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Futebol fora de campo: profissões movidas pela paixão dos torcedores

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Histórias de pessoas fascinadas pelo futebol e que conseguiram juntar a profissão com o amor pelo esporte

Texto: Alexia Viana (6º semestre/UNI7)

Brasil: país do futebol. Apesar da criação do esporte ter sido na Inglaterra, foi o Brasil que recebeu esse grande título. Tendo em vista o quão enraizado ele é na cultura brasileira, é inegável dizer que o futebol é um elemento presente na vida de uma generalidade da população, e isso só tende a aumentar.

De acordo com o estudo “Marcas em campo! O futebol e a mídia dentro e fora das 4 linhas”, desenvolvido pela Kantar IBOPE Media em 2021, os fãs do esporte representaram 68% de todo o público brasileiro com acesso à internet – um aumento de 12% desde 2013.

Para alguns, o futebol é mais do que uma paixão de torcedor; é uma parte integral da vida profissional. São pessoas que cresceram jogando, assistindo e torcendo pelos seus times favoritos e mostram como o amor pelo esporte pode guiar carreiras e transformar vidas.

Manuella Viana e Adolfo Bernardo em suas profissões / Imagens: Arquivo pessoal

CONQUISTA FEMININA
A participação feminina no futebol sofre uma forte desaprovação há muitas décadas. A publicação do decreto-lei 3.199, em abril de 1941, durante o governo de Getúlio Vargas, impôs a proibição da prática de determinados esportes por mulheres – entre eles, o futebol – pois os consideravam incompatíveis com as condições de sua natureza. A lei perdurou por 38 anos até a sua revogação.

Fatores do passado como esse deixam cicatrizes no presente que necessitam de muito esforço para serem removidas no futuro. Sem dúvidas, a realidade atual é bem diferente. Entretanto, mulheres inseridas no futebol ainda sofrem atualmente. Não somente nas quadras, a exclusão da presença feminina no meio do futebol é um desafio ainda a ser superado.

O jornalismo esportivo surgiu no Brasil no início do século XX, junto da popularização do futebol no país. A participação feminina nesse meio pode ser considerada, portanto, extremamente tardia: a primeira jornalista esportiva mulher no Brasil de que se tem notícia é Maria Helena Rangel, formada pela faculdade Cásper Líbero na década de 1940 e convidada a participar da Gazeta Esportiva em 1947.

Em um cenário onde o desabrochamento do jornalismo esportivo feminino ainda não havia sido consolidado no Ceará, Manuella Viana se torna figura que quebra barreiras ao estrear no primeiro programa de rádio composto por uma bancada 100% feminina. Junto de Débora Britto e Isabella Cavalcanti, o programa foi ao ar nos anos de 2006 até 2009, passando por diversas emissoras de rádio.

Manuella Viana apresentando em programa jornalístico esportivo “Boletim do Esporte & Cidadania”


Filha de jornalista, Manuella decidiu que iria seguir a mesma carreira ao acompanhar o pai em seus eventos. Enquanto isso, foi graças a sua paixão pelo futebol que decidiu a área em que queria trabalhar. “Com o tempo, passei a frequentar muito o estádio. E eram tantos jogos que eu queria assistir, torcia para o Ceará. Mas eu era tão fanática, gostava tanto de ir para o estádio, que comecei a ir para outros jogos”. Foi durante os seus anos de faculdade, frequentando o Castelão, que surgiu a ideia de criar o programa Futebol de Salto Alto.

“Todo domingo, a gente entrava ao vivo e falava sobre o futebol. Os destaques da semana, os resultados de jogos. Comentava sobre a atuação do time, de jogador tal etc”, afirma a jornalista. “Daí, veio a TV Fortaleza, que convidou para que a gente pudesse também apresentar um programa na Câmara Municipal, voltado para comentar futebol e outros esportes. Então, assim, a gente fazia um programa diário falando sobre futebol”.

Apesar de serem responsáveis por estarem fazendo um marco no jornalismo feminino no Ceará, isso não poupou as comunicadoras de passarem por situações de preconceito.

Manuella conta as situações recorrentes que ela e suas colegas passavam ao ir em estádios divulgar o programa de rádio e fazer entrevistas: “Eles diziam assim… ‘Mulher não entende de futebol, não. Mulher só entende quando a bola entra no gol. E olhe lá’. A gente escutava muitos comentários assim. Muitos, muitos, muitos. Mas aí, com o tempo, a gente foi mostrando o nosso trabalho. Nós fomos sendo respeitadas”.

