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OLHARES: Podcast para surdos mostra avanços da acessibilidade comunicativa

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Texto, Uni7 Informa

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A utilização do recurso visual é a principal ferramenta para tornar acessível o programa em áudio, a inserção de legendas e janelas de libras também são essenciais para a compreensão dos conteúdos 

Texto: Victor Marinho  

O consumo de conteúdo em áudio tem aumentado cada vez mais. Dados da Associação Brasileira de Podcasters (ABPod) revelam uma estimativa próxima a 34,6 milhões de ouvintes de podcast no Brasil. A introdução de podcasts acessíveis se torna um debate quando segundo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população surda do país é composta por mais de dez milhões de pessoas, e como todo espectador, estes também tem suas necessidades.  

Weverson Martins, 26, jovem surdo e coordenador da Associação dos Surdos do Ceará  (Foto: Victor Marinho)

Weverson Martins, 26, é um jovem surdo que acompanha podcasts, pelo menos os que são acessíveis. Para ele a inclusão por vezes é deixada de lado, pois muitos se privam somente a plataforma de áudio e não pensam que é possível abranger a audiência ao público surdo usando as plataformas de vídeo. A experiência de Weverson para compreender os conteúdos é ainda mais difícil quando a transcrição do áudio é somente legendada e não há a interpretação em libras, ele tem dificuldade para compreender o português, seu primeiro idioma é a linguagem de sinais. Assim são as pessoas surdas sinalizadas, já os surdos oralizados são os que tem a língua portuguesa em seu vocabulário

O intérprete de Libras, Ícaro Queiroz afirma que para um podcast ser realmente acessível para comunidade surda é preciso que seja disponibilizado em vídeo, legendado e com a janela para interpretação em Libras. O profissional ressaltou que é importante se atentar as transcrições automáticas, para ele, é um método impreciso, pois é necessário descrever mais do que as partes faladas, incluindo ruídos de fundo, efeitos sonoros, vinhetas e intenções da fala como uma gargalhada, uma voz trêmula de emoção ou uma ironia. 

O podcast “Eu não mordo”, voltado para debates de acessibilidade, torna-se um grande exemplo nessa produção. Além de vinculado nas mais conhecidas plataformas de áudio, o programa é legendado e interpretado em libras, sendo disponibilizado no Youtube. Acessível não somente no discurso, mas também em sua produção, o roteiro fica a cargo de Dani Cardoso, 28, jovem mulher diagnosticada com paralisia cerebral, que apesar de sua condição exerce o trabalho com excelência, formada em Letras, ela não deixa passar uma vírgula fora do lugar em seus roteiros. Prova disso é a voz do podcast, o locutor Assis Nogueira, comentou sua parceria com Dani e o quanto sua visão mudou após ter acesso aos debates oferecidos no programa, “todo episódio é uma desconstrução de preconceitos, um capacitismo que a gente combate com novas histórias e novos exemplos.”  

Vinculação do podcast “Eu não mordo” em plataforma de vídeo  (   Reprodução: Internet  )

No ar desde de fevereiro de 2020, o programa de áudio tem abordado diversas temáticas que permeiam a vida de pessoas com deficiência. O recente episódio 

“Setembro Azul”, tratou sobre o mês da visibilidade da Comunidade Surda Brasileira e trouxe como convidado, o próprio Weverson, que por sua vez comentou a experiência, em tradução dos sinais para o português ele disse: “Foi muito importante participar, mostrei as dificuldades das pessoas surdas em ter acesso a informação que geralmente nos é privada.”  

O capacitismo é o preconceito que tem como base a “capacidade” de outros seres humanos. Principalmente, quando se pensa na parcela da população que possui algum tipo de deficiência. 

Segundo Dani, a roteirista, os bastidores da produção desse episódio não foram fáceis, afirma que a ideia do “Eu não mordo” é ser de fácil compreensão, mas diante do não conhecimento da linguagem de sinais se viu sem saída. 

“Eu fiquei desesperada em não poder oferecer uma linguagem acessível em um podcast que fala sobre acessibilidade.”  

Dani também tem dificuldade com a fala, se comunica através de um programa de voz que reproduz o que digita, mas com a ajuda de um intérprete, conseguiu conversar com Weverson e produzir o episódio.  

Além disso para que as respostas do entrevistado fossem ouvidas, fora preciso a voz de um intérprete capaz de transmitir as emoções de Weverson. O técnico em rádio e também dublador, José Vitor Pinheiro, 28, foi responsável por representar a voz do jovem surdo no episódio. Ele afirma que por diversas vezes se emocionou ao ler as respostas de Weverson e tentou ao máximo ser fiel na interpretação das respostas.  

José Vitor também salientou a importância desse novo formato para o mercado, expôs sua vontade de investir e lamentou que grandes conglomerados de mídias ainda não tenham se atentado para este público que compõe boa parte da população e também tem direto a todo tipo de entretenimento. “O mundo não é feito só de pessoas que escutam, que enxergam, que falam. Ele é feito por todes. E a gente precisa de mais, de mais podcasts para surdos”  

“O mundo não é feito só de pessoas que escutam, que enxergam, que falam. Ele é feito por todes. E a gente precisa de mais, de mais podcasts para surdos”

O resultado final desse podcast foi visto por Weverson e compartilhado com seus colegas surdos. Segundo ele, foi uma experiência incrível e que todos que conhece da comunidade surda ficaram felizes. Nos sinais de Weverson, foi possível ouvir no episódio, “a falta de comunicação é uma falta de respeito, a sociedade precisa nos olhar como iguais” 

José Vitor, 28 

Vídeo: Victor Marinho

Serviço: 

“Eu não mordo – podcast da acessibilidade” 

https://open.spotify.com/episode/0wGpUZq3LNNo2JzuAHHg1g?si=Xs0csZVVS xGCjhLYZkyqOQ 

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