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Surfe: no quintal de casa, imensidão do mar se transforma em oportunidade

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Esporte aquático possui várias modalidades, cada uma com suas características e equipamentos específicos. Surfistas contam suas histórias de quebra de preconceito e medo

Texto: Jefferson Valente (Jornalismo/Uni7)


Léo Moraes e os jovens do projeto Maré Alta: “Filhos e filhas que o mar me deu” / IMAGEM: Jefferson Valente

Diferente das finalidades que a prática do surfe tem atualmente, no passado, os seus praticantes acreditavam que ao entrar nas águas, com suas pranchas de madeira, eles estariam cultuando o espírito do mar. Uma visão diversa da que temos hoje, com a modalidade sendo vista como estilo de vida.

Desde 2020, o calendário olímpico na modalidade surf de prancha curta (Shortboard Surfing) faz parte do casting dos Jogos Olímpicos de Tóquio. O surfe é um esporte aquático versátil que possui várias modalidades, cada uma com suas características e equipamentos específicos.

No Ceará, a modalidade é uma das mais fortes da região. Além disso, há uma crescente ascensão do bodyboard, com uma considerável comunidade de praticantes. Essa modalidade se destaca por ser acessível e permitir aos surfistas diferentes tipos de ondas, incluindo aquelas que quebram mais próximas à costa, o que pode ser mais desafiador para os surfistas de pranchas maiores.

PROJETO MARÉ ALTA
Na praia da Taíba, município de São Gonçalo do Amarante, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF),o Projeto Maré Alta existe há 10 anos. O litoral da cidade é conhecido por suas boas condições para a prática de esportes aquáticos, como o surfe em suas diversas modalidades.

A ação do grupo oferece, pela modalidade bodyboard, a oportunidade para que os jovens dos localidades próximas se conectem a algo que vai além do esporte e tenta reverter a ideia estigmatizada que foi atribuída à prática. O nome Maré Alta tem relação direta com o ambiente que os surfistas usam para praticar o esporte: o mar.

Mas, segundo Leonardo Moraes, o Leo, 42 – filho de pescador, nativo da Taíba e um dos idealizadores do projeto – o título da iniciativa tem ligação com as falas que eles ouviram logo no começo de que “estavam remando contra a maré”. Assim, o nome surge para reverter as críticas.

Influenciado por um primo que praticava o esporte e, como muitos de seus alunos, o filho de pescador começou a surfar muito cedo, mas encontrou barreiras, principalmente financeiras, para conseguir comprar o material, como prancha e pé de pato. Foi quando ganhou o equipamento de alguns amigos que decidiu criar o projeto Maré Alta “e oferecer aos jovens da comunidade a oportunidade de surfar e não somente ficar olhando quem vinha surfar de fora”.

Entrevista com Leonardo / VÍDEO: Jefferson Valente

Além disso, de acordo com Leonardo, o começo não foi nada fácil, pois os pais dos alunos não tinham uma boa visão do surfe, o que prejudicou a iniciativa. Assim, na tentativa de conseguir atrair “bons olhos”, foi preciso atribuir outras atividades ao projeto, como aulas de inglês e iniciativas de sustentabilidade, como a limpeza da praia.

Atualmente, o idealizador transforma a vida de 50 crianças, jovens e adolescentes anualmente, a quem ele chama de ‘filhos do mar’, com um esporte que também mudou a sua vida. 

Gessika de Morais Gabriel, 23 anos / IMAGEM: Jefferson Valente

PARA ALÉM DO SURFE
No projeto Maré Alta, Gessika de Morais Gabriel, 23, encontrou-se. Como ela mesma destaca, passou a acreditar mais em si mesma, conseguiu perceber que era corajosa ao encarar o mar e, com o apoio de Leonardo, passou a se sentir parte de algo, espaço que anteriormente era preenchido por um sentimento de não pertencimento a nada.

Hoje, liderando as redes sociais do projeto e trabalhando para trazer mais visibilidade à iniciativa, Gessika encontrou a área que ama: a comunicação, principalmente, a publicidade e propaganda atrelada a projetos sociais. Foi na iniciativa que ela percebeu que realmente gostava disso e que poderia seguir carreira profissional nessa área. Atualmente, a cearense cursa Publicidade e Propaganda.

Com o projeto, Leo conta que tenta transformar a vida dos jovens e despertar o sentimento de pertencimento. Mostrando aos alunos o caminho que devem seguir, seja dentro da água surfando ou fora dela. Mas sempre trabalhando em prol de mudar sua realidade e a das pessoas que estão ao seu redor.

“É se unir com aquilo que você mais gosta, que você mais tem amor, e virar uma coisa só.”

Para quem assiste de fora à prática de um esporte tão desafiador como o surf, com a imensidão do mar e o imprevisível das águas, pode ser assustador. Mas o sentimento é diferente para aqueles cujas vidas foram transformadas por esse esporte, saindo de uma rotina comum de trabalho e estudos para uma rotina de treinos em busca de mudança de vida e realização de sonhos.

“É como se todos os problemas da minha vida tivessem acabado… nada mais importa… é um momento de paz… no momento em que você se une ao que mais gosta, vira uma coisa só”, ressalta Valdomiro Barbosa, 17.

O começo pode ser desafiador, especialmente se você não tem muita familiaridade ou experiência com o mar, explicou a jovem Daiane Gonçalves, 16. Ela se mudou da serra de Itapajé para a Taíba, e o simples ato de mergulhar era assustador. Porém, hoje, você não diria isso ao ver a jovem correndo para o mar com sua prancha. É como se aquilo sempre tivesse feito parte de sua vida.

Daine Gonçalves e Ana Júlia Bezerra correndo para o mar / Vídeo: Jefferson Valente

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