Celebração, manifestação e tradição
Brincantes de Reisado se reúnem para ensaiar cortejos e apresentações. A festa se mantém viva há séculos e continua levando alegria e esperança da boa nova para as casas e famílias, cristãs ou não
Bruna Ramos
É 6 de janeiro. Com dedicação, um grupo de pessoas se transforma em rainhas, em mestres e palhaços, sai pelas ruas, entoa cânticos e conta as histórias dos personagens. As fantasias coloridas são uma das marcas registradas. As cenas são animadas e as coreografias entusiasmam e alegram o público. São eles que se reúnem para manter acesa a chama de uma tradição popular: o Reisado.
Conhecido também como Folia de Reis, o Reisado é uma manifestação cultural e religiosa que relembra a adoração dos três Reis Magos ao nascimento do Menino Jesus. Pessoas de todas as idades se juntam para levar alegria por meio das danças e cânticos ensaiados por meses. E, mesmo em um ano atípico, em função da pandemia, eles firmaram o compromisso com a celebração, cantando e dançando virtualmente.
Assim, a forte energia do grupo Brincantes Cordão do Caroá está presente no entorno do bairro Benfica e no jardim da Universidade Federal do Ceará (UFC). Criado em 14 de agosto de 2003 por alunos e professores, como programa de extensão daquela universidade, traz o legado de ter sido o primeiro grupo de Reisado de Congo – com influências africanas e monárquicas – a ser formado na capital. São 25 pessoas que, juntas, dão continuidade às celebrações com a missão de manter viva a tradição.
Já pelas ruas de Maracanaú, Região Metropolitana de Fortaleza, estão espalhados o amarelo e o vermelho dos Guerreiros de Jorge, do grupo Garajal. Há exatos 16 anos, o Garajal decidiu iniciar as brincadeiras de Reisado de Congo. Hoje, com mais de 30 componentes, eles se definem como um ponto de cultura. Germana Cavalcante é a mestra que fala, com orgulho, sobre o compromisso do grupo. “Temos uma responsabilidade com a comunidade de Maracanaú. Eles já esperam que o Reisado aconteça”, completa, ressaltando o amor que o grupo tem nesses momentos de trocas e laços sociais que se renovam a cada ano.
Composição
Ao convidar a população, o Garajal realiza seleção de pessoas para aprenderem os passos e as pecinhas, como são chamadas as músicas do Reisado. Juntos, os integrantes, novatos ou veteranos, escolhem as pessoas para cuidar das fantasias e da decoração. A mestra Germana diz que antes da pandemia da covid-19, todas as semanas de dezembro eram exclusivas para os ensaios definitivos e o afunilamento do novo roteiro para a Festa dos Reis.
O calendário próprio do Cordão do Caroá, por sua vez, faz com que a produção ocorra meses antes. Além da principal celebração que ocorre no jardim da UFC, o grupo de brincantes se propõe também a comemorar todo o ciclo natalino, desde o início de dezembro.
Eles realizam cortejos pelas ruas do Benfica e saem andando e cantando, entrando nas casas de alguns moradores. “Temos uma conexão muito forte com as pessoas. É uma tradição que se transformou no bairro há 18 anos. As pessoas já nos aguardam”, completa o mestre Rafael Oliveira, que entrou no Caroá em 2013 e desde 2017 é mestre.
As pecinhas são tocadas por instrumentos como zabumba, viola, triângulo, rabeca, caixa ou tarol, ganzá, atabaque, tambor, pratos (de bateria) e o pífano. Cada grupo tem a sua singularidade nos roteiros. As cores das roupas, a ordem de introdução dos personagens, como o jaraguá, o boi ou a catirina são definidos pelos brincantes com a palavra final dada pelos mestres.
Tradição
O Reisado é o reflexo da personalidade dos mestres, mas a tradição tende a continuar, mesmo que aconteçam transformações. A professora Lourdes Macena de Souza, coordenadora do Laboratório de Práticas Culturais Tradicionais do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), analisa que a tradição se firma depois que a comunidade entende aquilo como seu e refaz práticas do passado, fortalecendo um legado ancestral.
Sobre as mudanças ao longo do tempo, a professora diz que a tradição não é algo parado no lugar. “Em cada momento em que a comunidade vive aquela expressão cultural, eles fazem um investimento naquilo que é a sua paixão e felicidade”, acrescenta.
Ambos os grupos compartilham do mesmo amor pela tradição. “Há sentimentos de amor e de dever cumprido que não conseguimos controlar”, revela, emocionado, mestre Rafael Oliveira. Já Germana destacou, com empolgação, a contribuição do grupo para fortalecer a cultura popular, a história e a memória da manifestação. “Sou muito feliz em brincar Reisado (…) e não consigo mais viver sem”, finaliza, enfatizando a palavra feliz.
SERVIÇO
Grupo Garajal
Rua 18, 119, Jereissati I, Maracanaú
Site: https://www.grupogarajal.com/
Email: [email protected]
Whatsapp: 85 98115-2392
Face: Grupo Garajal de Teatro
Instagram: @grupogarajal
Youtube: Garajal Grupo
Brincantes Cordão do Caroá
Email: [email protected]
Whatsapp: (85) 98714-744
Face: Brincantes Cordão do Caroá
Instagram: @cordaodocaroa
Youtube: Reisado Brincantes Cordão do Caroá