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CULTURA: Crescimento de costumes e do mercado sul-coreano em Fortaleza

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A chegada de imigrantes coreanos e a onda Hallyu influenciaram na disseminação dessa cultura na capital cearense

Em decorrência da pandemia de Covid-19 no ano de 2020, em especial durante as quarentenas, diversas pessoas buscaram métodos alternativos para se distrair dentro de casa. No Brasil, uma das muitas opções encontradas pela população foi o mercado de entretenimento da Coreia do Sul, que chegou no país por causa do movimento Hallyu, conhecido como “onda coreana”. 

De acordo com uma pesquisa do Ministério da Cultura, Esportes e Turismo da Coreia do Sul, em 2021 o Brasil foi o 3º maior consumidor de doramas (novelas coreanas) no mundo, sendo o único país fora da Ásia no Top 5. Dessa forma, assim como houve um crescimento no consumo dedoramas, aumentou também o interesse pelas diversas manifestações culturais da Coréia do Sul, e já fazem parte do cotidiano de diversos brasileiros o K-Pop (música popular coreana), produtos cosméticos e a culinária asiática.

A presença da cultura coreana em Fortaleza teve início em 2013, com a chegada de mais de 300 imigrantes contratados para trabalhar no Porto do Pecém. Desde então, os trabalhadores estrangeiros e suas famílias implementaram diversos aspectos de sua cultura na capital do Ceará, como a abertura de restaurantes com temática sul-coreana. Também foram abertas na cidade lojas dedicadas a aspectos dessa cultura e são realizados diversos eventos ao público consumidor.

Atualmente, o maior evento temático em Fortaleza é a Super Amostra Nacional de Animes (Sana), realizada pela Fundação Cultural Nipônica Brasileira (FCNB). O Sana aglomera diversos âmbitos da cultura Geek, como jogos, programas de televisão, música e filmes em geral, e para além dessa proposta, o evento também criou ambientes exclusivos para produções e culinária coreana. Essa percepção surgiu principalmente devido ao crescimento do público interessado por essa cultura na cidade.

Venda de produtos coreanos no Sana de 2022, em Fortaleza
(Foto: João Pedro Pacheco Artuzo / acervo pessoal)

Para falar um pouco mais sobre o crescimento dessa cultura em Fortaleza, os motivos, e seus impactos, entrevistamos o Coordenador da FCNB, Thales Wylmar:

João Pedro: Nos últimos anos, houve um crescimento do consumo de produtos coreanos no Brasil e no mundo, e o mesmo acontece aqui em Fortaleza. Por que, para você, há um interesse maior na cultura coreana do que na de outros países asiáticos, por exemplo?

Thales Wylmar: “Os produtos estrangeiros sempre batem uma curiosidade nos seres humanos. Agora, essa vontade de ir atrás, de buscar, de compra, com o coreano ela é bem maior, e isso vem crescendo muito mais por conta de séries, doramas e os streamings, que trouxeram essa força. Existem hoje senhoras e senhores assistindo a doramas, que é algo que a 10 anos atrás era praticamente impossível, mas a história e o enredo trouxeram o público até de mais próximo à cultura sul-coreana. Então esse consumo, não só de produtos físicos, mas também produtos em geral da cultura pop sul coreana vem crescendo demais, e Fortaleza é um point muito grande, principalmente do Nordeste”.

JP: Você acredita que esse interesse ainda existiria mesmo sem a popularidade dos doramas ou do K-Pop?

TW: “Não, não consigo acreditar. Foi como eu falei, sempre existiu uma curiosidade do que acontece, quais são os produtos e comidas sul-coreanas, só que nunca deu aquela vontade de ir experimentar, sempre tivemos aquele paradigma de que era sushi e etc, que comida asiática é isso e aquilo. Com o crescimento e popularidade dos doramas, ela tomou força. E com o K-pop o mesmo aconteceu. Ele já era grande demais antes do PSY [o cantor teve um hit mundial com a música “Gangnam Style”, em 2012], depois dele e de outros grupos, como a explosão do BTS, isso tomou muito mais força. A partir do momento que a pessoa se apaixona por um dorama, e no dorama a pessoa tá tomando um Soju [bebida alcoólica de origem coreana], ou tá comendo uma comida típica da Coreia do Sul, ela se sente muito mais atraída para consumir e aproveitar essa cultura, como também no K-Pop, que ela vê, vai em um evento em Fortaleza, vai no Cuca e vê pessoas ensaiando, vê na televisão, isso atrai, bate a curiosidade, ela quer saber o que é aquilo”.

JP: Em Fortaleza, os produtos e costumes sul-coreanos geram um movimento relevante na economia?

TW: “Gera um movimento muito grande, é um nicho onde muitos empresários não conseguiram observar ainda, mas quem conseguiu explorar essa área tá “com o bolso cheio de dinheiro”, apesar da crise financeira, porque o público do K-Pop tem essa vontade de consumir, e eles não acham em qualquer lugar os produtos da cultura sul-coreana. Eu conheço empresários que têm lojas em Shoppings Centers que são só produtos de K-Pop, doramas, alimentícios, e vivem disso, isso gera um desenvolvimento muito maior e atrai mais público para essa cultura e, querendo ou não, é muito relevante para a economia. Não só produtos mas também eventos, porque dentro dos eventos em si, criam uma sala temática só de K-Pop, onde nessa sala temática pode-se colocar produtos à venda. Os consumidores vão diretamente nessa sala, deixam as outras de lado, para consumir os produtos que eles tanto amam.”

