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BLACK FRIDAY: Expectativas de compras em meio à crise econômica brasileira

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Texto, Uni7 Informa

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Os impactos dos altos preços em uma das datas mais importantes do varejo mundial

A Black Friday é o dia que inicia a temporada de compras natalinas. Surgido nos Estados Unidos a partir dos anos de 1980, o evento é realizado no dia seguinte ao de Ação de Graças, feriado americano comemorado na última quinta-feira do mês de novembro. Objetivando aumentar o lucro dos vendedores, a Black Friday é marcada por grandes descontos em produtos de lojas varejistas, o que atrai um público imenso, gerando inclusive grandes aglomerações e confusões.

Com a popularização do evento, lojas de diversos países começaram a adotar a mesma estratégia para alavancar as vendas, inclusive no Brasil. Conforme dados divulgados pela rede social Twitter, o Brasil foi o segundo país que mais comentou sobre o assunto na plataforma no ano de 2020, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.

O EVENTO EM TERRITÓRIO NACIONAL

A primeira Black Friday brasileira aconteceu no dia 28 de novembro de 2010, com o diferencial de ter sido totalmente online. Pouco tempo depois, na Black Friday de 2014, já foram mais de R$ 1,2 bilhão em vendas somente na internet, de acordo com dados da plataforma de opinião de consumidores Ebit. Isso corresponde a 3,5% do faturamento em vendas daquele ano, consolidando assim o evento como uma das datas mais importantes para o comércio.

O evento gera um grande movimento no setor de vendas online
Foto: Olhar Digital

Apesar do grande sucesso, no país, o evento é conhecido pelas fraudes por parte de alguns comerciantes. O Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo & Mercado de Consumo (Ibevar), em 2020, registrou 6,5 mil produtos que tiveram seus valores aumentados em 70% na véspera do evento, para que ao dar o desconto no dia, o vendedor continuasse com lucro.

Apelidada de “Black Fraude” pelos brasileiros, o evento vem perdendo credibilidade entre a população, e pesquisas realizadas pelo site Reclame Aqui registram que oito em cada dez consumidores não vão comprar nada no evento em 2021.

Segundo o Presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas (CDL) do Ceará, Freitas Cordeiro, “o varejo, principalmente nacional, não se contenta em concentrar em apenas um dia descontos bem atrativos, então a Black Friday já começou há mais de um mês, o que gera uma perda até no sentido do termo e uma desconfiança no consumidor e, a meu ver, o evento perde o impacto”. Para Freitas Cordeiro, “era mais importante concentrar em uma data e oferecer descontos bem impactantes, acima de 50%, assim o consumidor teria um benefício significativo”. 

Além disso, ele reconhece a existência de fraudes e a sua ineficácia: “Não adianta mascarar promoção onde não existe, o consumidor está bem informado, e pelo contrário, o vendedor vai perder o seu cliente”, enfatiza o Presidente das CDLs do Ceará.

Mesmo com diversas polêmicas, o dia de descontos continua a ser aplicado por diversos estabelecimentos no território nacional. De acordo com o movimento Compre & Confie, da base de dados online sobre compras Neotrust, foram realizadas 7,6 milhões de vendas online em 2020, número 24,7% maior do que o registrado na Black Friday do ano anterior, tendo em vista que devido a pandemia do Covid-19, as pessoas não podiam sair de casa para realizar compras em lojas físicas.

AS COMPRAS EM TEMPOS DE CRISE

Após um longo período de quarentena na pandemia, em 2021 a população brasileira enfrenta um grande desafio que é o aumento do custo de vida no país. O presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Ricardo Aquino Coimbra, explica que a inflação “é um processo contínuo e persistente do aumento do preço normal de diversos produtos ao mesmo tempo”, e que na área da alimentação, “os preços começaram a subir principalmente no período da pandemia, pois houve um crescimento significativo de demanda, em função do surgimento do auxílio emergencial”. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) indicou que a inflação em setembro de 2021, referente ao total dos últimos 12 meses, chegou a 10,25%, o que não acontecia há mais de cinco anos.

Analisando por outra perspectiva essa situação, Freitas Cordeiro destaca que “os negócios sempre precisam de um pouco de inflação porque é importante para estimular a compra, mas quando ela perde o controle, acaba gerando prejuízo no poder de compra do consumidor, que é quem mantém o comércio”.

Diante disso, Ricardo pontua que a “instabilidade da economia brasileira vem principalmente da gestão pública atual, no que se refere à situação fiscal e de câmbio”. O presidente do Corecon-CE explica que, durante a pandemia, houve “uma forte desvalorização da nossa moeda em relação à estrangeira, e isso fez com que produtos importados, como combustível e o trigo, subissem de valor de forma significativa”.

O real vem sendo desvalorizado em relação a moedas estrangeiras
Foto: Brena Farias / NPJOR

Em decorrência da desvalorização do real, muitas companhias começaram a priorizar a exportação, como esclarece Ricardo: “As empresas deixaram de oferecer no mercado interno grande parte dos produtos brasileiros que podem ser comercializados no exterior, como soja e carne, com o objetivo de lucrar mais, e por isso os preços desses produtos no país também aumentaram”. Esse aumento acelerado do valor de commodities, produtos que servem como matéria-prima para a fabricação de outros, impacta diretamente no estilo de vida da população, que precisa agora priorizar os seus gastos para a sobrevivência.

Com isso, os brasileiros optam por gastar sua renda com o mercado essencial do cotidiano, e deixam de lado compras excepcionais, normalmente realizadas em períodos como a Black Friday, levando em consideração que, segundo a empresa de varejo Shoptime, dentre os produtos mais pesquisados nesse período estão: eletrodomésticos, eletrônicos, roupas, acessórios e móveis.

Freitas Cordeiro, Presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Ceará

Apesar das dificuldades financeiras enfrentadas pela população, a Black Friday de 2021 irá acontecer normalmente no dia 26 de novembro, e Freitas Cordeiro acredita que “esse momento vai ser rico por conta da demanda reprimida durante a pandemia. Não que os consumidores não pudessem comprar online, mas agora eles estão eufóricos pois a confiança foi recuperada, as pessoas estão acreditando que vamos ter um momento bom e estão sem medo de comprar”.

De acordo com Freitas, “o nosso setor vive dessas datas comemorativas. O propósito do Natal é ser uma data religiosa, mas no calendário ele passou a ser um momento de vendas e o varejo, inteligentemente, estimulou nas pessoas aquele costume de presentear, que é uma maneira de fazer com que você vá as compras”. Por isso, mesmo com grandes desafios financeiros, a Black Friday ainda possui muita importância para o segmento econômico do comércio.

ORIGEM DO TERMO

O termo Black Friday já foi utilizado para denominar diferentes eventos ao longo da história. Tendo seu primeiro registro em 1869, o vocábulo foi utilizado inicialmente para representar uma grande crise financeira enfrentada por acionistas de Wall Street em uma sexta-feira. Mais tarde, em meados de 1960, policiais da cidade de Filadélfia começaram a utilizar esse mesmo termo para nomear o dia seguinte ao feriado de Ação de Graças, período marcado por um grande fluxo de pessoas e congestionamentos, pois dava início às compras dos presentes de Natal, surgindo assim o significado atual do termo.

A cor preta foi escolhida para denominar o período pois era a cor utilizada pelos donos de lojas para representar os lucros, enquanto o vermelho indicava os prejuízos. Apesar de não ser muito utilizado, no Brasil a data também pode ser chamada pela sua tradução, Sexta-feira Negra.

Texto: João Pedro Pacheco Artuzo (1º semestre / Jornalismo)

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