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Cestas da vida: arremessando sonhos e superando desafios

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Duas histórias mostram que existem maneiras de enfrentar preconceito no esporte e cativar paixão pela modalidade da bola laranja. Leia mais

Texto: Leonardo Neres (6º semestre/UNI7)

Valdeci Cardoso impulsiona a carreira de jovens e adolescentes através do esporte / Imagem: Rede Social / Reprodução

No reino das quadras, onde o som da bola ecoa como uma melodia e os corações dos jogadores batem em conjunto com cada lance, o basquete se revela mais que um simples esporte. É uma arte em movimento, uma dança coreografada entre habilidade e estratégia, em que cada cesta é uma obra-prima e cada jogo uma história a ser contada.

É nesse ritmo que o basquete trabalha com o coletivo e a harmonia com a sua equipe. O foco principal é acertar a cesta do seu adversário, podendo fazer de um a três pontos, dependendo da área em que for arremessada. Esse objetivo torna o esporte dinâmico e envolve o público em cada pontuação. Não é à toa que é um dos esportes mais praticados do mundo.

No entanto, por trás da glória das grandes arenas, existe uma realidade muitas vezes negligenciada: a carência do basquete em comunidades desfavorecidas. Enquanto algumas crianças têm acesso a instalações de ponta e treinadores especializados, outras são deixadas para trás, sem oportunidades de desenvolver seu talento e paixão pelo esporte.

Nessas comunidades, as quadras improvisadas tornam-se o único refúgio para os jovens que buscam uma válvula de escape para os desafios diários. O basquete não é apenas um jogo para eles; é uma fonte de esperança, uma oportunidade de transcender as adversidades e sonhar com um futuro melhor.

VISIBILIDADE NA NARRAÇÃO
Não somente para jovens e crianças das periferias, como também outro tipo de comunidade que é deixado para trás quando se fala de esporte: a comunidade LGBTQIAPN+. Para quem cresceu ouvindo que tal esporte é de homem ou de mulher acaba se acanhado e abandonando os seus sonhos por causa dos seus familiares, e de acordo que cresce, a sua paixão pelo esporte acaba se transformando em medo por estar vivendo em um ambiente LGBTfóbico.

“Eu acho que o primeiro grande ponto de partida para eu ser narradora é que o meu grande sonho na vida sempre foi contar histórias”, explica Marcela Maeve. Desde criança quando escrevia histórias, contos e roteiros que entendia que o sonho da sua vida era ser jornalista, e com o passar do tempo ela queria unir o seu desejo da profissão com uma outra paixão: o esporte.

E unindo esses dois amores ela foi contratada como estagiária da Globo em 2021, na editoria de esportes. A partir daí Marcela não criou apenas um marco na vida, e sim de toda uma comunidade: Marcela foi a primeira mulher trans contratada da Globo a estar na editoria do esporte, a primeira a dar um passo e orgulhar todo o movimento.

Marcela Maeve faz história em ser a primeira mulher trans do mundo a narrar jogos de esporte / Divulgação: NBB

“Quando eu entrei na Globo, me lembro claramente uma das perguntas que me fizeram na entrevista que a pergunta foi quem era as minhas maiores referências, quem são os profissionais em que mais me inspiro. Percebi que, de 10 nomes que falei, nove eram narradores. Foi quando virou uma chave de ‘caramba, estou indo para uma área sendo que todo mundo que me inspira é de outra, da narração’”.

ADRENALINA DO BASQUETE
Foi com esse pensamento que Marcela decidiu virar narradora. Após o fim do seu estágio na Globo, Marcela se manteve no mundo do esporte e queria trabalhar com a narração. Mas no futebol? Não, no basquete. “É um pouco desafiador, mas é um esporte, é um dos melhores, um dos que eu mais gosto. Então é sempre muito bom você poder narrar”, frisa.

Por causa desse amor pelo basquete, a jornalista integrou-se ao Novo Basquete Brasil (NBB), o campeonato brasileiro adulto masculino de basquete. Marcela narra diversos jogos na NBB, tornando sua voz uma marca registrada.

“Basquete é um esporte extremamente dinâmico, você tem questão de cinco segundos, está narrando um lance e pode acontecer outra coisa. Então tem que estar sempre antenado nesse aspecto para narrar e também tem que conseguir passar a emoção certa e isso é muito difícil, porque você está narrando. Tem uma cesta de um lado, tem que narrar, aí já tem a jogada trabalhada, já tem que narrar, e ao mesmo tempo, quando tem um grande lance, precisa fazer um diferencial de um para o outro”.

