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EMMANUEL MONTENEGRO: Mergulho no literário sem sair do jornalismo

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Entrevistas

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Jornalista fala sobre a relação entre as duas áreas e do seu livro-reportagem “Tramas de calçada”

Emmanuel Montenegro, Jornalista, autografando seu livro “Tramas de calçada” (Fotos: Lylla Lima)

Emmanuel Montenegro, Jornalista, autografando seu livro “Tramas de calçada” (Fotos: Lylla Lima)

O jornalista e escritor Emmanuel Montenegro, 38 anos, é formado em comunicação social. Já trabalhou no portal do jornal O Povo, foi repórter da TV Diário, em Iguatu, dentre outras experiências. Atualmente atua como assessor de imprensa na agência de comunicação Convence e escreve histórias de vidas que são publicadas na sua empresa BPM Edições (Biografias, perfis e memórias).

Na entrevista ao Quinto Andar, Emmanuel revela que sua grande paixão é o jornalismo literário e quais são as dificuldades encontradas para se fazer um Novo Jornalismo no Brasil, que vai muito além das notícias sem emoção que estampam os jornais.

Quinto Andar – Como você descobriu o jornalismo literário e quando começou a praticá-lo?
Emmanuel Montenegro: Ligava muito o jornalismo à noticia de jornal e não me via escrevendo-as. A frieza do factual não me interessava. No 3º semestre da faculdade, descobri o jornalismo literário. Li na época algum texto e descobri a coleção da Companhia das Letras, que é sensacional. O segundo passo foi começar a exercitar e criei um blog. O primeiro texto foi “A caminhada com Maria”. Fiz a caminhada pela primeira vez, percorri todo o percurso, do início da ponte da Barra do Ceará até a Praça da Sé. Ali pude observar e descrever as cenas, que são características do jornalismo literário.

QA – O que é o jornalismo literário e como você o vê nos dias atuais?
EM: O jornalismo literário é um texto mais profundo e hoje o texto do jornalismo tem que ser rápido, para vender e, por isso, não se investe em textos longos. Ele é muito forte em revista, porque as revistas estão buscando retratar mais histórias de vida. Uma revista bem bacana é a Rolling Stones que traz bastante história de músicos, discos, gravadoras.

QA – Qual é o espaço que o Jornalismo Literário tem hoje no Ceará?
EM: O jornal O Povo tem o caderno Dom com textos inovadores, criativos, que ampliou seu espaço par outros cadernos. O Diário do Nordeste tem a revista Gente que tem perfis, notícias mais extensas. Esse é o mercado que vejo em Fortaleza. Não se investe tanto por conta desse imediatismo da notícia, mas eles estão abrindo os olhos.

QA – Como é feito o jornalismo literário no Brasil?
EM: Uma boa referência de jornalismo literário no Brasil é a revista Realidade, que existiu de 1967 a 1977, época da ditadura militar. Na época, eles começaram a trazer temas diferentes, inovadores e tinha boa tiragem. Hoje, há a revista Piauí, que teve um texto que me inspirou “Os super ricos de São Paulo”. Ele me abriu os olhos de como a gente podia se envolver na reportagem. Tem também uma revista chamada Brasileiros, que trazia perfis, minibiografias e histórias de vidas focadas no ser humano. Hoje ela já traz notícias e outros assuntos para poder se manter no mercado, mas ainda preserva características de jornalismo literário.

QA – Por que as pessoas estão buscando o jornalismo literário, como as biografias, por exemplo?
EM: As histórias de vida estão muito em voga, as pessoas procuram isso. É como se todo mundo quisesse contar sua história, por conta dessa valorização da imagem e todo mundo tem uma história única. Por isso, elas contam suas histórias no Instagram e outras redes sociais.

QA – A biografia faz parte do jornalismo literário e hoje você trabalha escrevendo biografias de pessoas anônimas. Do seu ponto de vista, como é a polêmica da liberação da biografia não autorizada?
EM: Eu não gosto de censura, sou contra. Mas, acho que vale você se colocar no lugar do outro, pensar na invasão da privacidade por mais que seja uma figura pública. Acho que não precisa contar tudo, é uma questão de respeito. No livro, por exemplo, uma das mulheres, a Rebeca, não autorizou eu publicar algumas coisas.

Emmanuel Montenegro mostra seu livro na sessão autores cearenses na livraria (Fotos: Lylla Lima)

Emmanuel Montenegro mostra seu livro na sessão autores cearenses na livraria (Fotos: Lylla Lima)

QA – Como você vê o jornalismo literário dentro do curso de jornalismo? É trabalhada essa opção ou ainda são fechados ao tradicional?
EM: Os cursos já estão investindo nesse público, ainda é pouco, mas já é melhor do que no meu tempo. Em São Paulo e Curitiba, por exemplo, tem um curso de pós e ele é muito procurado [Pós-Graduação em Jornalismo Literário]

QA – Existem duas maneiras de escrever jornalismo literário: o narrador e o onipresente. Como escolher entre elas?
EM: Depende do texto que você vai escrever. Você percebe se é mais um narrador observador ou se entra na história. No ‘Tramas de Calçada’ fui observador. Contei a história de cinco mulheres, até porque quando você entra na história, você acaba emitindo alguma opinião e preferi só relatar para não fazer nenhum julgamento.

QA – Como surgiu a ideia de escrever o livro-reportagem “Tramas na calçada”?
EM: Eu precisava escolher um tema para me formar, já sabia que seria um livro-reportagem e algo relacionado a Iguatu. Aí, uma amiga me lembrou da calçada da Rebeca. Vi que podia contar a história da calçada da Rebeca, a história de Iguatu e resgatar o costume de sentar nas calçadas, que era bem comum no interior.

QA – Quais são os planos para o futuro profissional?
EM: Investir mais na minha empresa a BPM, onde escrevo e publico livro de não ficção, histórias de vidas e estou trabalhando em um livro para lançar em outubro.

Lylla Lima
6º semestre

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