar a vida de Eduardo Faustini em risco.

"A infração que eu cometo, ao usar a câmera, é muito menor do que a relevância do conteúdo que estou denunciando. O interesse público é mais importante para mim”, afirmou Roberto Faustini, repórter investigativo da Rede Globo. (Foto: Imagem ilustrativa retirada da internet)

“A infração que eu cometo, ao usar a câmera, é muito menor do que a relevância do conteúdo que estou denunciando. O interesse público é mais importante para mim”, afirmou Roberto Faustini, repórter investigativo da Rede Globo. (Foto: Imagem ilustrativa retirada da internet)

André Luiz Azevedo defendeu o uso da câmera escondida pelo repórter. “Em condições extremas, quando não há alternativa, a câmera escondida é a solução para realizarmos a matéria. Sem ela, fica impossível provar o acontecimento”, disse.

Faustini concordou com colega de equipe, afirmando que, na televisão, é complicado abrir mão da ferramenta, já que é necessário ter imagens para ir ao ar. “A infração que eu cometo, ao usar a câmera, é muito menor do que a relevância do conteúdo que estou denunciando. O interesse público é mais importante para mim”, afirmou.

Durante a conversa, Faustini revelou como faz para se infiltrar e trabalhar com a câmera escondida. “Não é fácil ter que se passar por outra pessoa e se preocupar com o enquadramento da câmera ao mesmo tempo. Tenho de ter total controle sobre o meu corpo. Não posso suar, tremer. Preciso ter concentração para viver a situação e conseguir o melhor material possível”, explicou o jornalista, que já fingiu ser dentista, político, dono de posto de gasolina, caminhoneiro… Esses e outros disfarces resultaram em grandes matérias de denúncia.

Ao ser questionado sobre a punição das pessoas que denunciou, Faustini explica que o seu trabalho não é para punir os criminosos e, sim, para informar a sociedade. “Quero que todos saibam o que se passa. Mas cabe aos órgãos competentes punir os criminosos”.

Segundo ele, atualmente a redação está trabalhando em parceria com o departamento jurídico da emissora para evitar problemas posteriores. “Fazemos o nosso material com mais respaldo agora. Antes de irmos a campo, avisamos ao Ministério Público e seguimos as instruções do nosso departamento jurídico”, contou.

De acordo com Faustini, o jornalismo investigativo ganhou mais visibilidade após a morte do jornalista Tim Lopes, em 2002. “A morte do Tim trouxe mais visibilidade ao nosso trabalho. Ganhamos força, fundamos a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Por outro lado, ficamos mais vulneráveis. O Tim, na ocasião do Prêmio Esso, em 2001, mostrou o seu rosto e logo começou a ser ameaçado. Por isso, nunca aparece em público”, disse.

O grupo também discutiu o advento das tecnologias. Segundo Azevedo, antes, para utilizar a câmera escondida, era necessário carregar uma mala com equipamentos. Agora, com equipamentos menores e melhores, a qualidade do material ficou melhor e o material bem mais prático para o repórter.

Para Faustini, essa tecnologia pode ter salvado a sua vida. “Agora, ficou mais fácil pegar o flagra de uma só vez. Não tenho como errar, não posso me dar o luxo de ficar tentando. É preciso ser rápido e eficaz”, concluiu.

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