O universo junino das quadrilhas
Elas estão na vida de todos os brasileiros desde a infância. O que quase ninguém sabe são as histórias inspiradoras por trás das organizações e ensaios, além de ser um dos patrimônios imateriais mais amados pelos nordestinos
Giulia Chaves
Quando o assunto em pauta é patrimônio cultural, não há como não lembrar, no Nordeste brasileiro, das tradicionais festas juninas, celebradas no Brasil desde pelo menos o século XVII. Além das comidas típicas, dos santos homenageados – Santo Antônio, São João e São Pedro -, é possível admirar-se com a beleza das apresentações de quadrilhas, que vão de escolas até as mais profissionais. Desde a década de 1970 são realizados festivais e concursos competitivos. Um dos mais importantes do estado é o Ceará Junino, que foi paralisado por conta da pandemia que teve início em 2020.
Por mais que a realização dos festivais competitivos tenha surgido para alimentar a indústria cultural, transformando as quadrilhas em um produto a ser consumido, o turismo da região Nordeste não tem recebido o merecido apoio institucional. Segundo o pesquisador do patrimônio cultural Aterlane Martins, 43 anos, isso ocorre devido à “falta de uma política que alie cultura e turismo”. O resultado é que os grupos juninos não são devidamente valorizados. Aterlane ressaltou a promoção do “São João de Maracanaú’, que consegue mesclar os shows de artistas com as apresentações de quadrilha, fazendo com que os dois tenham seu espaço.
Lembranças e saudades das competições
Tradição e diversidade sempre estiveram presentes no histórico dos grupos de quadrilhas juninas. A marcadora da quadrilha “Cangaço Nordestino”, Paula Carina, lembra que começou a dançar na infância, até que aos 13 anos sofreu um acidente fora das apresentações e ficou ausente das quadrilhas por um ano. Aos 14 anos decidiu comandar uma quadrilha de sua escola e fez disso seu grande sonho. O marcador da quadrilha é uma figura importante, como um líder. Sem ele, a coreografia sequer continuaria, além disso, é papel dele incentivar todo o elenco.
Paula foi a primeira mulher a se tornar marcadora de quadrilhas, com 18 anos. Ganhou também troféu, como melhor marcadora do Ceará em 2017 e fica orgulhosa ao saber que se tornou uma referência para que outras mulheres também entrassem no ramo. Ela já interpretou diferentes personagens juninas, como a famosa Maria Bonita. Sua preferida, porém, foi Chica Fulô, em 2018.
Em 2021, entretanto, o sentimento é de saudade. Tanto para as milhares de pessoas que acompanham os festivais, como para os “brincantes”, como são chamados os dançarinos. Para a marcadora, é difícil viver sem os ensaios e viagens, pois sempre considerou a quadrilha como uma válvula de escape. Segundo ela, é entrar em quadra e seus problemas sumirem. “Deixo fora minhas preocupações e quando estou na quadra nada mais importa”, revela Paula. Quando estava passando por problemas pessoais, era no Cangaço Nordestino que conseguia ganhar um sorriso.
Organização por trás de grandes eventos
A Federação de Quadrilhas Juninas do Ceará (Fequajuce), que atua sem fins lucrativos, não acredita que haverá apresentações de quadrilhas em festivais abertos ao público em 2021, por conta da pandemia do coronavírus, que o mundo está enfrentando. Já Anderson Assunção, que faz parte do quadro de diretores da instituição, garantiu que haverá comemorações de São João de forma virtual. O calendário oficial de ações da Fequajuce será divulgado ainda no primeiro semestre e promete mobilizar todo o estado.
Quando o movimento junino passa a ser organizado por uma instituição, no caso do Ceará pela Fequajuce, ele fica seguindo, a partir daí, a lógica competitiva. Ajuda, além disso, em sua consolidação por todo o território cearense, pois vem junto o julgamento das quadrilhas, organização do evento e regulamentos padronizados. A política pública mais efetiva na área trata da promoção de apoio a grupos juninos e a festivais por todo o estado, se encerra numa competição estadual, a partir do edital Ceará Junino, e é realizada pela Secretaria da Cultura do Estado.
SERVIÇO
Professor Aterlane Martins
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Quadrilha Cangaço Nordestino
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Paula Carina
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Federação de Quadrilhas Juninas do Ceará (Fequajuce)
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