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FA7 NO CENTRO: Experiências éticas para iluminar gestores do mercado

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Uma imersão para avaliar como se manifestam as responsabilidade e os cuidados de quem vende, compra e fiscaliza o São Sebastião

Foto de peixe 1O meu encontro com o mercado São Sebastião começou pela ala das frutas. Fazia tempo que não via morangos, uvas e pitayas tão bonitos. Queria também comprar peixe fresco. Não andei muito, mas logo pude identificar o local pelo forte cheiro exalado: seria o odor natural de alguns peixes ou resultado da má conservação? A visão seguinte certamente deixaria a grande Hígia – deusa grega da saúde, limpeza e sanidade – com náuseas. Não passava das 10 horas e percebi que alguns estavam ali comprando o que seria o almoço. Eu não pensava mais em comer – nem tão cedo, nem em comprar pescado – mas a minha perplexa curiosidade fez-me andar por toda a ala.

O que vi foi a proporção inversa de tudo o que sabia por leitura e experiência sobre conservação de peixes. Começando pela ausência de refrigeração ou de camadas espessas de gelo nos diversos itens – pargos, tilápias e outros, sob o imenso calor habitual de Fortaleza, não era possível acreditar que aqueles espécimes estivessem em condições de consumo humano, pois a aparência geral, com suas escamas, peles, olhos, guelras, brânquias, abdomens e odores revelavam o contrário. Mas os vendedores, com suas vestes sujas e suados, não deixavam de exibir aos incautos as qualidades de seus produtos. Isto sem falar na aparência do local, com sangue sinalizando uma grande matança por todos os lados e um chão de escamas, vísceras e restos de peixe.

De imediato, lembrei-me da tríplice responsabilidade ética dos envolvidos. Não estavam sendo éticos os que vendiam, os que compravam e os que deveriam fiscalizar – fossem os administradores do local ou a fiscalização pública. Estariam sendo éticos os que vendiam, sabendo da impropriedade de seus produtos e usando de artifícios – como o uso de isopor simulando gelo ou a boa retórica de “especialista”? Seriam éticos os consumidores que, a despeito das visíveis condições, levavam para os seus lares produtos de qualidade duvidosa, em nome da praticidade ou do preço que parecia mais baixo? E onde estaria a ética daqueles que deveriam zelar pelo ambiente – acredito que haja diretores, gestores, administradores no local. E não pude esquecer-me dos representantes dos órgãos de fiscalização de vigilância sanitária para mercados de peixes. Estariam todos sendo responsavelmente éticos?

Saí dali com uma sensação estranha. Mas, resolvi voltar para as frutas e procurei o “box” de um rapaz que me atendera tão bem logo que cheguei. Relatei para ele a minha experiência, demonstrando sincera preocupação, e ele afirmou que aquela situação, infelizmente, era constante. Ele afirmou ter realizado “benchmarking” no Mercado Público de São Paulo, que hoje extrapola a sua condição de mero ponto comercial e se transformou em ponto turístico paulista e levado sua experiência para reuniões com outros empreendedores, mas foi em vão. Quem sabe outros exemplos possam iluminar os gestores para melhorar os contextos e fazer com que, no lugar de levar uma péssima experiência, o cliente fique com vontade de voltar…

Cláudia Lemos
1º semestre

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