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289 ANOS DE FORTALEZA: Por aquele que acredita na força de ajudar

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Reportagens, Texto

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Um cidadão de fé, que acredita no movimento ecológico da cidade de Fortaleza, por meio do Movimento Proparque

Ademir Costa vem criando vínculos com o “pensamento plural, na perspectiva da transformação" (Foto: Angélica Oliveira)

Ademir Costa vem criando vínculos com o “pensamento plural, na perspectiva da transformação” (Foto: Angélica Oliveira)

Há 42 anos, ele deixou a terra natal, Caxias, Maranhão, para conhecer novos ares e viver novas experiências. Foi, então, que resolveu mudar-se para a Terra da Luz, Fortaleza. Este foi o percurso de Ademir da Silva Costa, ex-seminarista, filósofo, jornalista e ambientalista. Um irmão do universo, em busca de uma utopia da sabedoria ecológica.

Ao longo desse tempo, ele vem criando vínculos, com o “pensamento plural, na perspectiva da transformação”, como escreveu no seu blog. E acrescenta: “a vida na Terra e a pessoa humana são valores máximos”. A trajetória de quem se identificou, com peculiar sensibilidade, aos temas mais caros de uma cidade como Fortaleza, com seus contrastes e desafios socioambientais…

Ainda no Maranhão, entrou para o seminário durante o antigo segundo grau. Naquele período, Ademir começou a cursar filosofia em Pindaré-Mirim no seu estado. Foi nesse ambiente em que ele descobriu a paixão pelos movimentos sociais. Seu primeiro movimento para ajudar pessoas foi organizar um abaixo-assinado para a construção da ponte Viana-Araripe. Movimento que obteve êxito.

Passou-se o tempo, e Ademir decidiu vir morar em Fortaleza. Ele, então, veio sozinho estudar no Seminário Regional de Fortaleza, perseguindo o seu objetivo de tornar-se padre. Como estava no seu ano de calouro, não era permitido trabalhar. “Fiquei desesperado, porque queria colaborar com o seminário de qualquer forma. No Maranhão, estava acostumando a trabalhar para me sustentar e ajudar o seminário”, diz, ao recordar que ministrava aulas durante os seus anos no ensino médio.

Durante um encontro promovido pela Arquidiocese de Fortaleza, que ressaltava a importância da comunicação social para a igreja, é que Ademir decide ser voluntário da sala de imprensa da arquidiocese. Lá, trabalhou inicialmente como arquivista, até começar a escrever textos para rádio. “O redator viu meus textos, gostou e pediu para que começasse a escrever em três vias porque eu escrevia muito bem”. É assim que, há 40 anos, surge o jornalista Ademir Costa.

Ainda cursando filosofia, ele já estava decidido a investir em comunicação social. No final de 1987, concluiu a licenciatura em filosofia. No começo do ano seguinte, Ademir já estava como aluno de comunicação social na Universidade Federal do Ceará (UFC). É por volta desse período que ele deixou o seminário. “Não foi uma questão de fé. Foi uma época muito bonita e maravilhosa.”

Ao fim de 1988, foi aprovado para o concurso do Banco do Nordeste (BNB). Ao mesmo tempo em que conclui comunicação social, o Banco do Nordeste abriu concurso para a área de jornalismo. Ademir foi aprovado.

Antes de se formar jornalista, contudo, Ademir foi convidado a trabalhar para um jornal que estava sendo pensado em Fortaleza. Os comentários davam conta tratar-se do “jornal do Edson”. Na verdade, era o início do atual Diário do Nordeste. Ele foi indicado por uma professora e, mesmo não apoiando a ideia de jornalistas trabalharem em redações, ele aceitou o desafio. O jornal ainda não circulava, mas a equipe já funcionava a todo vapor.

Imagem de Amostra do You Tube
Um dos momentos mais memoráveis para Ademir foi quando ele teve de entrevistar na época, o Governador do Ceará, Virgílio Távora. “Uma entrevista de economia com um governador militar em plena ditadura militar!”, exclama ele.

Em todos os ambientes em que conviveu, nota-se que Ademir sempre procurou ajudar de alguma forma esse local e as pessoas relacionadas. Durante os primeiros anos no BNB, ele contribuiu bastante para a organização do conteúdo do banco, como também estimulava a prática de atividades positivas para a saúde, bem-estar físico e mental. “É muito bom olhar para trás e ver que ações que você ajudou a implementar, permanecem sendo feitas até hoje”, diz.

Sua história com os movimentos sociais se intensifica com a campanha para limpar uma rua que possuía enorme rampa de lixo no bairro da Maraponga. Na época, Ademir fazia parte do grupo Justiça e Paz. Ele, juntamente com os membros, entregava panfletos de casa em casa. Após um encontro a ex-prefeita Maria Luiza, o grupo conseguiu que a prefeitura enviasse 40 caçambas para recolher o lixo.

