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Turismo ecológico e sustentável: o aumento da procura turística pela harmonia entre homem e natureza

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O ecoturismo não é assunto recente, mas a busca pela sustentabilidade no decorrer de viagens se tornou preferência por turistas nos últimos anos.

O Parque Estadual do Cocó é o maior parque natural em área urbana do Norte e Nordeste e o quarto da América Latina. (Foto: Alexia Viana)

A neurociência aponta que a interação com a natureza é essencial para o ser humano, levando a um impacto positivo na sua saúde física e mental. Tendo em vista a significância desse fato, muitas pessoas atualmente preferem fazer suas viagens em áreas onde possam acomodar-se com o meio e afastar-se da vida turbulenta na cidade. Segundo o Relatório de Viagens Sustentáveis da Booking.com de 2021, 96% dos brasileiros dizem que querem se hospedar em acomodações sustentáveis em 2022. 

O turismo e o meio ambiente estão constantemente relacionados, já que a natureza é a matéria-prima dessa atividade econômica. Entretanto, simultaneamente, ele traz diversos impactos negativos para os ecossistemas, como o desmatamento ou a poluição sonora, dos solos e das águas. Surgem, então, alternativas como o turismo ecológico e o turismo sustentável. 

Segundo o Ministério do Turismo, em 2021 a busca pelo ecoturismo no Brasil esteve em seu ápice, superando o panorama anterior à pandemia do Covid-19. O órgão governamental também afirma que as unidades de conservação federais obtiveram 16,7 milhões de visitas no ano. Dentre as 145 unidades de conservação existentes no Brasil, o Parque Nacional de Jericoacoara, no Ceará, foi a terceira unidade mais visitada no período, com quase 1,7 milhão de visitações. O turismo de natureza no Ceará é uma atividade extremamente diversificada. Em entrevista com o coordenador de Desenvolvimento dos Destinos e Produtos Turísticos da Setur, Valdo Mesquita conversa sobre turismo ecológico e turismo sustentável no estado e fala sobre o cenário atual  para essa prática. 

Estudos comprovam que a conexão com a natureza traz benefícios para a saúde humana. (Foto: Alexia Viana)

Alexia Viana: Alguns pontos turísticos não possuem capacidade para receber tantas visitas e acabam sendo extremamente explorados. Quais são as consequências do turismo em massa sobre o meio ambiente?

Valdo Mesquita: “Olha, essa tua pergunta é muito importante porque é justamente um dos pilares que a secretaria de turismo do estado, ela vem, ela tem… vem tendo essa preocupação, né. Ou seja, sem a sustentabilidade, sem o turismo que seja trabalhado com essa questão da preocupação do turismo de massa para que não crie um efeito de devastação desse espaço, logicamente nós não vamos ter um turismo sustentável. Então, assim, é, inclusive nós estamos com um projeto agora em que nós vamos pegar toda a extensão do litoral do Ceará – 575 km de litoral – que é onde nós vamos trabalhar justamente com essa questão do… da sustentabilidade do meio ambiente. Ou seja, nós vamos trabalhar com a questão de abastecimento de água, esgotamento sanitário e saneamento básico, certo? E, além disso, essa questão do turismo de massa é uma grande preocupação que hoje, a exemplo, o município de Jericoacoara, o destino de Jericoacoara, a vida de Jericoacoara, ela está recebendo uma grande demanda. Mas por que? Porque hoje tem um aeroporto onde tem uma ligação direta com vários estados do Brasil e que atraiu essa demanda para Jericoacoara. Mas tudo dentro de uma regularidade em que a Secretaria do Turismo tem essa preocupação de trabalhar com os planos de manejo. Ou seja, esses planos de manejo é que dizem a capacidade de carga daqueles destinos, certo? Então hoje, no estado do Ceará em si, a gente não… eu não tenho, nós não temos aqui essa percepção dessa coisa que está sendo explorada e está tendo uma questão de massa e vai ter um prejuízo, tá entendendo? Mas a gente sabe que, logicamente, isso existe sim, né, não só no Ceará, mas em outros, em outros… em outros locais aí na região nordeste do Brasil como um todo, até fora do Brasil, né. Então existe sim essa questão da exploração sem uma preocupação, sem um apelo da questão da sustentabilidade. Isso gera grandes consequências e com isso prejuízos para que essa atividade tenha uma, uma… vida futura. Então, é isso que eu acho que essa questão do turismo de massa é prejudicial para o destino turístico.”

