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FORTALEZA 291: Da cordilheira ao mar, os caminhos de uma argentina no Brasil

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Em terras brasileiras desde 2011, Daniela Tamara vive na capital cearense desde 2015 e a cada dia descobre uma nova Fortaleza

Natural de Tucumán, no noroeste da Argentina, Daniela Tamara Fernandez teve sua primeira experiência na Terra Brasilis aos 15 anos. Fez um mês de intercâmbio em Blumenau, Santa Catarina, e logo se apaixonou pela cultura brasileira. “Comecei a ter  interesse em conhecer mais o Brasil, as pessoas daqui”, comenta.

Após um ano estudando direito na Universidad Nacional de Tucumán, Tamara – como prefere ser chamada – ouviu falar do Brasil novamente. A Universidade Federal da Integração Latino-Americana, Unila estava com seleção aberta para novos alunos. “Ia continuar no curso e gostava, mas resolvi me inscrever para a seleção pela experiência que eu tive antes”, lembra.

Durante quatro anos, enquanto estudava Ciências Políticas e Sociologia na Unila, Daniela fez de Foz do Iguaçu, no Paraná, o seu novo lar. Foi no primeiro ano da graduação, que Tamara conheceu Fortaleza. O principal quesito para a escolha da cidade foi o mar. Tucumán é colada à Cordilheira dos Andes, ou seja, a diversão era nas montanhas. Uma viagem até um local com praia traz muitos custos e demanda tempo. “O mar era algo muito distante e muito caro”, conta.

Olhando o mapa brasileiro, Tamara fez simulações de passagens para os locais mais distantes de Foz, e que tivessem praia. “Fiquei entre Recife e Fortaleza, e para cá estava mais barato, então comprei. Também nunca tinha viajado de avião, então foi um desafio viajar sozinha para uma cidade que não conhecia nada. Foi uma aventura”, confessa a argentina, hoje com 25 anos.

“[Fortaleza] uma cidade cosmopolita, mas, ao mesmo tempo, ter as relações humanas mais próximas, mais solidárias” – Daniela Tamara

Hospedada na casa de uma ex-colega de faculdade, Tamara visitou todos os pontos turísticos “famosos” da capital cearense: Praia do Futuro, Praia de Iracema, Ponte Metálica, Dragão do Mar, Beach Park e outros locais estavam no roteiro. “Eu conheci Fortaleza só pela ótica da pessoa que me recebeu. Os pontos mais turísticos, o circuito mais tradicional, mas, para mim, era tudo novidade, então você fica impactado”.

No último ano da faculdade, Daniela retornou à capital cearense acompanhada de uma amiga. Mais preparada e planejada, a jovem circulou pela cidade durante um mês, por meio do couchsurfing, um projeto de hospitalidade e hospedagem que existe em todo o mundo. “Escolhemos muito bem as pessoas que iam nos hospedar e conhecemos a cidade por diferentes olhares de quem morava aqui”, garante. Para ela, não existe uma Fortaleza, mas várias.

Daniela Tamara (a primeira da esq. para dir.) junto com amigos na Praça do Ferreira (Foto: Arquio Pessoal)

Encantada com as novas faces de “Fortal City”, a jovem argentina começou a considerar a mudança para cá. Muitos fatores contribuíram para essa escolha. Estar próximo do mar era um dos mais importantes. “Outro foi o fato de Fortaleza ser uma capital. Me identifiquei com o meu estado, por ser uma capital, mas no interior. Dessa correria, de ser um mundo de possibilidade, uma cidade cosmopolita, mas, ao mesmo tempo, ter as relações humanas mais próximas, mais solidárias”, ressalta. Além dos atrativos culturais, é de ser a sede de uma das universidades mais requisitadas do Nordeste, onde Daniela pretendia cursar mestrado, a Universidade Federal do Ceará (UFC).

Apesar da escolha de Tamara, sua família não ficou muito feliz. Tratava-se de um lugar ainda mais distante de casa, com mais empecilhos para uma possível visita e por não estar no escopo de locais economicamente importantes para o país, como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. “Eles não entendiam a minha escolha de um estado que não era tão central quanto os outros”, lamenta.

“Acho que Fortaleza – o Ceará – tem muito potencial para valorizar as suas próprias raízes. Fortaleza precisa se conhecer mais” – Daniela Tamara

Adepta de pensamentos positivos e acreditando no poder da palavra, a jovem idealizou diversas vezes a vida em Fortaleza. “A gente tem que ter muito cuidado com as palavras, pois quando você fala, as coisas podem acontecer. Quando falava, convencia que era aquilo que eu queria fazer”. Depois da graduação, Tamara morou no Rio de Janeiro com a irmã, trabalhando como garçonete para poupar dinheiro e realizar o sonho de morar em Fortaleza.

Em abril de 2015, ela se mudou para a Terra da Luz. Instalou-se em uma república que havia conhecido em sua segunda visita à cidade. Conseguiu emprego como pesquisadora auxiliar em uma tese de doutorado e assim conseguiu também, focar nos estudos para tentar mestrado na UFC. No período de seleção, começou também a trabalhar em uma Organização Não-Governamental, Instituto Brasil África, onde trabalha como assistente do presidente da instituição, até o momento.

Depois de se estabilizar e perceber que o objetivo maior havia sido alcançado, Daniela se deu conta de que nada mais era impossível, bastava querer. “Com o tempo, as peças daquilo que era uma incerteza, começaram a se encaixar. Isso faz com que você não crie amarras. Você começa a perceber que se deu certo aqui, o mundo não tem mais fronteiras”, completa.

Hoje, apenas dois anos após sua chegada em Fortaleza, Tamara já é uma típica moradora local. Em um apartamento que divide com um amigo, no centro da cidade, conhece o bairro como a palma da sua mão. “Vi que era uma ótima localização para fazer tudo. Perto da universidade, dos centros culturais, das praias e dos movimentos culturais mesmo. Foi um lugar que eu caí de sorte e não quis sair”.

As “Fortalezas” de Daniela se dividem pela culinária, praias, diversidade cultural e pelas relações humanas que, segundo ela, permanecem delicadas, mesmo na correria de uma cidade cosmopolita. Já as manifestações culturais, na visão da jovem, poderiam ser mais unidas e não divididas e muito segmentadas. “Embora exista uma grande diversidade de tribos urbanas e grupos culturais, eles convivem de maneira caótica. Não é uma convivência pacífica, é desigual”, lamenta.

Ela reflete ainda sobre a desvalorização das coisas locais pelos próprios fortalezenses. Para Tamara, o que vem de fora tem muito mais valor e apreço pelas pessoas, que acabam desconhecendo suas próprias raízes. “Acho que Fortaleza – o Ceará – tem muito potencial para valorizar as suas próprias raízes. Fortaleza precisa se conhecer mais. Acho que o temor do cotidiano às vezes impede que as pessoas conheçam o que está bem na frente delas”.

Além da admiração por Fortaleza, Tamara descobriu uma paixão pelo Ceará como um todo. Visitou cidades como Independência, Flecheiras, Crato, Crateús e Barbalha. Além da capital, tem uma característica especial para a argentina, e que, apesar de seus contrastes, são, como ela diz, “um mundo de possibilidades”.

 

Ana Vitória Reis

7° Semestre

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