PRIMEIRA PAUTA: Tempos Pandêmicos: ilusões reais
A quarentena, para quem mora só, é mais solitário do que nunca. Por mais que morar só possa parecer solitário, não é, mas, em “tempos pandêmicos” ficar só é solitário. Em “tempos não pandêmicos” não sou só, na verdade quase não paro em casa, tenho minha família que me ama, mas não gosta muito do meu jeito comunista de ser, segundo eles mesmos. Tenho a Lorena, que se apaixonou por mim justamente pelo meu jeito comunista de ser; tenho meus amigos que, por mais diferentes que possamos ser, são essas diferenças que nos unem; tenho meu trabalho que, por mais que não possa parecer o “Melhor Trabalho do Mundo”, gosto de exercer.
Quando a tal quarentena começou, esperava que talvez fosse apenas umas semanas e no máximo um mês. Não esperava que ficaria tanto tempo dentro de casa. Foram duros nove meses e, nesse período, saí no máximo três vezes. Não contava os minutos para sair e ir ver a Lorena. Fomos obrigados a manter um relacionamento à distância devido a essa quarentena. Inúmeras vezes implorei para ela vir passar esse tempo aqui comigo, mas ela é teimosa e em partes sou irresponsável. Lembro-me da última vez que a vi, mal sabia que começaria tudo isso. Acho que se tivesse consciência de tudo que se aproximava, teria aproveitado mais, teria beijado mais, teria dito que a amo e que ela é a mulher da minha vida. Acho que se trata de não esperar para amar, para demonstrar, para rir e chorar; a gente deve viver o hoje e, agora, só o que importa é ele.
Dia nove de dezembro de 2020. Acho que esse dia vai ficar marcado nos livros de história sobre o Brasil. O dia em que a quarentena é encerrada e enfim vou vê-la. Talvez a razão por ainda estar são fosse esse momento. Estou nervoso por esse encontro até que mais do que nosso primeiro. Acordo cedo, corro para tomar um banho. Enquanto tomo banho, a cafeteira já está preparando o café. Saio do banho, pego a xícara e encho de café, me arrumo e já saio de casa. Pego o primeiro 066 que passa, lotado como me lembrava. Desço uma parada antes do prédio dela. Cada passo que dou, sinto um gosto agridoce na boca e as borboletas no estômago. Paro em um Pão de Açúcar e compro uma rosa. Sabe, ela não liga muito para grandes gestos. Ela é mais de pequenas atitudes, segundo ela mesma, pois as pequenas atitudes formam o todo. Chego no seu prédio, o porteiro ainda me reconhece e nem interfona. Subo e fico em frente à sua porta. Toco a campainha e escuto seus passos em direção à porta…
Texto e foto: Pedro Guilherme (1º semestre – Jornalismo/UNI7)