ARTE: Ateliê de aquarela poética é fonte de ressignificação e potências
A poeta Tamires Ferreira redefine sua relação com o mundo e aprimora seu autoconhecimento, por meio da poesia e do artesanato, presente em suas produções
Assistente social por formação, poeta e artesã, Tamires Ferreira, 27, trabalha com aquarela poética desde 2016 e expressa por meio de suas produções, concepções de mundo e valores que a definem, enquanto mulher, negra e periférica. A poeta, que atualmente expõe suas criações em sua página do Instagram, “@ateliedatamy”, apresenta trabalhos em formato de aquarela, que remetem à questões sociais, à arte e ao artesanato.
Tamires começou o processo de construção do ateliê, e de sua arte, por meio do seu processo de autoconhecimento e ressignificação de si, o que a permitiu compreender suas ancestralidades e potências, enquanto mulher negra. “O ateliê nasceu junto com o meu processo de autoconhecimento enquanto mulher negra, quando comecei a ressignificar quem eu sou, compreender minha ancestralidade e entender os meus processos históricos. O ateliê sou eu enquanto potência de vida”, contou.
A autonomia que a aquarela poética possui é a centralidade das produções de Thamy – como é conhecida – e simbolizam a inconstância e a falta de domínio do ser humano em suas vivências. “A aquarela poética por si só, ela é, muito poética, porque ela fala de afetos, ela fala sobre essa inconstância, essa dificuldade que nós temos de ter domínio, porque a aquarela é uma tinta que tem muita autonomia, ela toma caminhos e formas próprias”, argumentou.
A aquarela poética fornece, segundo Tamires, a possibilidade de criar “rios” no papel, por meio das poças que são formadas pelas tintas. “A aquarela tem várias técnicas e uma delas é quando você encharca o papel. Ela é uma tinta à base de água. Ela tem a possibilidade, dependendo do papel que você usa, da gramatura, de você encharcar o papel e a partir disso fazer várias poças. Para mim, é como se eu criasse vários rios no papel”, explicou.
A poeta entende o lugar onde cresceu como um grande condicionante inspirador de seu trabalho e acredita que suas vivências, durante a vida, à proporcionaram outras percepções de mundo, em que, mesmo na era digital, o tédio, ainda funcionava como fonte de criação.“ A minha casa, o lugar onde eu cresci, trouxe para mim outra leitura de mundo, de um mundo não tão digital. A imaginação e a forma como você interpretava o real, naquela época, era muito diferente. Hoje em dia, o tédio para mim ele é uma fonte de inspiração muito grande, às vezes preciso ficar entediada para poder criar alguma coisa”, concluiu.
Texto e fotos: Nathan Silpe (3° semestre – Jornalismo UNI7)