CRÔNICA: Estamos apressados e sem apreço pela vida
Nós estamos apressados, isso é preocupante. Cheguei a esse raciocínio hoje, numa caminhada de 15 minutos pelo Centro de Fortaleza, e consegui sentir o impacto do tempo escasso sobre o ser humano.
Era apenas mais um dia em que meu caminho precisava ser seguido em direção ao trabalho, mas me senti angustiado pelos segundos disputados tico à teco com o ponteiro vermelho do relógio.
Logo ao descer do ônibus, atravessei a primeira rua tranquilamente e fui pego de surpresa quando uma senhora quase foi atropelada tentando passar na frente dos carros, com sinal verde para os automóveis. O instinto de parar salvou a mulher apresada de quase 60 anos.
Nesse instante percebi que os segundos estão supervalorizados em alguns momentos específicos. Não era um beijo da pessoa amada, um impulso para salvar alguém, o abraço de algum ente querido próximo da morte. Era apenas pressa. Vontade de ganhar segundos totalmente dispensáveis na travessia de uma rua.
Claro, o cotidiano é uma loucura para a grande maioria das pessoas. Há grande possibilidade dela ter pegue um congestionamento, demorado no coletivo, se atrasado para bater o sagrado ponto na firma e ter se apressado para reduzir os danos que essa sequencial desventura pode causar.
Mas é possível pensar no famoso “se” em ocasiões assim. E se o carro não reduz a velocidade por também ter em sua condução um motorista apressado? E se o sensor de perigo não funciona nessa hora? É preocupante se o que tiver para dar errado, simplesmente der.
Instantes depois desta senhora, presenciei mais duas pessoas acometidas pela pressa. Uma rua estreita, carros passando e um sinal vermelho para pedestres, é tudo que parece excitar os apressados e estimular a impaciência irrepreensível nessas mentes conturbadas e acostumadas com a luta caótica por segundos ganhos.
Me preocupa o momento em que o tempo vai parar, numa colisão inevitável entre duas pressas sem freio. Um passo adiante e pode não ser que se tenha ganhado segundos no dia, mas perdido o tempo que restava.
Não sei se a maioria de nós, mas estamos vivendo em um frevo acelerado e frenético. São passos largos a caminho de quê? “Me faltam poucos minutos para chegar, preciso correr!” Fico com a impressão de que, apressados, somos descuidados. Tenho preferido andar por longos anos a correr por hoje e só.
CRÔNICA: Adailson Silva (8º semestre – Jornalismo/UNI7)