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RONALDO SALGADO: Códigos de construção da literatura e do jornalismo

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Uma reflexão sobre o jornalismo literário nos dias de hoje e os rumos do impresso

Ronaldo sempre foi uma pessoa ávida por ler e fruir textos (Fotos: Angélica Oliveira)

Ronaldo sempre foi uma pessoa ávida por ler e fruir textos (Fotos: Angélica Oliveira)

Jornalista, escritor e professor, Ronaldo Salgado, acredita que o jornalismo literário (JL) tem muito a oferecer e a engrandecer a consciência profissional dos jornalistas para compreensão de certas particularidades. Para ele, embora o futuro do jornalismo impresso seja incerto, as características de um texto jornalístico-literário é algo interessante a se pensar.

Ronaldo não viveu muito o jornalismo literário como profissional, mas pretende aposentar-se e dedicar-se mais a sua paixão. Ele recebeu o Quinto Andar, em sua sala na Universidade Federal do Ceará (UFC). Confira a opinião e a reflexão de professor.

Quinto Andar -: Como você enxerga o jornalismo literário (JL) nos dias de hoje? Há diferenças em relação ao praticado no passado?
Ronaldo Salgado: Primeiro, é importante definir o que é jornalismo. Para o pensador alemão Habermas, jornalismo é tudo aquilo que foi publicado na imprensa antes do advento da modernidade. Aquela imprensa que ainda não era a noticiosa. Era um jornalismo de ideias, de produção de textos com caráter literário, de artigos e de textos de opinião. Esse jornalismo seria a matriz conceitual de um Jornalismo Literário. A seguir, incorporam-se os folhetins e as crônicas. Durante a transição do séc. XIX para o séc. XX vêm as grandes reportagens. Tempos depois, surgem os livros-reportagens, romances-reportagens, crônicas reporteiras, entre outros. Há, sim, uma estética diferenciada até porque as temporalidades se modificam e são agregados outros valores.

QA – O contra-agendamento diz que não somente a mídia pauta os discursos e formas de interação das pessoas, mas que também existe uma influência, principalmente do terceiro setor, no discurso midiático. O JL também sofre influência disso?
RS: O jornalismo cultural, por exemplo, tenta dar conta de um utilitarismo, noticiando, muitas vezes, que vai haver show de fulano, ou que tem a exposição de arte tal. Contudo, quando o jornalismo cultural se permite trabalhar perfis desses artistas fazendo um perfil humanizado, na perspectiva de compreender a inserção desse personagem num contexto de vida, passa-se a adotar elementos do JL. Daí o JL acaba influenciando-se por esse agendamento. Não vejo isso como algo negativo, mas é preciso pensar criticamente a respeito.

QA – Como as novas mídias podem influenciar o JL?
RS: A presença dessas mídias é avassaladora no nosso cotidiano. Muitas crianças já chegam à escola com o suporte eletrônico, lendo jornais e revistas pela internet. Será que essas pessoas terão o hábito de folhear impresso mais tarde? A partir disso, podemos pensar que o jornalismo precise relocalizar seu papel. Assim, esses jornais podem, talvez, voltar a incorporar caraterísticas do jornalismo no passado que era uma imprensa analítica e, mas opinativa. Aí entra o JL para trabalhar abordagens aprofundadas. Por outro lado, os blogs trazem espaço para um texto mais literário.

Ronaldo pretende dedicar-se a escrita de livros jornalísticos-literários após aposentar-se (Fotos: Angélica Oliveira)

Ronaldo pretende dedicar-se a escrita de livros jornalísticos-literários após aposentar-se (Fotos: Angélica Oliveira)

QA – Em meio à crise em que o jornalismo impresso se encontra quais os rumos o jornalismo tomará?
RS: Já podemos observar uma pequena mudança no projeto gráfico do jornal O Povo desde o final dos anos 90; e agora com a edição de domingo. Isso é interessante porque vai estabelecer uma nova identidade para o jornalismo impresso, talvez. O futuro ainda é incerto. Acho que vai haver uma mudança, mas não consigo identificar qual. Acredito que JL tem uma possibilidade de crescimento nessa perspectiva, mas ainda é prematuro apostar numa opinião.

QA – O jornal New York Times publica algumas Hard News com elementos de JL. O que você pensa a respeito dessas notícias sendo abordadas de forma literária?
RS: É preciso ter consciência até onde podemos ir. Mas, é claro que algumas pautas oriundas do Hard News que repercutiram muito, vão despertar interesse nos jornais para trabalhar numa dimensão maior. É importante ter cuidado com a banalização e questões éticas.

QA – O que mais marcou você ao longo da sua carreira no jornalismo literário?
RS: Não vivi muito o JL como profissão, mas como leitor. Fui editor, chefe de reportagem, editor de setor especializado. Embora tenha trabalhado muito no jornalismo factual, nunca me afastei da vontade de fruir outra expressão verbal, outra estilística e estética de texto.

QA: O que você tem feito e quais são os seus planos para o futuro?
RS: Tenho projetos de me aposentar e trabalhar com livros-reportagens com temáticas especificas e com jornalismo opinativo. E também continuar a fazer revisão de livros. Também quero contribuir, de uma maneira mais informal, com reflexões para as futuras gerações para não desanimarem com o jornalismo.

Imagem de Amostra do You Tube

QA – Você escreveu o livro A Crônica Reporteira de João do Rio. De onde veio a ideia de escrever?
RS: Eu já vinha orientando trabalhos de JL e já havia lido muito sobre o João do Rio. Daí alguns colegas me incentivaram a desenvolver a estudar o João do Rio. Então, mergulhei no universo dele e criei o conceito de crônica reporteira no decorrer da pesquisa.

Angélica Oliveira
7º semestre

 

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