Outro movimento que lhe marcou foi o SOS Lagoa da Maraponga. Ademir procurou defender a lagoa da construção de centenas de apartamentos na sua proximidade. Para ele, foi o movimento mais bonito que já participou porque conseguiram mobilizar nove bairros próximos à lagoa e um total de sete mil assinaturas no abaixo-assinado.

O grupo Justiça e Paz conseguia informações sobre a obra por meio dos vendedores ambulantes que trabalhavam na região. “Se eu chegasse à porta da construção, ninguém me deixaria entrar. Mas eles (os ambulantes) entravam pra vender e nos diziam o que iria acontecer na obra”, diz. Ademir se emocionou tanto com esse movimento que o relatou na sua dissertação de mestrado.

Falando em mestrado, o ambientalista cursou mestrado na UFC em desenvolvimento em meio ambiente, no lugar de seguir academicamente com a comunicação social.

E viaja no tempo ao recordar a força do movimento pela ponte Viana-Araripe, no Maranhã, que o emocionou bastante. Eles precisavam de assinaturas, mas muita gente não sabia escrever. Ademir e os seminaristas usavam a tinta de canetas esferográficas para sujar o polegar dessas pessoas e imprimir suas digitais no papel. “A gente levava caneta esferográfica, pintava o dedo das pessoas e colocava no papel”, diz. Ele se emocionou bastante com o falta de oportunidades que muitas pessoas sofrem.

Em 1995, o movimento Justiça e Paz mudou-se para o Parque Rio Branco. O grupo passou a se chamar Movimento Proparque. O coletivo luta pela melhoria do Parque Rio Branco, Uma das grandes conquistas foi a criação, de forma oficial, do Parque Rio Branco. “Assim como o Cocó, o Parque Rio Branco existia de fato, mas não existia de direito”, diz. Essa conquista foi alcançada em reunião com o atual prefeito Roberto Cláudio, em 2013. O parque foi criado como parque urbano de Fortaleza e área verde pública.

Ademir aponta que Roberto Cláudio queria criar apenas como parque, mas o movimento insistiu para que fosse declarada uma área verde pública, pois assim o parque não poderia ser impermeabilizado.

O ambientalista conta que sempre surgem ideias por parte da prefeitura ou de empresários para construir algo dentro do parque, como restaurantes, estacionamentos ou central de flores. Entretanto, por ser uma área verde urbana, esses projetos não podem ser implantados. Ele acredita que isso ocorre porque a administração pensa na cidade somente para o turista. “Se a cidade não é boa para nós, o turista vê isso, ele não é burro, por mais que os pacotes mantenham os turistas dentro de barcos, ônibus, entre outros”, comenta.

Ademir é indignado com o conceito de limpar de algumas pessoas. Certa vez, ele encontrou dois homens com um facão “limpando” o parque, cortando algumas plantas. “Limpar para algumas pessoas é tirar o verde, ao invés de pegar um saco e recolher lixo”, ressalta. Ele se chateia muito com as pessoas comentando sobre o parque estar sujo. Algumas delas reclamaram com a Empresa Municipal de Limpeza e Urbanização (Emlurb) para a limpeza do parque. Como resultado, a empresa mandou podar algumas árvores, mas não mandaram um profissional capacitado para acompanhar essa poda. “Homens com facão na mão e uma ordem de poda da Emlurb resultou que capinaram as margens do Riacho Rio Branco desde sua nascente”, lamenta.

Esta é a trajetória de envolvimento de um cidadão que visa a ajudar. Iniciou com movimentos sociais, e hoje seu foco é nos movimentos em defesa do meio ambiente. A vontade de mudar o que está errado e ajudar é visível desde sua juventude. Sua relação com o Parque Rio Branco é bastante íntima. Fortaleza tem muito a agradecer ao trabalho que ele vem desempenhando.

Como mensagem de cidadania, segue a transcrição do trecho final da monografia de Ademir da Silva Cosa, aprovada pela Universidade Federal do Ceará, no término do curso de Especialização em Economia para Jornalistas:

“Pessoas do povo dão-se conta de que Fortaleza caminha para um quadro de crescente mal-estar. Porém percebem que ainda há chance de reverter esse processo. Outras às vezes sentem-se impotentes nos seus campos de atuação, seja no parlamento, em entidades oficiais, privadas ou não-governamentais, apesar de detentoras de saber científico a fundamentar uma visão mais abrangente do estágio de desenvolvimento da cidade. Espaços como o Movimento Proparque são instâncias onde esses grupos cidadãos juntam esforços para resgatar uma cidade na qual se viva e desfrute prazer e os serviços da natureza”.

Serviço
Parque Ecológico Rio Branco – Localizado no bairro Joaquim Távora, com entrada principal pela Av. Pontes Viera. Acessos laterais pelas ruas Capitão Gustavo, Castro Alves e Av. Visconde do Rio Branco. No local, a nascente do Riacho Rio Branco. Área: 75.825 m².

Angélica Oliveira
6º semestre

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