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TURISMO RELIGIOSO: Cultura da fé no Cariri

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Todos os anos, cerca de oito milhões de brasileiros se deslocam em viagens dentro do país, movidas  pelo sentimento da fé.

Divulgação/ASCOM Juazeiro

No Ceará o exercício da fé é uma das características mais marcantes e intensas do povo, fazendo do Estado um ponto de peregrinação importante para pessoas que vêm em busca de alento espiritual, bênçãos e curas. 

As crenças e a religiosidade dos cearenses têm impactos direto na vida e na cultura do estado, faz girar a economia e projeta nossas tradições para outros lugares do Brasil.  Várias cidades no Ceará se tornaram famosas por suas tradicionais e anuais romarias e suas rotas de peregrinação. Os santuários e as romarias nas cidades de Canindé, Santana do Cariri, do Crato, e de Juazeiro do Norte, formam o principal eixo das viagens, alguns vêm a pés, outros até mesmo de joelhos, sempre tendo como motivação a fé. 

Juazeiro do Norte, localizada a 491 km ao sul de Fortaleza na Região do Cariri, é terra do conhecido Padre Cícero Romão Batista, ou simplesmente “Padim Ciço”. É o município mais conhecido nesse contexto, importância tão grande, que até mesmo o Secretário de Turismo da Cidade, é Padre. O santo popular da cidade também é seu fundador. Padre Cícero nasceu no Crato, no ano de 1844, e participou da emancipação de Juazeiro em 1911.  

Padre Paulo César, é secretário de turismo e romaria, ocupa o cargo desde 2021. Teólogo, filósofo e psicólogo, além de mestre em ciências da religião, sendo responsável pela administração das romarias e da fiscalização da estrutura de Juazeiro para receber os fiéis. Para entender um pouco mais da importância do turismo religioso para a formação da identidade cultural de Juazeiro do Norte, do Cariri, e do Ceará, o secretário fala sobre a cidade e sobre o Padim Ciço.      

Wilnan Custódio – Quem foi o Padre Cícero?

Paulo César – Primeiramente o Padre Cícero, foi um sacerdote filho natural de Crato. Foi o mentor, o gestor, o pai intelectual, o pai espiritual, fundamental da própria Juazeiro. É um personagem considerado santo no coração do povo fiel, do povo romeiro, e o Padre Cícero fez daquele pequeno vilarejo, ele sonhou, idealizou, projetou, trabalhou e fez Juazeiro ser quem ela é. Pomposa, uma cidade com uma beleza cultural, turística e religiosa. É uma cidade que está no centro do Cariri com toda sua potência e imponência. Temos o Aeroporto, temos a Rodoviária, o Teleférico, o estádio Romeirão, belezas que fazem do turismo de Juazeiro um diferencial aqui no nosso Cariri.

WC – Como acontece essa fundação de juazeiro em torno da fé, e da liderança de Padre Cícero?

PC – Essa presença do Padre Cícero, essa idealização de Juazeiro, ela veio gradativamente acontecendo. A chegada dos romeiros, os afiliados do Padin que faziam morada e se juntavam ao redor da capelinha para rezar, o Padre que visitava as famílias. Então aquele vilarejo começou a ganhar uma proporção essencial e fundamental de pessoas que vinham de diversos estados para ver, conhecer e ouvir os sermões e as orientações do Padin. Aos poucos Juazeiro começou a ganhar uma estrutura, e com toda essa população que já se aglutinava ao redor desse vilarejo que ganhava um extensão geográfica significativa, o Padre Cícero correu para emancipação de Juazeiro. Então tornou-se o primeiro prefeito e primeiro Padre da Cidade e tem a sua imagem com o grande referencial sagrado, simbólico, que sustenta a religiosidade do turismo de Juazeiro.  

WC – Qual a importância você atribui a Juazeiro do Norte na formação da identidade cultural do Ceará?

PC – Juazeiro do Norte é uma bacia cultural. Com a chegada de muitos romeiros, que construíram a cidade, trouxeram seus filhos, fizeram morada, e daqui não saíram mais. Então, desses de fora que vieram e se tornaram filhos de Juazeiro, foram surgindo talentos, grandes artesãos, homens com habilidade para trabalhar com madeira, com palha. Juazeiro tem personagens  que  trazem consigo esse dom cultural, que faz Juazeiro ser o que é hoje, pessoas que tem uma atração espontânea para culinária, para o meio artístico, para dramaturgia, para cenografia, temos hoje aqui na região tão próximo a nós, a UFCA que tem o curso de Jornalismo, a Urca que tem o curso de teatro, então tudo isso só enaltece a região. Os filhos de Juazeiro fazem Juazeiro transbordar de cultura e tradição. 

WC – Quais são as principais festas religiosas organizadas em Juazeiro do Norte?