JP: Você percebeu um crescimento no consumo e na demanda por produtos dessa cultura em Fortaleza após a Pandemia?

TW: “Demais. Durante a pandemia foi um momento onde muitas pessoas começaram a acessar os streamings, e existem tabelas na Netflix apenas de dorama. Quem consome a cultura sul-coreana em músicas ou cinematografias, tem a tendência de gostar porque é muito atraente, e muitos só repudiam a partir do momento que sabem o que é. “Ah, é K-Pop? Não quero”, mas ele tinha gostado. Então podemos dizer que uma grande porcentagem dos seres humanos conseguem gostar sim do K-Pop, ele se aproxima demais, e durante a pandemia isso cresceu gigantescamente”.

JP: A incrementação da cultura coreana no exterior tem contribuído para a redução da xenofobia para com os asiáticos?

TW: “Olha, tudo que é novo traz aquele momento de preconceito, tudo que surge do nada e a gente desconhece a pessoa vai ter um preconceito, e automaticamente, dependendo do que for, no caso da cultura asiática, uma xenofobia. A gente foi “educado”, podemos dizer assim, de puxar o olho, que asiáticos são os do olho puxado, enfim, diversas coisas que trazem uma xenofobia. Quando os asiáticos, principalmente os coreanos, se destacaram mundialmente, muitas pessoas tiveram a aceitação, mas outras, geralmente mais velhas, ainda tem essa dificuldade de reconhecer até no falar, muitas vezes não por maldade, mas é um vocabulário que a gente tem que se reeducar. Chamar de magrelinho, homens que se maquiam, coisas assim do tipo, entende? É algo que a gente tá em desenvolvimento. Há 5 anos atrás, por exemplo, o K-Pop pra mim já era conhecido, mas durante a pandemia o meu pai veio conhecer, conhecer de uma forma muito chegada, onde muitos jovens já sabiam o que era e ele não sabia, ele não tinha essa fala, esse verbo de falar “o K-Pop”, então ele pegava características. Então teve um conhecimento, mas como eu falei, tudo que é novo gera preconceito.”

JP: Você pensa que a onda Hallyu em Fortaleza é algo temporário, ou que pode se tornar um destaque da cidade, como é o Bairro da Liberdade em São Paulo?

TW: “Se perguntasse pro Thales de 6 anos atrás, eu falaria que sim. Eu tinha colocado um prazo pro K-Pop para 2020, e na minha cabeça eu pensava e falava para todo mundo “bora aproveitar o momento porque isso é moda, vai parar”. Essa é uma visão minha daquela época como empresário, eu que tenho lojas e organizo eventos, naquela época tudo mostrava que o K-Pop ia cair. A pandemia chegou, e por conta dela chegaram os doramas muito mais fortes e se tornaram mais acessíveis, ela fez com que essa cultura crescesse ainda mais, grupos como BTS, BLACKPINK e TWICE vieram com muita força. Eu toco muito na pandemia porque foi nela onde muitas pessoas começaram a conhecer e resgatar músicas antigas, que ninguém ouvia mas eram boas e que voltaram ao sucesso, então quanto mais pessoas novas ouvindo, isso vai crescer ainda mais. Foi algo catastrófico [a pandemia], mas tocando nesse assunto de crescimento, de data de validade, hoje é algo que eu não consigo mais taxar para a cultura coreana, pode ter seus altos e baixos, mas sempre vai estar gerando conteúdo”.

Restaurante de culinária coreana no bairro Meireles em Fortaleza
(Foto: Reprodução / Luke Barbara – Tripadvisor)

JP: Você acredita que exista algum ponto negativo nesse consumo excessivo da cultura coreana, que isso possa, por exemplo, gerar uma desvalorização das tradições brasileiras? 

TW: “Eu uso a frase da minha mãe:“tudo demais é veneno”. O ponto negativo que eu consigo ver é esse, o exagero, isso pode nos afetar principalmente na rotina. Eu vejo que a cultura do país já é desvalorizada há um bom tempo e não é por conta do K-Pop, a gente pode amar a cultura brasileira e permanecer amando mais 3 ou 4 culturas de outros países. Eu dou a maior certeza do mundo que 50% dos kpoppers vão tá pulando São João, e essa é uma cultura muito boa brasileira e principalmente nordestina, que é uma coisa mais difícil de ser consumida em todos os estados do país. Eu acho que é algo que depende do governo valorizar. Filmes brasileiros são taxados, hoje, como ruins só por serem brasileiros, assim como antigamente, há 15 anos atrás, a gente nem via filme coreano, se alguém dizia “isso é da Coreia”, eu lá vou assistir? Mas o que foi que teve, toda uma revolta lá [na Coreia do Sul] do governo e começaram a valorizar e expandir essa cultura mundialmente, um investimento muito alto e que hoje está fazendo sucesso. Quem é que chega hoje e diz “tem algum filme brasileiro pra me indicar?”. É muito difícil, se não for de comédia, é de presídio. Então precisa de uma ação muito mais governamental do que populacional para valorizar a cultura brasileira em todos os aspectos”.

JP: O que você recomenda para os interessados por essa cultura que residem em Fortaleza?

TW: “O que eu posso indicar são os eventos temáticos, que acompanham tanto da música quanto da dança, como também da cultura gastronômica. Posso indicar também os restaurantes especializados nessa culinária, que você entra e sente a tradição, escuta as músicas, são coreanos te atendendo, então isso também te deixa muito mais próximo da cultura.

Texto: João Pedro Pacheco Artuzo (2º semestre – Jornalismo – UNI7)

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