A. V.: O que diferencia o turismo ecológico de outros tipos de turismo que possuem contato com a natureza, como o turismo rural ou o turismo de aventura?

V. M.: “O turismo ecológico e o turismo… e o ecoturismo… é, praticamente, é uma grande âncora também, principalmente que o Ceará hoje ele recebe grande demanda de fluxo internacional. E esse pessoal, e esse… esse turista, é uma característica muito, muito… do turista internacional, a busca do turismo de… ecológico, turismo de natureza, certo? Então, assim, é… tem aumentado bastante; a gente vê que a cada ano, de 2019 para cá, após a implantação do hub aéreo, de 2019 para cá tem aumentado bastante esse segmento das pessoas pelo turismo ecológico, o turismo de natureza, né. Então são essas pessoas que realmente buscam a natureza como o bem-estar, como a sua… a sua experiência naquele local.. Então, assim, é mais um turismo de contemplação, um turismo de… de preservação. Então é uma pessoa que tem uma consciência mais… vamos dizer assim, é um turista mais educado ambientalmente para estar naquele espaço. Então ele tem uma exigência maior quanto essa questão da natureza, da preservação, diferente daquele turista que vem mais para… para, por exemplo, um turismo que vem para um evento. Então ele fica muito preso a um centro, como esse aqui é um centro de convenções, tem essa diferença: não está ligado, relacionado totalmente à natureza, né. E outros turistas como de sol e praia, apesar que também, que na praia ele tem que ter também essa preocupação, sempre, né… essa questão da… de preservar aquele espaço, de não gerar lixo, de não degradar aquele espaço. A exemplo, as falésias ali de Beberibe, onde foram muito degradadas e hoje, graças à Deus a gente conseguiu criar leis de proteção para que não aconteçam essas degradações, certo? Porque isso prejudica o espaço e você perde a característica local, né. Então, com isso é muito importante quando a gente tem esse… essa visão, essa percepção de preservação, de conservação, de manutenção do espaço, do atrativo.”

A. V.: Quais são os principais desafios e obstáculos desse campo?

V. M.: “Eu diria que os principais ‘desafio’ é… pessoas. Quando a gente trabalha com pessoas é meio complicado, né… porque, como eu já falei, embora que a gente tente se sensibilizar e mobilizar criando ferramentas, colocando, é… mecanismos como lixeiras, como sinalizações, como pessoas orientando, norteando o turista naquele espaço e naquele momento, mas, infelizmente tem sempre alguém que quer quebrar algumas regras e quando isso acontece acaba criando algum dano para o meio ambiente. E isso… e isso não é legal, isso não é o turista que o Ceará quer, tá? Isso não é o Ceará que… isso não é o turista que a gente deseja. A gente quer justamente um turista que venha para cá de forma responsável, de forma consciente e que traga, sim, consigo, essa maneira de… de… de proteção, de… de preocupação com o espaço, com a nossa natureza e com os nossos atrativos.”

A. V.: O turismo ecológico e o turismo sustentável são campos muito procurados ultimamente. Qual a diferença entre as duas atividades?

