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DIA NACIONAL DO LIVRO: Os desafios das livrarias na Era digital

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Áudio, Texto, Uni7 Informa

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O avanço da tecnologia e a queda do hábito de leitura no Brasil influenciam as vendas de livros físicos

O Dia Nacional do Livro, comemorado no dia 29 de outubro, foi criado em homenagem à fundação da Biblioteca Nacional do Livro, instalada pela Corte Portuguesa, na cidade do Rio de Janeiro, em 1810. Inicialmente tímidos e censurados, os livros ganharam proporção cultural no país, contribuindo para o desenvolvimento intelectual e cognitivo das pessoas, além de se tornarem fonte de prazer e lazer.

O HÁBITO DE LEITURA NO BRASIL 

Comemorar essa data, entretanto, não tem sido fácil para milhares de pessoas que têm no livro sua principal fonte de renda. De acordo com a 5ª edição da Pesquisa Retratos da Leitura, realizada no Brasil, em 2019, existiam cerca de 100 milhões de leitores no país. Esse número corresponde a 52% da população, sendo considerado como leitor pessoas que leram, inteiro ou em partes, pelo menos um livro nos últimos três meses daquele ano. A pesquisa aponta que houve uma queda de 4,6 milhões de leitores em relação ao ano de 2015. Isso aconteceu em decorrência de diversos fatores, mas os principais registros na pesquisa são a preferência por passar o tempo livre utilizando a internet ou assistindo televisão.

Com o fechamento de livrarias, cai o número de leitores no Brasil
Foto: Reprodução / Instagram

Weslley Fernandes, colaborador da Livraria Arte e Ciência em Fortaleza, que é uma das mais antigas livrarias físicas em atividade da cidade, reconhece que “a educação nunca foi um projeto prioritário em nosso país, salvo alguns raros momentos históricos” e por isso, há uma desvalorização do importante hábito da leitura. Na visão de Weslley, as livrarias e os sebos têm papel fundamental no crescimento desse costume: Um sebo é também um espaço de democratização da leitura e do livro. Nossa busca é a de fazer com que o livro que o leitor busca chegue em suas mãos, seja lido, e tenha um impacto positivo em sua vida e na sociedade ao seu redor”. De forma complementar, Tamy Barbosa, dona da Livraria Lamarca também em Fortaleza, diz que “a leitura precisa de estímulo e prática”, e para que se possa criar esse hábito “é necessária uma formação que tenha em seu método sistemático a leitura de livros, sejam físicos ou digitais”.

O AVANÇO DA TECNOLOGIA

Outra perspectiva detalhada mais recentemente, em 2020, aponta que mais de 8 milhões de livros foram vendidos de forma digital no Brasil. Os dados foram divulgados pela pesquisa do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL). Sem os impostos cobrados nas livrarias físicas, os guichês online são mais bem vistos pelos consumidores, tornando-se uma preferência de alguns leitores.

A consequência desse processo tecnológico em ascensão é que muitas livrarias físicas vêm enfrentando dificuldades em manter suas portas abertas, em função do surgimento de novos modelos de consumo da literatura.Em Fortaleza, a Livraria Cultura, uma das maiores redes de venda de livros no Brasil, anunciou o encerramento temporário de suas atividades na cidade, em 30 de setembro de 2021. Esse acontecimento representa a realidade de muitas livrarias no país, que com a queda da demanda, não conseguem manter o negócio ativo. 

A reinvenção para tornar o empreendimento relevante e contornar a crise pode se dar de diversas formas. Tamy Barbosa, por exemplo, optou por implementar um restaurante junto à loja, com o objetivo de atrair um novo público: “Com todas essas mudanças, a livraria, principalmente as de rua, deixam de ser vendedoras de livros e passam a ser prestadoras de serviço, e necessitam entregar uma experiência aos seus clientes”. Weslley compartilha desse pensamento e ressalta que “com o foco no livro físico, a reinvenção se dá, por exemplo, quando em meio à uma pandemia, conseguimos seguir atendendo nossos clientes por meio do incremento de nossa atuação nas redes sociais, associado ao serviço de entrega que passamos a oferecer

Apesar de impactar a livraria, Weslley Fernandes vê a tecnologia como aliada dos livros físicos: “As novas formas de leitura (digitais) afetam o serviço assim como afeta também o modo de todos lerem. Mas enxergamos como algo que sempre se complementa, pois ao ler o PDF [formato portátil de documento], muitas vezes a pessoa vai em busca do livro físico posteriormente ou de outras tantas obras citadas na leitura virtual”.

Os livros físicos ainda são uma preferência de diversas pessoas
Foto: Victor Uchôa / NPJOR

OS LIVROS NACIONAIS

O Brasil possui diversos escritores mundialmente conhecidos como Machado de Assis, Clarice Lispector e Guimarães Rosa. Porém, dados levantados pelo Instituto Pró-Livro divulgados em 2016 indicam que, dos 20 títulos de ficção mais vendidos, apenas quatro eram nacionais, sendo dois sobre Jesus Cristo. 

O Dia Nacional do Livro possui uma grande importância na sociedade brasileira graças ao valor simbólico agregado a esse produto. Tamy Barbosa afirma que “deveria ser um dia para comemorarmos os resultados das políticas de acesso à leitura instituídas no Brasil”. Entretanto, essa não é a realidade que vemos no dia a dia, como conta a proprietária da livraria Lamarca: “O livro é uma das invenções mais importantes da humanidade. Porém, esse ano, me parece que o dia do livro será mais um daqueles que nós precisamos voltar a justificar sua existência e esperar que o governo volte alguma atenção aos livros e sua cadeia produtiva, que mesmo sem incentivos, segue gerando empregos e elevando o nível de desenvolvimento do país.”

Apesar das mudanças literárias que a sociedade presencia, os livros físicos continuam sendo essenciais e indispensáveis, e a visão é otimista com relação ao futuro. “Há muitas obras que jamais foram convertidas em formatos digitais, e pessoas para as quais essas mídias não agradam seguem preferindo o livro físico”. diz Wesley Fernandes. Ainda sobre o livro físico, Tamy entende que “o conhecimento que circula na sociedade ainda tem o livro como sua principal fonte, e as bibliotecas são os locais mais confiáveis para guardar e dar acesso à produção e à memória dos povos”.

Confira o podcast acerca do assunto, produzido pelo núcleo de rádio do NPJOR

Texto: Hugo Eduardo Sousa (2º semestre / Jornalismo) / João Pedro Pacheco Artuzo (1º semestre / Jornalismo)

Áudio: Bernardo Barros (6° semestre / Jornalismo)

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