ECONOMIA: Retomada do plantio do algodão no Ceará é debatida por entidades do setor
Produtores e representantes de diversas instituições relacionadas ao ramo agropecuário estiveram reunidos em Fortaleza para discutir o assunto produção algodoeira no Estado e como revitalizá-la
Com o objetivo de resgatar as grandes produções de algodão no Estado, a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará – FAEC e a Associação Brasileira de Produtores de Algodão – ABRAPA, promoveram, no dia 28 de novembro de 2017, uma reunião com várias instituições, produtores e representantes do governo cearense.
A cultura do plantio de algodão no Ceará, antes de ser extinta, era praticada por pequenos, médio e grandes produtores, que levou o Estado a ser o segundo maior produtor de algodão do país na década de 1970. Com o passar dos anos, devido ao grande aumento da cultura algodoeira no centro-oeste e centro sul e também as sucessivas secas, o Ceará perdeu expressividade.
O presidente da ABRAPA, Arlindo de Azevedo Moura, fez uma retrospectiva da cultura do algodão no mundo e no Brasil. Segundo ele, o algodão perdeu mercado ao longo dos últimos anos, devido à produção de tecido sintético principalmente pela indústria chinesa, mas nos últimos quatro anos, países como Estados Unidos e Austrália passaram a investir mais em marketing para que o algodão voltasse a ser utilizado na indústria e a realidade mudou.
“A cultura do plantio de algodão é um setor forte do agronegócio brasileiro, representando cerca de 6% do PIB”
– Arlindo de Azevedo Moura
A produção de algodão no Brasil cresceu na década de 90 chegando a 3 milhões de hectares. Entre 1993 e 2000, com a chegada do bicudo, o Brasil tornou-se um dos 10 maiores países importadores do mundo e o segundo em 1996. Atualmente, o país é o quarto maior exportador de algodão, o quinto maior produtor, e tem um potencial de 2 milhões de toneladas. Deverá alcançar nos próximos cinco anos, 2 milhões de área plantada no Brasil. Esse ano, deverá colher 1.632 kg por hectare, 60% mais do que a produção dos Estados Unidos. O consumo interno é de 900 mil toneladas/ano.
O Brasil hoje é reconhecido como o segundo lugar na qualidade do algodão, e “nós temos que manter isso, ao desenvolver um projeto aqui no Ceará”, disse Arlindo. Apesar do crescimento de 23% na produção de algodão nos últimos três anos, existem alguns entraves, mas as tendências são: uso de sementes geneticamente modificadas, implementação de um sistema eficiente de monitoramento de praga e gestão integrada da doença, uso do controle biológico de pragas, mecanização da agricultura e boas práticas agrícolas.
“Por meio de uma iniciativa conjunta, o Ceará poderá voltar a ter um destaque nacional”
– Flávio Saboya
O presidente da ABRAPA demonstrou ainda a importância da cultura como um setor forte do agronegócio brasileiro, com movimentação financeira da ordem de US 40 bilhões, e que representa US$ 18 bilhões do PIB, mais ou menos 6%.
O produtor de algodão Marcos Montenegro afirma que o Ceará que já produziu 105 mil toneladas de algodão em pluma. Ele não acredita que a extinção do algodão no estado tenha sido por causa do bicudo, e acha que foi muito mais estrutural e que faltou apoio para os produtores. O produtor afirma que sua grande preocupação é com a produção de sementes para quem for iniciar a produção.
O chefe geral da Embrapa Algodão, Sebastião Barbosa, disse que é importante que as instituições estejam em sintonia, “esse esforço em conjunto é fundamental para o fortalecimento da cadeia do algodão no Ceará e no Brasil inteiro. O fator limitante de produção do algodão aqui continua sendo o bicudo do algodoeiro, mas a EMBRAPA, junto de universidades conseguiu colocar à disposição dos agricultores um algodão resistente ao bicudo do algodoeiro.” Sebastião Barbosa afirmou ainda que o algodão é uma planta típica de semiárido, ou seja, o Ceará tem total condição de voltar a produzir algodão.
O Ceará foi o terceiro maior produtor brasileiro e o primeiro no Nordeste, há 30 anos, com uma produção média de 379 mil toneladas de algodão em caroço no ano de 1971. Dados da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará mostram que a área plantada era de 1,2 milhão de hectares.
PROGRAMA DE MODERNIZAÇÃO FOI APRESENTADO AO GOVERNADOR
A FAEC preparou um documento sobre “O Programa de Modernização da Cultura do Algodão no Ceará”, que foi apresentado ao governador Camilo Santana, no dia 28 de novembro.
O encontro no Palácio da Abolição contou com a presença de representantes de diversas instituições e segmentos produtivos como o Sistema FIEC/SENAI, FETRAECE, EMATERCE, ADECE, ADAGRI, SEBRAE/CE, OCB/CE, AGROPOLOS, CENTEC/FATEC, SINDIALGODÃO, APAECE, COCEPAT, Prefeitura e Secretarias de Agricultura.
Segundo o presidente da FAEC, Flávio Saboya, o Programa tem como objetivo promover a modernização da cultura do algodão herbáceo, por meio da introdução de novas tecnologias de produção, objetivando a geração de emprego e renda no meio rural. Justificam-se pela demanda anual para o polo têxtil cearense, que é de 270 mil toneladas de pluma de algodão e a de torta de algodão em torno de 370 mil toneladas.
Hoje, a produção cearense é de 150 mil toneladas de torta de algodão (99% do caroço advindo de outros estados). O soerguimento da cultura no Ceará é uma das alternativas para a geração de renda, o restabelecimento do poder aquisitivo e do bem estar social dos pequenos e médios produtores rurais, afirma Saboya.
O Programa contempla dois tipos de cultura: o algodão convencional e o algodão agroecológico e deverá ter início em 2018 com metas definidas até 2022 quando se pretende chegar a 67mil hectares de área plantada de algodão convencional e 660 hectares de algodão agroecológico, em 38 municípios de várias regiões do Estado. A expectativa é a geração de 20.681 empregos.
Texto: Weider Gabriel (7° semestre/Jornalismo-UNI7)