Além de estar à frente das narrações do NBB, Marcela é engajada nas redes sociais, principalmente na plataforma X (antigo twitter), onde comenta sobre esportes em geral para mais de cinco mil seguidores. Na rede social, a narradora retém o seu público com suas opiniões e curiosidades.

“Eu converso muito no Twitter com [outros] narradores, converso com pessoas que me seguem, com pessoas que eu sigo e aí eu uso. Então, a rede social é importante até como um termômetro de público. O Twitter acho uma ferramenta útil nesse aspecto, até mais do que o Instagram, no meu caso”, finaliza Marcela.

IMPORTÂNCIA
Marcela fez história não só como a primeira mulher trans trabalhando no esporte da Globo, mas também como a primeira mulher trans como narradora de basquete profissionalmente. Tamanhos marcos, mas pouco reconhecidos pelos outros.

Em matéria publicada em 2021 na página do Globo Esporte, Marcela fala sobre sua visibilidade dentro do trabalho, mas uma frase chamou a atenção: “Cada conquista individual se torna coletiva da comunidade trans”. Com o conteúdo, a jornalista compartilhou suas vitórias para encorajar outras pessoas transgênero a estar nos espaços com que sempre sonharam. Hoje, no editorial esportivo é possível encontrar a diversidade de profissionais com a entrada de mulheres na narração, pessoas pretas e LGBTs.

PANTANAL BASKETBALL
Colocar crianças e jovens da periferia para sonhar dentro das quadras e ver a necessidade de criar um projeto em um bairro carente foi apenas um dos objetivos que Valdeci Cardoso fez ao escolher ser professor de basquete da comunidade em 2010.

Residente do bairro Planalto Ayrton Senna, localizado em Fortaleza, Valdeci, objetivando ajudar pessoas a sonharem com um futuro melhor, criou em 2016 o Pantanal Basketball. Porém, para realizar o projeto, Valdeci enfrentou diversos problemas, incluindo o espaço.

“Infelizmente, para a gente fazer o esporte acontecer no bairro Planalto Ayrton Senna, existem vários desafios e muitas dificuldades. Um dos maiores é o espaço, pois lá não tem nenhuma quadra, e a gente tem que migrar para os colégios. Mas, infelizmente, as direções dos colégios não liberam com facilidade o espaço de quadra para a comunidade”, confessa.

Alunos realizaram um treino um treino misto de movimentação, defesa e ataque / Vídeo: Arquivo pessoal

FORMAÇÃO SOCIAL 
Mesmo com todas as adversidades que os jovens enfrentam perante a periferia, Valdeci procura utilizar maneiras para levar uma visão de futuro aos moradores.

“O basquete mostra como essa criança pode lutar, como essa criança pode ter um futuro melhor, porque a realidade das competições, como são em diversos locais, eles visitam, eles veem outra realidade e conquistam, através do esporte, bolsas de estudo. A gente faz uma formação social, fala a respeito de valores da família, valores de caráter, sobre como conseguir um emprego, as oportunidades que aparecem, que tem que estar preparado. Fala que o basquete anda junto com a educação”.

Com a importância do projeto, diversos jovens conseguiram bolsas de estudos nas principais universidades da Capital e até estudar e jogar basquete em São Paulo, com tudo pago.

“Através desses exemplos, as outras crianças veem que realmente podem ter um futuro e buscar sonhar. Para ser um jogador de basquetebol, ser um grande profissional, estudar em uma boa faculdade. E é muito positivo esse grande poder que o esporte tenha na vida de cada jovem e de cada criança e adolescente”, conta.

MOTIVAÇÃO E PROJETOS
Focando sempre no futuro, Valdeci pensa em criar um núcleo em cada escola do bairro para que todas as escolas tenham a formação e auxiliar também na disciplina escolar, mesmo com a dificuldade das instituições aceitarem o projeto. “Infelizmente não é fácil e a gente não desiste. O projeto é seguir em frente, mudar mais vidas, lançar mais atletas, conseguir mais bolsas e enviar mais jovens para oportunidades de emprego e também se divertir”.

Na ação, até os papais e mamães também têm a oportunidade de jogar basquete, a convite do professor. “Eles estão fazendo a parte deles somando com a comunidade, para a gente ter um futuro melhor para a nossa crianças e para a nossa juventude com tudo mudar a realidade do nosso bairro, mostrando que favela não é carência, favela é potência, e o esporte muda vidas”, finaliza o profissional.

Confira o episódio no podcast:
Para conhecer mais sobre o tema, ouça o nosso podcast sobre o basquete com Marcela Maeve e Valdeci Cardoso.

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