Notícias

Mountain bike: cearense é pioneiro na modalidade e segue na performance

Categoria:

Uni7 Informa

0

Alfredo Brasil, um atleta de 66 anos, que foi o responsável por trazer a categoria do mountain bike para Fortaleza

Texto: Hugo Eduardo (7º semestre/UNI7)

Surfe, triathlon, provas de Ironman e uma vida dedicada ao ciclismo. Estamos falando de Alfredo Brasil, um atleta de 66 anos, que foi o responsável por trazer a categoria do mountain bike para Fortaleza. Tudo começou nos anos 80, quando “Alfredinho”, como é conhecido, viajou a São Paulo e resolveu trazer bicicletas para as terras cearenses.

“Aqui em Fortaleza a história do mountain bike começou nos anos 1980, comigo. Eu já tinha experiência no ciclismo. Fui até São Paulo com um primo e trouxe algumas bicicletas para venda na loja do meu tio, que era uma loja de material de construção. Depois disso o mountain bike começou a evoluir aqui. Ainda não tinha bicicleta para essa modalidade na região. A primeira bicicleta a ser lançada para essa modalidade foi só em 1980, onde tinha todos os aparatos necessários para a prática dessa modalidade”.

Por ser uma categoria considerada recente, o mountain bike teve que passar por mudanças, até mesmo na estrutura das bicicletas, para tornar o esporte mais praticável. Alfredo também foi responsável por parte dessa evolução.

“Eu testei basicamente todas as bicicletas da categoria. Testei bicicleta na África. Fui um dos primeiros brasileiros a utilizar uma bicicleta 29, que levei pro Marrocos e em 2011 atravessei o Marrocos , fazendo 635 km de mountain bike em uma 29, testando. Eu sempre disse que a bicicleta dessa configuração não estava correta. Não era boa para as pessoas baixas. As pessoas até perguntavam ‘quem eu era’, pra dizer que estava errado”.

Alfredinho acrescenta que “não foi ninguém que passou seis dias rodando no deserto em cima de uma bicicleta. O cara conhece ou não conhece. Eu testei e escrevi, e o que escrevi aconteceu depois de um ano e meio. As caixas de bicicleta mountain bike todas foram reduzidas e a tecnologia evoluiu”.

PAIXÃO PELO ESPORTE
A paixão por esse esporte vem do berço. Alfredinho relata que sempre foi apaixonado pelo ciclismo, e aproveitava os dias que passava nas fazendas do avô, para praticar o esporte.

Alfredinho no pódio em primeiro lugar / Imagem: Arquivo pessoal

“Na realidade, eu sempre gostei muito de bicicleta, desde pequeno. Me criei em cima de uma bicicleta. Andei muito em estrada carroçal. Meu avô, meu tio, tinham umas fazendas e sítios. Eu sempre estava andando nessas estradas, era onde eu podia andar” Alfredinho.

ALGO MAIS
Sua dedicação e paixão pelo esporte, de forma geral, fizeram crescer a vontade de buscar algo a mais. Alfredo relata que primeiramente se identificou com a modalidade do mountain bike, e então começou a competir em provas dentro da cidade de Fortaleza e também fora do Ceará.

O atleta já havia participado diversas vezes do Iron Man (considerada uma das provas de triathlon mais difíceis do mundo), mas queria “algo que tinha mais casca grossa no planeta terra”. Foi quando conheceu a Cape Epic, considerada umas das provas de maior grau de dificuldade do mountain bike.

CAPE EPIC
Considerada uma ultramaratona de mountain bike, a Cape Epic é uma prova de oito dias, onde os competidores passam por um percurso de 613 quilômetros e 16.850 metros de escalada total.

Alfredinho além de buscar a realização dessa prova, foi premiado como o primeiro competidor da América do Sul a finalizar esta prova por três vezes, recebendo o título de “Amabubesi”.“Depois que eu me identifiquei de verdade com a modalidade, comecei a competir com as provas aqui em Fortaleza e fora do estado. Eu queria ir atrás de algo que tivesse mais casca grossa no planeta terra sobre mountain bike. Inclusive eu já havia participado de várias provas do Ironman. Descobri a maior prova de todas em grau de dificuldade, a Cape Epic” Alfredinho. O cearense ainda completa a fala, contando sua experiência na prova.

