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NOSSO CHÃO: A voz das comunidades no audiovisual popular

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Instituto, que foi pioneiro no uso de vídeos na comunicação popular, tem o resgate desse material na internet

Mais de 60 vídeos do Instituto Nosso Chão, ONG de comunicação popular atuante em Fortaleza nos anos 90 e 2000, estão disponíveis no YouTube pelo canal da TV Janela. No acervo há documentários, curtas de ficção e vídeos de campanhas da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Com foco na conscientização das desigualdades existentes na cidade, o grupo é considerado pioneiro na construção de debates por meio do audiovisual popular.

Elizeu de Souza (esq.) e Valdenor Moura (dir.) editando material do Nosso Chão (Foto: Arquivo Pessoal)

Idealizado pelo padre italiano Marcos Passerini e o jornalista Elizeu de Souza, em 1989, o Instituto era uma extensão da comunicação realizada pelas Comunidades Eclesiais de Base (CEB) nos bairros da periferia. Infraestrutura precária, falta de aparelhos de assistência pública, famílias carentes e falta de moradia digna faziam parte da realidade desses locais, em intensidade maior do que atualmente.

A ideia do nome veio de Elizeu, que antes trabalhava na produção de um jornal mensal chamado Nosso Chão, “O jornal das comunidades eclesiais de base”. “O nosso trabalho era promover uma educação a partir de vídeos que instigassem debates e refletissem, em imagens, alguns elementos do que era desenvolvido nas CEBs”, lembra o jornalista.

Diferente de outras produtoras audiovisuais que começam de forma modesta, Elizeu ressalta que o diferencial do Nosso Chão era o apoio articulado pelo padre Marcos e seus contatos na Europa, o que facilitava na aquisição de equipamentos: “Em nível de produtora, tínhamos o melhor equipamento de edição de vídeo e captação de imagem na cidade”. A sede do instituto era no bairro Damas, em Fortaleza.

Além da dupla inicial, faziam parte da equipe Helder Valões na câmera e edição, e Ivo Souza (irmão de Elizeu) na direção. Posteriormente, Cláudio Simões entrou como cinegrafista e Valdenor Moura como editor. Valdenor lembra como eram as reuniões de produção: “O método de trabalho utilizado era o de que toda a equipe participasse da produção do projeto e dessem ideias. Tudo era muito democrático”.

Making off do curta de ficção “Que Família é Essa”. O curta foi premiado no IV Festival de Vídeo do Ceará (Foto: Arquivo Pessoal)

Colaboradores eventuais também integravam as produções. No curta de ficção “Que Família é Essa?” (1994), há a atuação dos atores Joca Andrade, Marta Aurélia e Erotilde Honório, conhecidos no teatro cearense. O apresentador do Rota 22, Marcos Lima, fez uma participação como repórter policial. Questionando os padrões econômicos impostos pela sociedade, o filme ganhou o prêmio de “Melhor Ficção”, no IV Festival de Vídeo de Fortaleza.

Ronaldo Salgado, jornalista e professor aposentado da Universidade Federal do Ceará (UFC), afirma que dentro do ambiente da Comunicação havia uma aceitação positiva dos trabalhos da ONG. “Por meio de outros alunos do curso, soube dos vídeos produzidos pelas equipes do Instituto Nosso Chão. Minha reação foi de admiração logo no primeiro momento, porque vi que eram documentários voltado para formação de consciência crítica nas comunidades”, disse o jornalista. Elizeu e Padre Marcos foram entrevistados na primeira edição da revista Entrevista, ligada à disciplina do professor Ronaldo.

O FIM

Na esq., Elizeu no vídeo “Cadê a Dignidade?” (1992). Hoje o jornalista ainda é documentarista (Foto: Jonathan Silva)

Apesar da boa aceitação dos vídeos entre as CEB’s do Brasil, os trabalhos não geravam grandes retornos financeiros aos envolvidos, que se mantinham por meio de trabalhos externos. Em 2004, o Nosso Chão chegava ao fim e cada integrante seguiu com seus projetos pessoais.

Atualmente padre Marcos trabalha como coordenador regional da Pastoral Carcerária do Ceará. Elizeu ainda produz documentários e é advocacy no Movimento Saúde Mental Comunitária. Valdenor fundou em 1999 o TV Janela, com apoio dos moradores do Planalto Ayrton Sena (antigo Pantanal). Hoje ele supervisiona o projeto Repórter Cuca, também de formação de comunicadores populares com jovens da periferia.

Imagem de Amostra do You Tube Imagem de Amostra do You Tube Imagem de Amostra do You Tube Imagem de Amostra do You Tube

 

Texto: Jonathan Silva (3º Semestre – Jornalismo)

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