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BIBLIOTECA PÚBLICA GMP: Expectativa de melhores dias apesar do clima de abandono

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Um acervo de aproximadamente 115 mi volumes e cerca de 300 mil periódicos conferem à Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel (BPGMP) o posto da mais expressiva e extensa biblioteca do Estado do Ceará. Fundada em 1867, o prédio está localizado numa privilegiada vista para o mar, ocupando 2.272m², e é dividida em cinco pavimentos.

Esta suntuosidade cultural, no entanto, encontra-se debilitada. O legado da falta de investimento em cultura é sentido nos dias de hoje pela crescente desertificação desses espaços, que deveriam estar abarrotados de jovens ávidos pelo conhecimento. “Hoje, o nosso público é mais ‘concurseiro’. Até porque com essas novas tecnologias ninguém vem mais pegar enciclopédia nem dicionário aqui”, revela a gerente do Sistema Estadual de Biblioteca Públicas do Ceará, Aparecida Lavor.

Mesmo não aparentando sucateada, a BPGMP passa por algumas dificuldades que vêm se arrastando por anos. (Foto: Acervo)

Mesmo não aparentando sucateada, a BPGMP passa por algumas dificuldades que vêm se arrastando por anos. (Foto: Acervo)

Até mesmo nos locais antes quase sempre cheios, como o Setor Infantil, arquitetado e enfeitado com livros e fantoches, predomina um inócuo e incômodo silêncio. “É, aqui vem mais excursão de escolas, né? Públicas e particulares. Mas, vez ou outra fica assim, meio vazio”, confessou a administradora responsável pela ala infantil, Beth Gondim. Beth ainda enfoca outro público: “Os meninos do Poço da Draga (comunidade carente) também vêm muito. Só que eles andam meio sumidos, não sei o que aconteceu”.

Mesmo não aparentando sucateada, a BPGMP passa por algumas dificuldades que vêm se arrastando por anos. A principal, constatada em todos os setores, é a falha no funcionamento dos aparelhos de ar-condicionado. O incessante calor, atrelado à presença de pernilongos, é um infortúnio para os frequentadores. O estudante Lucas Ferreira, egresso da Escola Preparatória para Concursos Tiradentes, é incisivo na crítica. “Desde quando comecei a estudar aqui, e isso já vai fazer uns dois anos, tá sem ar-condicionado. A gente estuda no sol quente mesmo. Aí, mudei o turno e venho estudar agora final de tarde, que é mais fresco”.

A prometida reforma na biblioteca possui alguns entraves. O malabarismo político e a falta de interesse do Governo do Estado em liberar verba para a reforma configuram uma inerte prosa de deixar a cultura para segundo plano. A indicação da vaga de secretário da Cultura pelo jornalista Paulo Mamede reavivou as esperanças dos que almejam a reforma da biblioteca. “O novo secretário assumiu com o propósito de colocar em execução a reforma. Ele tem consciência de que a biblioteca é um espaço importante, e precisa estar agradável ao público”, ressaltou a diretora da Biblioteca Menezes Pimentel, Enide Vidal.

Sobre o vazio imperante na biblioteca, Enide justifica que “o grande problema são as novas tecnologias.” E logo após completa com as causas estruturais. “Esse momento que a biblioteca está passando, com problema nas instalações elétricas afasta os usuários também. A gente espera que, com a reforma, esse local seja novamente habitado. E, com certeza, trabalharemos nesse sentido, com projetos e tudo mais”. A interligação com o Centro Cultural Dragão do Mar de Arte e Cultura muito auxilia na reverberação de tudo que acontece na Menezes Pimentel. Dentro da reforma, está pensada uma passarela que interligará externamente os dois espaços.

A Biblioteca Menezes Pimentel não carece de estrutura de pessoal, pois cada setor possui um bibliotecário para auxiliar o usuário. Infelizmente, não ocorrem nas outras bibliotecas municipais, onde, segunda a gerente Aparecida Lavor, apenas 30 de 184 municípios possuem bibliotecas equipadas com profissionais da área. “Boa ou ruim, há em todo município. Na gestão do FHC, os prefeitos recebiam dinheiro e ia pra todo canto, menos pras bibliotecas, né? Depois do Lula, eles passaram a mandar todo o acervo já pronto. Material já pronto para ser usado. Melhorou, mas ainda falta muito”, endossou Aparecida.

A BPGMP funciona como uma matriz das bibliotecas municipais do interior do estado, aplicando cursos de capacitação e fiscalizando a legalidade. Para isso, ela precisa ser um padrão de referência, dissolvendo, portanto, o espólio de anos de ostracismo para a cultura do conhecimento. Sobre como atrair novamente os jovens para o ambiente de leitura, Aparecida responde com humor: “se vocês souberem, por favor, venham nos dizer”.

Renan Vidal
Aluno especial, 8º semestre

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