“Em 2008 foi muito perrengue. Nessa prova que acontece na África do Sul, foram 968km em nove dias. Eu subi, 18 mil de altimetria, durante esses nove dias. Passei tudo que uma pessoa pode passar. Você fica hospedado em um hotel cinco estrelas, gelado de manhã e à noite bate seis graus. Você só leva uma sacola com aqueles mantimentos. A sua mala fica em um caminhão viajando atrás de você, mas você não tem contato com ela. Só quando acaba. Na sacola você bota tudo que vai comer e usar durante os nove dias. Foi a prova mais difícil da história do Cape Epic, inclusive morreu um competidor”, disse o competidor.

AMABUBESI
Alfredinho relata que após a conclusão de três provas da Cape Epic, o competidor recebe o título de Amabubesi, que é como é chamado um grupo de leões africanos. O cearense foi o primeiro da América do Sul a conquistar esse feito.

“Quando você conclui três provas de Cape Epic, você recebe um título e passa a ser chamado de Amabubesi, que significa um grupo de leões africanos. Eu fui o primeiro da América do Sul. Nenhum ciclista aqui tinha virado Amabubesi até 2010. Botei a bandeirinha do Brasil lá”, relatou.

PERRENGUES
O espírito aventureiro lhe rendeu diversos perrengues. Alfredo cita dois. “Uma vez eu estava com um parceiro, estava descendo uma estrada e quando olho para trás não vejo mais o meu parceiro. Ele passou direto na curva e se não fosse as árvores, ele tinha caído lá de cima. Ele estava entrelaçado nas árvores. Foi um perrengue macabro. Ele estava com um corte enorme na perna. A sorte é que tínhamos um ponto de apoio 12 km de onde estávamos e era descida. Isso facilitou e conseguimos chegar”.

“Outro perrengue aconteceu no deserto. No deserto, as poucas árvores que existem parecem uns arames farpados. Eu passei em um local onde tinha uns arbustos e um desses arbustos entrou no meu corpo. Tinha pouca gente comigo, mas um amigo conseguiu me ajudar e me tirar de lá. Essas provas são assim. Todo dia você tem que dormir doído, muita gente passando mal todo dia, então são muitos perrengues”, continua.

MOUNTAIN BIKE
Segundo Alfredinho, o mountain bike não é para qualquer pessoa, em razão das dificuldades de alto grau. “Não é todo mundo que quer sair de casa no calor e ir para o meio dos matos. É um esporte para quem tem sangue nos olhos e gosta. Posso dizer porque sou atleta de quase todos os esportes. A mountain bike faz uma diferença muito grande do próprio ciclismo. Se você piscar o olho, você cai. Pode ter um buraco, uma pedra, uma lama, você não sabe. O atleta precisa dominar a bicicleta pra se destacar. Às vezes ele se destaca na marra. Mas o ciclismo em si dele, não é tão bom. Se somar a melhora dele na técnica, ele se destaca. Isso seria um composto para um ciclista de mountain bike”.

Alfredo ainda relata os privilégios de ser um praticante da modalidade, principalmente no Brasil, por conta das paisagens naturais do país. “Você consegue andar em todo canto. Na praia, nas dunas. Onde der visual a bicicleta chega. Nossa região é riquíssima. Temos serras, praias. O Brasil todo é assim, maravilhoso para andar de mountain bike. Você fica apaixonado pela modalidade por conta disso, o contato com a natureza”, conta.

EVOLUÇÃO DA CATEGORIA NO BRASIL
O experiente atleta se mostra animado com a evolução do Brasil na modalidade. “Os níveis hoje em dia no Brasil estão muito altos na modalidade. Hoje temos atletas que têm potencial mundial nas competições. Tanto na linha masculina como feminina. Cada ano esse esporte dá um passo longo. Temos provas no Nordeste que classificam a nível internacional. O povo vem de fora pra competir”, diz.

MARANGUAPE
Ao contar sobre o mountain bike no Ceará, Alfredinho fez questão de valorizar a cidade de Maranguape, considerada por ele o berço da categoria no estado. “Temos que dar valor ao ciclismo de mountain bike de Maranguape. Lá é o berço, o celeiro de mountain bike daqui. Lá tem tudo, a serra, a tradição, entre outros”.

Tags: , , ,

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

vinte + 12 =

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.