PC – Olha, antigamente nós poderíamos falar de três ou quatro romarias. Hoje nós não podemos mais.  Juazeiro é uma cidade romeira, Juazeiro respira e exala romaria todos os dias. Temos romeiros chegando todos dias, por transporte terrestre, aéreo, por transporte público e privado,  moto romarias, caminhada, temos romarias desde a semana Padre Cícero, a romaria de finados, a das candeias, de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Nós temos inúmeras romarias, aquelas que são fixas, mas nós temos uma romaria continuada em Juazeiro.    

WC – Quantas pessoas anualmente visitam a Cidade?

PC – Não temos dados oficiais, o que nós temos é o que é divulgado pela mídia, em média dois milhões e meio de romeiros por ano que vem a Juazeiro nas mais variadas romarias. Temos romeiros de todos os lugares do mundo. A maior massa é do Nordeste, mas nós temos romeiros de São Paulo, do Rio Grande do Sul, de diversos lugares que querem viver a experiência sagrada que Juazeiro exala.  

WC – Quais ações a secretaria está realizando na promoção do conforto dos visitantes ou para atrair mais romeiros também?

PC – A secretaria de romaria, ela age com as demais secretarias, educação, saúde e tantas outras. Visitas aos ranchos, hotéis, pousadas, para garantir que os romeiros sejam bem acolhidos, e oferecer a eles uma acolhida digna. Eles são figuras especiais para nós, essenciais para nossa cidade, para o nosso comércio, para o nosso turismo religioso, então o melhor acolhimento que nós podemos oferecer a ele.

WC – Como juazeiro se preparou para lhe dar suas festas em tempos de pandemia, quais foram as ações da prefeitura e mais especificamente da secretaria? Vocês trabalharam em conjunto com a secretaria de saúde? 

PC – A secretária age de uma forma transversal, em parceria com outras. Para ter uma boa romaria, precisamos de uma cidade limpa, aí entra a SEMASP, precisamos nos oferecer culturalmente, aí entra a cultura. Para ter romaria em tempos de pandemia a gente precisou ter suporte da saúde para vacinação, posto de atendimento de verificação de pressão, ambulâncias nos pontos turísticos como a estátua do Padre Cícero, Upas bem preparadas, a educação que ensina as crianças a tratar bem os romeiros que chegam na nossa cidade. Então para fazermos uma boa romaria, precisamos trabalhar em conjunto. E a gente trabalhou para que além da programação presencial, fosse ofertado também a transmissão dos eventos de forma online.  

WC – Com a construção de santuários em outras Cidades do Ceará e do Cariri, o santuário de Fátima no Crato, o santuário de Santo Antônio em Barbalha, o de Benigna em Santana do Cariri, você considera que isso aumenta ou diminui o número de  romeiros em Juazeiro?  

PC – Concorrência nós nunca vamos ter, o romeiro que chega em Juazeiro, que ver a imagem do Padre Cícero, e sai a Barbalha para ver a imagem de Santo Antônio, ou de Nossa Senhora de Fátima no Crato ou Benigna em Santana do Cariri, é o romeiro que está acostumado a visitar Juazeiro. Quem vai à Itália não se contenta em ir apenas à praça São Pedro, por exemplo.   

WC – Existem mais santuários sendo construídos aí na região? 

PC – A cidade de Araripe deseja ter, e luta pela imagem de frei Damião, Farias Brito também, as cidades perceberam que ter um monumento sagrado tem sido um atrativo turístico, e o que toda cidade quer é ser útil, produzir economia e se sustentar a partir dela.

WC – O que fez Padre Cícero ser aclamado como Santo?  

PC – A pessoa do Padre Cícero, a sua forma acolhedora, o padrinho como ele é conhecido, o padrinho de tantas pessoas. Pessoas que vinham em busca de uma acolhida, de uma palavra, em busca de alguém que desse a eles uma expressão de acolhimento. Aquele que acolheu, fez o diferencial, sem olhar para cor, raça ou sexo ou mesmo situação econômica. E essa forma dele se tornou tão natural em Juazeiro, que não tinha como não ser aclamado como santo, como o santo do Nordeste tão próximo de cada um. Tão próximo que alguns guardam fotos, relatos e lembranças de um santo de um tempo tão próximo a nossa atualidade.  

WC – O senhor teria alguma história de fé, de algum romeiro que alcançou graça?

PC – Durante minha pesquisa de mestrado, encontrei uma romeira de tinha 88 anos e 88 anos de romaria também. Ela participou da romaria ainda bebe nos braços do pai, quando caminhava pela rua Padre Cícero quando ainda era barro e lama. Disse que foi agraciada por inúmeros milagres graças ao Padre Cícero Romão Batista.

Texto: Wilnan Custódio ( Jornalismo/ Uni7)

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