Isabella, Manuella e Débora, em gravação com Adílson, ex goleiro do Ceará / Imagem: Reprodução internet

Hoje assessora política, Manuella decidiu se afastar do jornalismo esportivo ao receber o diagnóstico de autismo do filho para se manter mais próxima dele. Quando questionada se conseguia se ver retornando para o esporte no futuro, afirma que não retornaria para a rotina de trabalho passada.

“Acho que hoje, talvez, eu até buscaria mais algo voltado realmente para o autismo. Incluir através do esporte, porque o esporte é uma ferramenta maravilhosa de inclusão. Então talvez eu trabalhasse, vamos supor, no futebol de forma que pudesse agregar alguma coisa às pessoas com autismo”.

FISIOTERAPIA ESPORTIVA
É consenso que, dentro dos bastidores dos jogos, existem profissionais que compartilham da mesma paixão pelo futebol, cada um contribuindo para o sucesso dos times. Entre eles estão os fisioterapeutas, que possuem papel indispensável no futebol profissional.

A fisioterapia esportiva no Brasil começou a ganhar destaque na década de 1970, acompanhando o crescimento e a profissionalização do esporte no país. Foi no final dos idos de 1960, com o decreto-lei 938, quando se agravaram as condições de saúde da população devido à sobrecarga epidemiológica e à deficiência do sistema assistencial brasileiro, que a profissão começou a ser regularizada e legitimada. Com a profissionalização dos clubes de futebol e a crescente demanda por desempenho atlético, a década de 1990 viu um aumento significativo na importância dada à fisioterapia esportiva.

Os clubes começaram a investir em departamentos médicos completos, incluindo fisioterapeutas especializados. Em 2007, a fisioterapia esportiva se tornou uma especialidade reconhecida pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO).

Essas evoluções e regulamentações mostram como a fisioterapia esportiva se tornou uma parte integral do esporte profissional no Brasil, contribuindo significativamente para o sucesso e a longevidade das carreiras dos atletas.

Entusiasmado pelo futebol desde cedo, Adolfo Bernardo recebeu a oportunidade de integrar a escolha de carreira na fisioterapia com o seu apego pelo esporte ao entrar para a equipe do Ceará Sporting Club. “Foi um momento em que realmente a chave virou para mim profissionalmente,” afirma. “Foi onde eu vi uma oportunidade de usar a minha profissão para ajudar as pessoas, ajudar os atletas”.

Adolfo Bernardo em campo / Imagem: Felipe Santos

É papel do fisioterapeuta saber como atender as necessidades específicas do corpo e da função que cada um deles exerce no campo. Acompanhar as equipes nas viagens e trabalhar não somente na recuperação de lesões, mas também na prevenção delas, são ainda funções do profissional. Atualmente, em geral, times contam com quatro ou cinco fisioterapeutas esportivos atuando junto a jogadores.

https://www.facebook.com/CearaSC/photos/a.285383874821962/1116544678372540/?type=3&locale=pt_BR

IDADE DE APONSENTADORIA
Outro aspecto discutido é a média de idade de aposentadoria dos jogadores de futebol ser de 35 anos, 30 anos mais jovem do que a idade mínima para homens de outras profissões. Adolfo explica a causa. “O jogador tem uma rotina muito intensa de treinos e jogos, onde, muitas vezes, a parte social tem que ficar um pouco de lado. E chega um momento dentro da vida do atleta, dentro da expectativa dele, que essas prioridades vão alternando, sem contar também o fato de outras lesões. O nível de sobrecarga é muito alto, pela demanda de treino, pela demanda de jogos.”

Quando perguntado se já havia acompanhado um caso de algum atleta, profissional ou não, que a lesão o afastou definitivamente do esporte, o fisioterapeuta comenta que “é um processo doloroso não só pro atleta, mas pra nós também”. “Porque, a partir do momento em que você tenta trabalhar uma recuperação, você também é desafiado àquilo. E você tem que entender que, pelo fato de a lesão ser muito grave, você pode não conseguir”.

Porém, trabalhar com o futebol não se trata apenas dos momentos difíceis. Para Adolfo, a maior realização da sua carreira trabalhando com um time de futebol profissional foi estar com o time em viagens internacionais. “Disputar uma competição internacional foi algo que realmente me marcou muito, porque eu observava muito na televisão quando não trabalhava aqui. Então, eu me senti realizado quando pude viver isso com o Ceará. Então, ter o conhecimento também de outras culturas, mas principalmente fazendo uma das coisas que mais gosto”.

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