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A cultura na ponta da língua

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O tempo passa e os costumes mudam, mas os esforços para que as tradições cearenses não se percam são imensos; porém, quem entende do assunto, enxerga o futuro com positividade e esperança

Herialdo Rocha Lima

Independente de classe, social, cor da pele, grau acadêmico ou quaisquer outras categorias de agrupamento de pessoas, a cultura é um bem intrínseco de todo ser humano. Ela, no entanto, não é presa em si mesma e nem aos gostos individuais. Pelo contrário… A cultura muda, e muda diariamente. Essas mudanças, por sua vez, são como facas de dois gumes, onde um lado coroa o desenvolvimento e outro lado faz brotar o esquecimento. 

Fé, música, alegria e muita cor: a cultura de reisado se mantem firme [Foto: Lucas Moura]

Mas, para o bem da cultura, existem pessoas e órgãos que têm como objetivo principal a manutenção e apoio a esse bem imaterial que, em não raras vezes, também se manifesta materialmente. Por isso, a Matéria Prima traz uma entrevista com Cristina Holanda, responsável pela Coordenação de Patrimônio Cultural e Memória da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult-CE).

Matéria Prima: Como a secretaria se adaptou à realidade da pandemia para continuar estimulando a cultura, mesmo em tempos de restrições sanitárias?

Cristina Holanda (CH): Houve um empenho da Secult, reconhecido em âmbito nacional no setor cultural, para aprovar a Lei Aldir Blanc, de auxílio emergencial ao setor cultural, bem como prorrogar seus prazos de execução e prestação de contas recentemente. O Mapa Cultural, ferramenta de identificação dos artistas e mestres, grupos de tradição e profissionais da cultura, permitiu que os editais da secretaria pudessem ser realizados integralmente online. Além disso, muitas atividades presenciais que marcam o calendário nacional e estadual aconteceram em formato digital. Em síntese: apesar das distâncias geográficas e das desigualdades sociais que marcam a nossa sociedade, a articulação em nível federal e a tecnologia têm nos ajudado a minimizar os impactos da crise sanitária no setor cultural que o mundo vive hoje.

“A articulação em nível federal e a tecnologia têm nos ajudado”

Cristina Holanda

MP: O Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) reconhece 47 Patrimônios Culturais Imateriais do Brasil.  Um deles é a Festa do Pau de Santo Antônio de Barbalha, no Cariri. A secretaria também apoia este evento?

CH: Sim. A Festa do Pau de Santo Antônio de Barbalha é também registrada como patrimônio imaterial do Ceará e algumas ações de salvaguarda foram realizadas, como o apoio a eventos que refletem sobre a continuidade da festa e as lives sobre os festejos em tempos de pandemia.

 Grandes procissões marcam todo Estado nos dias dos padroeiros [Foto: Lucas Moura]

MP: Tal como a Festa do Pau de Santo Antônio, o Estado possui uma vasta cultura religiosa. Quais outros festejos relacionados à religiosidade são incentivados pela Secult?

CH: A festa do Pau de Santo Antônio em Barbalha é, até o momento, a única expressão coletiva registrada como patrimônio pela Secult. No entanto, muitos mestres(as) da cultura diplomados pela secretaria estão relacionados com manifestações de caráter religioso, como mães de santo, penitentes, rezadeiras e outros. Além disso, por meio dos editais permanentes dos Ciclos Festivos, como Carnaval, Paixão de Cristo, São João e Natal, muitas manifestações religiosas cearenses, de diferentes matrizes, acabam sendo apoiadas. 

MP: Dentre as ações do Governo do Ceará para a promoção da cultura, está o projeto Mestres da Cultura. Além do aporte financeiro realizado pelo estado, há algum acompanhamento da Secult junto aos mestres?

CH: De acordo com a lei que regulamenta o projeto, esses Tesouros Vivos têm direito de preferência na tramitação de projetos submetidos aos certames públicos promovidos pela Secretaria da Cultura relativos à área de atuação de cada um. Os Mestres também são beneficiados com o título de “notório saber em cultura popular” por parte da UECE [Universidade Estadual do Ceará] e, mais recentemente, da Unilab [Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira], o que os permite administrar aulas e oficinas em escolas e universidades acerca do seu saber fazer, sendo remunerados da mesma forma que professores que contam com essa distinção. A cada dois anos é realizado ainda o Encontro Mestres do Mundo, que já conta com 13 edições, onde os Tesouros Vivos do Ceará e de outros lugares do Brasil e da América Latina podem se encontrar e trocar experiências.

MP: Acredita que essas tradições mantidas por mestres da cultura podem vir a crescer vigorosamente entre os jovens cearenses?

CH: Sim, essa já é uma realidade entre muitos mestres(as) da cultura no Ceará, sobretudo entre aqueles que lideram os folguedos que preveem muitos participantes de diferentes idades, como os reisados, as lapinhas, o coco e outras manifestações coletivas.

Além de ser fonte de renda, artesanato eterniza a cultura do povo cearense [Foto: Reprodução/CeArt]

MP: Qual sua expectativa para a manutenção da cultura cearense nos próximos anos?

CH: A expectativa é de resistência e superação por parte de todos que fazem cultura no Ceará, apesar dos desafios, pois essa é uma área de atuação onde impera a criatividade, o coletivo e a união.  

“É uma área de atuação onde impera a criatividade, o coletivo e a união”

Cristina Holanda

Sabedoria reconhecida

Para manter vivos os bens imateriais da cultura cearense, o Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura do Estado, criou o projeto Mestres da Cultura. A iniciativa, sancionada em 2016, premia mensalmente alguns tesouros vivos da história cearense. São homens, mulheres e coletivos que se preocupam com o futuro de suas crenças e culturas, mas que não largam as suas práticas.

Atualmente, o edital que seleciona os mestres conta com 80 vagas, com a sua maioria já ocupadas. Os mestres da cultura, além de contarem com uma ajuda de custos mensal, recebem o reconhecimento formal da Secult.

LEGENDAS

Foto 1: Fé, música, alegria e muita cor: a cultura de reisado se mantem firme [Foto: Lucas Moura]

Foto 2: As apresentações de quadrilhas juninas enchem os olhos dos cearenses [Foto: Lucas Moura]

Foto 3: Grandes procissões marcam todo Estado nos dias dos padroeiros [Foto: Lucas Moura]    DAR PREFERÊNCIA A ESTA

Foto 4: Além de ser fonte de renda, artesanato eterniza a cultura do povo cearense [Foto: Reprodução/CeArt] DAR PREFERÊNCIA A ESTA

Foto 5: Mãos habilidosas e experientes criam verdadeiras obras de arte [Foto: Divulgação/CeArt]

Foto 6: Segundo Cristina Holanda, a Secretaria investe em mestres do presente e do passado para educar as próximas gerações [Foto: Divulgação/Secult-CE] A ENTREVISTADA

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