V. M.: “Na verdade, eu não diria que tem diferença, eu digo que um se complementa, né. Como eu falei para você, inicialmente, o turismo ecológico, ou o ecoturismo, esse turista que busca mais esse… esse… essa convivência com a natureza, estar mais próximo à natureza. É um turista que busca destinos, como hoje nós temos aqui na região do Maciço, a região do Cariri, apesar de ter um apelo muito forte pela questão do religioso; na região da Ibiapaba é muito forte; e são justamente esses turistas que buscam as trilhas, é… se hospedar em camping, é o turista que busca as bicas, as cachoeiras, tá entendendo? Então é aquele turista que, como já falei, que tem a mentalidade mais… mais voltada para questões ambientais, né? Então, é muito forte e alguns deles muito utiliza… a gente utiliza esse âncora, essa âncora desse segmento para, até para o turismo de esporte e aventura. Porque dentro desses espaços, dentro desses… desses atrativos naturais, dessas… dessa natureza que… que não foi explorada, assim, de… degradada, então a gente consegue utilizar esses espaços, muitos deles, em sua maioria até para essa prática de turismo esportivo. Ou seja, além de eu trabalhar com a ecologia eu também trabalho com a pa… com outro segmento que é o turismo de esporte, esporte e aventura, bem como também tem crescido bastante nos últimos tempos o turismo de contemplação, né, contemplação de pássaros, contemplação da natureza. É… tem gente que sobe o pico alto para ver o pôr do sol, as dunas para ver o pôr do sol. Então tudo isso influencia em todo esse contexto do turismo no estado do Ceará.”

A. V.: O Ceará possui uma enorme diversidade de ecossistemas pelo seu território. Quais são os critérios para o planejamento de cada tipo de turismo ambiental na região?

V. M.: “É, essa pergunta é muito interessante também. É… o Ceará… nós dividimos o Ceará em regiões turísticas, certo? Então hoje nós trabalhamos com 12 regiões turísticas, porque cada ‘regiões’, como você mesma na sua própria pergunta fala, essa questão do território, nós trabalhamos, é… dentro de um formato onde há uma similaridade. Ou seja, eu não posso trabalhar do mesmo jeito que eu trabalho com litoral leste e oeste trabalhar a região da Ibiapaba. Da mesma forma eu não posso trabalhar a Ibiapaba como eu trabalho com a região do Cariri, porque cada região tem as suas características próprias, né. Então, assim, a gente trabalha, seguimento o nosso turismo, nosso plano de marketing, nossas ações, tanto de questões de implantação de infraestruturas, de aeroportos… nós temos 10 aeroportos regionais, a questão de infraestrutura de rodovias, e as questões também de promoção e marketing. Então tudo isso a gente trabalha dentro dessas segmentações. Quando nós vamos para as feiras tanto nacionais quanto internacionais ou alguma promoção publicitária em rádio, jornal, televisão ou revista de bordo e de aeronaves que a gente trabalha muito, a gente sempre trabalha dessa forma regional. Ou seja, Juazeiro, a região do Cariri a gente trabalha o turismo religioso e turismo cultural, a… os litorais, a região do litoral leste oeste a gente já trabalha  um turismo mais de sol e praia, um turismo de descanso, de lazer, de esporte e aventura náutico. Então, assim… então a gente tem vários… vários segmentos, na região da Ibiapaba, do maciço de Baturité já é esse turismo ecológico, esse turismo de natureza, de trilhas, de aventura, tá entendendo? Então é dessa forma que a gente trabalha o estado do Ceará. A gente realmente separa territorialmente o que a gente chama de região e dentro dessas regiões turísticas que tem suas similaridades a gente comercializa aquela região quando a gente vai para a feira separada uma da outra, porque tem público para todas as regiões turísticas do nosso estado. Tem o público que vem para o sol e praia, tem o público que vem para o negócio de eventos, tem o público que vem para… para o esporte e aventura, o ecológico, natureza, o contemplação, o de pesca, é… hoje também está muito forte também, turistas que vêm para pescar aqui no estado do Ceará. Então é isso, é toda… de todas as formas a gente tenta abraçar todos os seguimentos e todos os nichos de mercados para que a gente possa trazer o máximo de turistas, tanto nacionais como internacional, para o nosso estado e com isso a gente gerar receita, gerar renda, gerar oportunidades de novos negócios e emprego e renda para esses municípios, onde o turismo realmente onde acontece, que é lá na ponta, que são nos municípios, nessas regiões, nesses territórios.”

