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FORTALEZA: O vai e vem da cidade na prática cotidiana do jornalismo

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O noticiário local é apontado como a razão de existir do jornal O Povo e a editoria de Cotidiano concretiza essa visão

Editor do Núcleo de Cotidiano, Érico Firmo defende o setor que lidera como a melhor porta de entrada que um repórter pode ter, principalmente pela possibilidade de ir às ruas. Ele acredita que a rua é a principal matéria prima do jornalismo, principalmente o jornalismo local.

Érico Firmo na redação do jornal O Povo (Foto: Arquivo Pessoal)

Sua primeira experiência de mercado foi na época de estágio em Redação de revista. Após a formatura, em 2004, na Universidade Federal do Ceará (UFC), ficou cerca de dois meses ainda escrevendo para revista, até ser chamado para integrar a equipe de repórteres do Núcleo de Política no jornal O Povo. Três anos depois foi convidado a ocupar o cargo de Editor Adjunto do núcleo. Em 2015, com dez anos na Editoria de Política, Érico se torna editor do Núcleo de Cotidiano.

Ele recorda as matérias que cobria no Núcleo de Política. Eram sempre voltadas para o cotidiano e tinham sempre um olhar muito forte para a cidade. Trabalhou também no Anuário do Ceará, com um perfil diferente do utilizado em política. No período de transição (da saída da faculdade para vida profissional), houve também a mudança no ritmo no dia a dia da redação e a mudança das plataformas. Foi o período de sua saída da revista e início no jornal impresso. Érico confessa ter ficado surpreso com a semelhança no texto que produzia para revista e o que foi solicitado para o jornal. Mas, afirma estar ciente de que a pouca diferença tem a ver com a linha editorial do veículo.

Quando fala da importância do núcleo que comanda, para os receptores e principalmente para o jornal, Érico deixa transparecer a paixão e a admiração que tem pela editoria. Concorda que a principal razão de existir do jornal (O Povo) é o noticiário local e que isso traz um peso e uma importância muito grandes para esse núcleo. Além de abrir o jornal é o maior núcleo da Redação, com mais repórteres, mais pessoas na equipe e mais pessoas na rua. Para Érico, o cotidiano é fundamentalmente o noticiário mais próximo da população. Razão pela qual os jornais “nacionais” não substituem um jornal como “O Povo”.

O jornalista declara que, no cotidiano, necessariamente se lida com uma diversidade de temas que às vezes não domina, não conhece em profundidade, ficando mais difícil estabelecer rede de conexões. Isso dificulta a “especialização”, mas, ao mesmo tempo, enriquece, porque o repórter tem que entender de tudo um pouco, entender um pouco de todas as novidades noticiadas no dia a dia, tornando essa variedade de temas fascinante. Além disso, em nenhum outro lugar pode se encontrar a diversidade de fontes existente no cotidiano, uma multiplicidade de fontes e vozes para compor o texto.

Érico aponta duas coberturas que ficaram marcadas para ele. A primeira foi a da chacina do Curió, em novembro de 2015. “Foi uma cobertura muito forte, muito intensa…”. A outra, mais recente, foi a cobertura dos ataques aos ônibus em abril desse ano, “que teve muita adrenalina”. Ele considera o trabalho nesse núcleo uma experiência visceral, sem nenhum outro adjetivo.

O editor de Cotidiano aponta duas dicas para os futuros jornalistas. Reconhece que, à primeira vista, parecerão contraditórias, mas na verdade se complementam e são essenciais: primeiro, o jornalista tem que ser capaz de aplicar a metodologia de reportagem para qualquer assunto, qualquer matéria. Tem que ser capaz de desenrolar qualquer matéria, e, segundo, ao mesmo tempo, o jornalista precisa ter alguns temas cruciais em que é realmente bom, em que tenha especialidade, domínio, profundidade para falar daquilo. O jornalista deve ter versatilidade para tratar de todos os assuntos, mas também especialização em algumas áreas (em uma área no mínimo), um diferencial que seja. Ter profundidade e conteúdo que é algo construído com leitura, acompanhamento de coberturas etc.

Ao ser questionado quanto ao fim do jornal impresso, teoria essa que os estudantes de jornalismo acompanham desde o primeiro semestre do curso, Érico disse acreditar que o impresso é um mercado imenso, ainda tem uma força muito grande, muito respaldo e credibilidade. “Acho que o impresso tem uma força, tem leitores, tem público. E o leitor do impresso não é o mesmo do online, não coincide e não tem as mesmas demandas, mas o fim do impresso não é uma questão que fundamentalmente me angustia. O jornalismo persiste em qualquer que seja a plataforma. Não precisamos hoje, por exemplo, escrever em pedras ou pergaminhos para manter a literatura. As coisas evoluem, mudam, mais o que é da essência do jornalismo se mantém”.

E complementa: “acho inclusive que as pessoas problematizam muito o impresso (o fim dele). É mais por preconceito e por falta de informação de como está o mercado de mídia. A TV, por exemplo, está passando por uma crise muito maior que o impresso, teve quebra de audiência, faturamento… O que é fundamental, a relevância da informação aprofundada, de qualidade, não tenho dúvida que permanece”.

 

Texto: Mairla Freitas (6º semestre – Jornalismo)

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