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RIO COCÓ: Recuperação prevista para ano passado não foi iniciada

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Desde junho de 2007 é esperado o início de um projeto de recuperação da água, idealizado pela Secretaria do Meio Ambiente e pelo Governo do Estado do Ceará. A fauna e flora encontram-se prejudicadas e muitas espécies já desapareceram

O Parque Estadual do Cocó, localizado na Capital cearense, vive em grande contraste com a cidade

O rio Cocó, que nasce na Serra de Aratanha e percorre três municípios e pela Capital cearense, vem sofrendo as consequências das ações dos ser humano. Estudos feitos e divulgados pelo Instituto Água (IA), em julho de 2017, apontam que seria necessário, em média, R$ 400 milhões para revitalizar a água da bacia hidrográfica mais importante de Fortaleza. O rio, que possui 50 km de extensão, não encontra-se completamente poluído ainda, e aguarda o início do projeto desenvolvido pela Secretaria do Meio Ambiente (SEMA), chamado “Pacto Pelo Cocó”.

Segundo o articulador das Unidades de Conservação (UCs) estaduais da SEMA, Leonardo Almeida Borralho, 36, “o “Pacto pelo Cocó” objetiva implementar medidas para recuperação do sistema fluvial do rio, ao longo de toda sua extensão, promovendo a restauração da navegabilidade, adequação aos parâmetros recomendáveis para alcançar a balneabilidade, bem como a manutenção de suas funções ecológicas e conservação de sua biodiversidade associada”. Ele também relata que a degradação do rio está associada a um processo histórico.

A área que corresponde ao local do parque atualmente era o mesmo espaço que recebeu a construção das salinas sobre a planície fluviomarinha. Logo em seguida, com a desativação das mesmas, a área foi dominada por edificações diversas, impedindo a regeneração natural. Atualmente com o Parque já criado, os incêndios florestais, a poluição e as ocupações irregulares são as principais ameaças.

Ao ser perguntado sobre a previsão de início do projeto, Leonardo Borralho afirmou que “o secretário pode informar sobre, já que por ser um grande projeto (maior que a criação do Parque), isso envolve inclusive o governador na decisão e articulação política e repasse de recursos”. As obras estavam previstas para começar desde junho de 2017.

Apesar de extrema poluição, ainda existem diferentes espécies de animais vivendo no Cocó

Estima-se cerca de 200 espécies de diferentes animais vivendo no parque. São mais de 100 espécies de aves, mais de 55 espécies de mamíferos, além de mais de 30 espécies de serpentes e lagartos, conforme o levantamento feito pelo Instituto Verde Luz este ano. O cavalo-marinho, espécie antes encontrada no rio, hoje já não é mais visto, segundo Rusty de Castro, 57, educador ambiental e fundador do Eco Museu Natural do Mangue.

Muitas ONGs trabalham de diversas formas para melhorar a condição e sobrevivência do quarto maior parque urbano da América Latina, porém encontram dificuldades. “A maior luta das ONGs, que já dura mais de 40 anos, é a luta contra o desmatamento do Cocó. Apesar da proteção legal, mais de 400 hectares de dunas florestadas foram deixados sem proteção, entregues à especulação imobiliária. Estamos enfrentando muita pressão de especuladores que querem derrubar toda a floresta, com os animais dentro, para construir edifícios de luxo. Essa, sem dúvida, é a maior luta”, explica Gabriel Lima de Aguiar, 23, conselheiro do Parque do Cocó representando o Instituto Verde Luz.

“Fortaleza sem o Cocó seria o mesmo de comparar a um corpo sem um pulmão” Rusty de Castro, 57

A atual presidente do Grupo de Interesse Ambiental (GIA), Claudia Bezerra, 50, diz que o maior trabalho deles, ultimamente, está associado às questões de educação ambiental para toda a população: desde jovens até adultos. Para ela, existe “muita fala e pouquíssima ação” em relação às atividades previstas para restaurar a água do Cocó.

Apesar da poluição dominar boa parte do Rio, o ambiente ainda possui condições de manter a sobrevivência dos animais. A recuperação da água também é uma grande chance que viabilizaria novos projetos para a área. O articular das UCS lembra que é possível deixar o rio Cocó mais natural e menos degradado, paulatinamente, por meio das atividades previstas nos eixos temáticos do Pacto pelo Cocó.

Ele enumera as medidas que colaboram com esta meta sonhada: “elas devem passar pela implementação de saneamento básico ao longo de toda a bacia hidrográfica do Rio Cocó; pela viabilização de metodologias efetivas de fiscalização e monitoramento ambiental ao longo do curso do Rio; pela proibição de ocupações irregulares em Unidades de Conservação e Áreas de Preservação Permanente; através da recuperação de áreas degradadas inseridas na bacia hidrográfica do Rio, ampliando sua cobertura vegetal nativa; e criação de programas de educação ambiental, ecoturismo e atividades de esporte e lazer”, comenta Leonardo Almeida Borralho.

A beleza natural do parque encanta visitantes que fazem trilhas e passeios

Como ficaria a capital cearense sem o Cocó?

As diversas ações do ser humano vêm degradando o meio ambiente durante as últimas décadas. Um estudo realizado pelo Observatório do Clima e outras 18 instituições descobriu que, em apenas 16 anos (2000 a 2016), o Brasil perdeu aproximadamente 190 mil quilômetros quadrados de áreas verdes.

Os resultados do desmatamento são inúmeros: queimadas, incêndios, efeito estufa, desequilíbrio ecológico, entre outros. “Fortaleza possuía 67% de cobertura vegetal original em 1965 e hoje tem menos de 2,9%, sendo a maioria dessa cobertura compreendida como o Parque do Cocó”, explica Gabriel Lima.

“Muita pressão de especuladores que querem derrubar toda a floresta para construir edifícios de luxo”

Gabriel Lima, 23

A possibilidade de viver na capital cearense sem o Parque traria grandes consequências. “Seria o mesmo de comparar a um corpo sem um pulmão. O calor seria bem maior, a qualidade do ar seria bastante diferente e a qualidade da água submersa também seria afetada. Também ficariam comprometidos muitos outros ambientes como a fauna e flora”, comenta Rusty de Castro.

Sonha-se com vários cenários para a revitalização do Cocó. Com a água limpa, existe a possibilidade de novas práticas na região, como lazer, turismo, pesca, dentre outras. A poluição gerou uma grande quantidade de matéria orgânica que desencadeou a eutrofização, processo onde existe um excessivo crescimento de plantas aquáticas, para níveis que afetam a utilização normal e desejável da água. “A água fica escura, muitas plantas crescem no espelho d’água, o oxigênio diminui e os animais vão morrendo. Isso resulta na perda da biodiversidade em cadeia, impactando na pesca comunitária, nas pesquisas científicas, no ecoturismo e na educação ambiental. Com a poluição do rio, muitas famílias pararam de utilizar sua água para uso doméstico, e em alguns locais a pesca também se tornou perigosa. A eutrofização impediu a navegação no rio. Um rio limpo significaria a recuperação de todos esses serviços e muitos outros”, finaliza Gabriel Lima.

Texto: Brenda Mamede (6º semestre/Jornalismo-UNI7)

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