A. V.: Qual é o cenário atual do ecoturismo no Ceará e quais são as expectativas para o futuro?

V. M.: “Olha, o cenário atual é bastante… a nossa expectativa é muito boa. Por quê? Porque a gente, como eu já disse anteriormente, o nosso fluxo internacional cresceu bastante em 2018 e 2019. Infelizmente, em 2020 e 2021 nós tivemos a questão da pandemia e houve uma retração, mas não só no Ceará, mas no mundo inteiro, essa questão do turismo. Mas a gente… a gente vem observando, sim, com certeza. A gente tem… nós realizamos pesquisas de perfil de mercado e dentro dessas pesquisas, é… a gente justamente foi analisar o perfil dos turistas e saber quais são as suas… o que motivou esse turista a vir até o Ceará, né. Então a gente vem observando que cada vez cresce essa demanda por… pelo turismo de eco… pelo ecoturismo, pelo turismo ecológico e pelo turismo de natureza, então ele vem crescendo bastante. Para você ter uma ideia, nós saímos de 2, 3% e hoje está na casa dos 12% dos turistas que vêm para o Ceará, já vem em busca da questão do… do ecoturismo, do turismo de natureza, do turismo de esporte e aventura. Quando você soma essas três segmentações dá uma média de 20 e poucos por cento, então isso é bastante significativo para o estado do Ceará.”

A. V.: Quais são as medidas a serem tomadas para promover o ecoturismo no Ceará?

V. M.: “Como eu disse na sua pergunta sobre a questão dos territórios, nós dividimos o estado, né, o estado em regiões turísticas e com isso a gente promove. Por exemplo, o ecoturismo está em todas as… em todos os… em todos os… os potenciais turísticos. E quais são os nossos potenciais? É o sol e praia, é o negócio de eventos? Vamos dizer mesmo com o negócio de eventos: então, assim, a gente gera a situação, né, esse equipamento, por exemplo. O centro de eventos do estado do Ceará, que é aonde nós estamos aqui agora, ele é um equipamento totalmente voltado para essa questão da sustentabilidade e essa questão do… da natureza, ou seja, a água da chuva ‘são’ reaproveitadas para aguar nossas plantas, certo? Então, assim, em todos os seguimentos a gente trabalha; o sol e praia, a gente hoje trabalha com a questão da limpeza das praias em parceria com a SEMA, que é a Secretaria do Meio Ambiente, então as limpezas da praia, a gente trabalha muito forte isso. A questão das trilhas, a gente trabalha em parceria com as prefeituras, as trilhas ecológicas. Então, assim, a gente cria infraestrutura para que sejam geradas oportunidades para ser dinamizado o turismo de esporte e aventura também no interior nesses… como Quixadá, por exemplo, rampas, né, para rapé ou para voo livre, essas coisas todas. A região da Ibiapaba do mesmo jeito também, a região do Cariri. Cariri, Canindé, Quixadá, a gente trabalha muito forte também a questão do turismo religioso, e tudo isso sempre a gente trabalhando a questão da sensibiliza… de sensibilizar também esse turista para… que seja voltada para essa educação ambiental, para que ele tenha essa educação, para que ele tenha essa consciência que a natureza tem que ser preservada e que a natureza tem que ser protegida, né, e isso há um trabalho árduo. Realmente, são desafios como você mesma botou aí nas suas perguntas, mas que ao mesmo tempo é gratificante, porque a gente consegue sim, temos uma demanda. Hoje, o estado do Ceará no seu ápice em 2019 já ultrapassou a casa dos 3,6 milhões de turistas, isso é muito importante. Ou seja, é uma atividade que gera 12.6% do PIB do estado do Ceará, que o PIB é o Produto Interno Bruto, é toda a riqueza que o estado produz. Então 12,6% já é através do nosso turismo e tudo isso trabalhando de uma forma com os municípios, com os empresários e com as operadoras e as agências para trazer esses turistas e sempre com essa questão da qualificação, tanto profissional como empresarial, com a questão da sensibilização do turista para que ele não faça nenhuma degradação ambiental na nossa natureza, né. E com isso a gente consiga sempre ter um destino de qualidade.”

Alexia Viana (Jornalismo/ Uni7)

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