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CONTRA A MARÉ: Começar uma empresa na crise pode dar certo

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A máquina injetora adqirida pelo casal é de 1986

Mesmo com o aumento nas taxas de desemprego, empresas fechando e queda das vendas no comércio, há quem não tema o cenário, e o desafie

O casal de empresários, Maria Roberta Costa Santana e Francisco Edcarlos Carneiro Teixeira,ambos com 29 anos,espera fechar o ano de crise com o caixa positivo e muito melhor que os anos anteriores, ao contrário do discurso de muitas empresas.  Mesmo diante da situação atual do país, o casal, que tinha uma fábrica de lingerie desde 2006 resolveu fechar o negócio, vender tudo e começar do zero. Entrou em um novo ramo empresarial: fabricar cabides.

Em 2015, os números têm sido negativos para as empresas brasileiras. É o que aponta o Instituto de Geografia e Estatística (IBGE),como aumento do índice de desempregoentre os meses de junho, julho e agostosomando 8,7%, o maior desde 2012.  Nos meses subsequentes, a situação não foi diferente: 7,6% em setembro e7,9% em outubro, que foi a maior taxa de desemprego desde 2007,segundo o IBGE.

Devidoacrise, muitas empresas estão fechando, mas outras têm tentado resistir, aderindo ao Programa de Proteção ao Emprego, acordo firmado entre empresas e funcionários que permite reduzir a carga horária e o salário dos trabalhadores. A medida provisória, assinada pela Presidenta Dilma Rouseff, se propõe a ajudar as empresas com dificuldades, para que não fechem as portas. A redução na jornada de trabalho é de até 30%,mas a perda no salário do trabalhador é menor, já que parte de sua queda de salário é reposta pelo Governo,por meio do Fundo do Amparo ao Trabalhador (FAT).

Mesmo estando conscientes da situação econômicaatual do Brasil, os empresários dizem não temer a mudança de área de atuação. Para Roberta, não tem como sua empresa não deslanchar já quehá uma grande procura de cabides no mercado. A maior dificuldade foi ter dese desfazer de todos os bens: carro, máquinas de costura, estoque de material e lingeriesproduzidas. Tudo para comprar a maquina injetora produtora de cabides. Um investimento alto. Mesmo desfazendo-se dos bens,o casal não teve como comprar uma máquina nova.A que eles conseguiram é de 1986.

A motivação para a mudança se deu pelas péssimas condições de trabalho na área de confecção de lingerie, afirma Roberta. Ela explica que o material para produzir tem preço reajustado anualmente, e as peças não podem ser reajustadas, devido a grande concorrência. Com uma margem de lucro muito pequena, e ainda tendo passado por alguns calotes, o casal não viu outra saída a não ser enfrentar a temida crise e fazer um novo começo.

Apesar da fábrica de lingerie ter proporcionado a tão sonhada casa própria, Roberta e o marido relatam que tiveram muitos prejuízos durante os nove anos que tentaram ter sucesso na fábrica. As dívidas eram muitas: fornecedores, funcionários, energia elétrica, internet, telefone e contas que não podiam ser adiadas. Muitas vezes os clientes adiavam o pagamento, ou mesmo não pagavam. “Foram repetidos calotes, até de clientes fixos, que já eram acostumados a comprar, pagar certinho. Daí chegava o dia que o cheque não tinha mais fundo, e o valor era alto”, relata Roberta.

Empresa pequena não tem dinheiro em caixa para se pagar, e sobrevive de seu lucro.Ha dois anos o casal teve de entregar todas as máquinas de costura da fábrica, aos fornecedores, para cobrir dívidas. Eles começaram novamente, no mesmo setor, até que veio a vontade de mudar, tentar algo novo. Fabricar cabides não está tão distante de lingerie. Seus clientes, inclusive,são os antigos colegas de ramo de atuação.

Uma nova empresa, uma nova fase. Roberta diz que sua confiança parte de tanto sofrimento vindo da fábrica, que ensinou muitas coisas a ela e seu esposo. Ela observar que agora saberão escolher melhor os seus clientes, cortar gastos desnecessários, investir em primeiro lugar na empresa para consolidá-la, fazer uma marca, investir no marketing e ter um nome reconhecido no mercado. “Foram nove anos de muita luta. Tivemos momentos razoáveis, sete funcionários registrados e as facções (costureiras autônomas que ganham por peça fabricada). Agora é diferente com a máquina trabalhando, e apenas três funcionários: meu marido, o representante de vendas e eu. Mas vai valer a pena. Tem mercado, a matéria prima é reciclável, barata e ainda ajuda o meio ambiente” observa confiante a empreendedora.

Taiamara Gomes
6º semestre

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