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ANIVERSÁRIO: FORTALEZA DE TODOS OS TEMPOS

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A capital cearense comemora 295 anos em clima de isolamento social pelo segundo ano
consecutivo

Fortaleza comemora 295 anos nesta terça-feira,13. Desde o ano passado, a celebração presencial foi vetada em respeito às medidas de isolamento social para combater a Covid-19.Meses de isolamento se passaram e, em uma forma de celebração mais íntima, a população fortalezense se remete às memórias de momentos vividos em espaços da capital alencarina.

Assistir a um filme no Cineteatro São Luiz, apreciar um café na Livraria Cultura ou tomar banho de mar na Praia do Futuro são algumas das atividades cotidianas que passam pelo imaginário de quem vive em Fortaleza. Muitos dos espaços que constituem a cidade se tornaram parte da memória coletiva de quem aqui vive. São espaços onde se construíram laços de amizade, trocas de afeto e sorrisos. Contar a história de Fortaleza é, também, contar as histórias de quem nasceu e vive na cidade à beira-mar. Naiana Gomes,31, jornalista, escritora e fotógrafa nascida em Fortaleza, destaca seu amor pela orla marítima da capital: “Amo viver em uma cidade rodeada pelo mar, que tem um clima agradável, apesar dos dias muito ensolarados. Amo os cantinhos dos quais sinto uma saudade imensa desde que a pandemia começou.” Apesar de seu encanto, a escritora não fecha os olhos para o problema da desigualdade social da cidade: “ É uma grande tristeza viver em uma das cidades mais desiguais do país e do mundo.

O mar e as praias de Fortaleza são pontos de destaque na cidade, que ganhou a alcunha de “Terra do Sol”. A Praia de Iracema faz parte das lembranças de César Melo,58, médico nascido em Fortaleza: “Quando era mais jovem, entre meus 15 e 25 anos, eu gostava de ir para a Beira Mar. Lá tinha um ponto chamado Volta da Jurema. Gostava de ir para lá, tomar sol, água de côco ou beber uma caipirinha. Eu também gostava de ver o pôr do sol. Era muito bom”.
Saindo da praia e subindo pelo Poço da Draga, está o bairro central da cidade, considerado o bairro mais antigo de Fortaleza. Por seu valor temporal, o centro de Fortaleza está nas lembranças de gerações mais experientes. É o caso da servidora social aposentada Maria Eliene Portela, 78. A servidora relata com saudosismo seus tempos de juventude pelas ruas do centro: “Quando criança, minha mãe levava-me e meus irmãos para ver as vitrines. Era nossa diversão.” Ela também conta, sorrindo, sobre o Cineteatro São Luiz: “ O São Luiz era uma formosura. As mulheres se arrumavam com requinte para ir assistir aos filmes no teatro. Uma vez, eu e meu marido fomos até lá de carro. O carro estancou e tivemos que chegar até lá empurrando-o”, diz Eliene, rindo, ao lembrar da situação.

A aposentada também conversa sobre o Passeio Público: “ Era um espaço destinado principalmente para a alta sociedade. Onde intelectuais iam caminhar ou realizar rodas de conversa”. A praça é a mais antiga da cidade e antes era chamada de Praça dos Mártires, pois foi o local de execução pública dos revolucionários da Confederação do Equador. Quem também guarda boas recordações do centro da cidade de Fortaleza é Tatiana Rodrigues, 55. A dona de casa lembra de suas andanças pelo bairro para fazer compras: “ Eu lembro de quando era criança, ia para o centro da cidade com minha mãe fazer compras na loja Lobrás. Depois das compras nós costumávamos lanchar na lanchonete Leão do Sul para tomarmos o delicioso caldo de cana acompanhado de um pastel”.

Ainda no mesmo bairro, está localizado o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.
Inaugurado em 1999, o centro cultural foi nomeado em homenagem ao abolicionista Dragão do Mar. Márcio Michiles, professor de história da rede privada de Fortaleza, comenta sobre essa figura importante: “Dragão do mar, um dos ícones cearenses e brasileiros expoentes da luta abolicionista . Foi prático da capitania dos portos e liderou movimentos de impedimento de práticas de tráfico escravo , inclusive já proibidas por lei no Brasil”. O Centro Dragão do Mar é referência em programação cultural para todos os públicos e completa 22 anos de existência em 28 de abril.
O professor também comenta sobre a influência americana na capital: “ A presença americana em Fortaleza mudou a rotina, trouxe outros comportamentos sociais. Alteramos em alguns aspectos nossas percepções morais, nos tornamos mais flexíveis mesmo com a reação de algumas pessoas por conta disso. Além óbvio das estruturas militares , os prédios de comunicação como a rádio , a frequência de equipamentos militares , o campus da UFC, no Pici , as instalações de bases militares são legados também dessa presença.”
O exército americano esteve em Fortaleza durante a Segunda Guerra Mundial. Entre os espaços que gostavam de frequentar, destaca-se o Estoril, na época um clube destinado ao público estrangeiro, cuja presença da força militar americana fez da região um espaço de glamour por curto período.
Fortaleza é uma cidade que pulsa de vida, de arte e pluralidade. Foi o lar da escritora Rachel de Queiroz e do humorista Tom Cavalcante. A cidade alencarina se desenvolveu nas margens do riacho Pajeú, próximo ao Forte Schoonenborch, construído pelos holandeses durante sua estadia, entre 1649 e 1654. Em domínio português, o forte assumiu o nome de Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, que deu origem ao nome da cidade.

MEMÓRIA PATRIMONIAL
Em seu processo de desenvolvimento urbano, Fortaleza passa por uma transformação de sua paisagem em que prédios antigos estão dando espaço para novas estruturas arquitetônicas, com aspecto mais moderno. No entanto, o processo de modernização conflita com a preservação histórica da cidade. Questionado sobre essa memória paisagística, o professor Márcio Michelis fala sobre essa dicotomia: “ O centro de Fortaleza tem muitos espaços de memória, como Cine São Luís, Praça do Ferreira e a Praça dos Leões, mas reconhecidamente não somos referências de preservação patrimonial e valorização desses espaços. Nossas políticas patrimoniais e arquitetônicas são muito tímidas e por vezes ineficientes nesse processo de conservação. A sedução imobiliária e a ideia constante de modernidade engole a história das imagens da cidade.”
Em época de pandemia, as recordações afloram em nossas memórias. Como já dizia o poeta… “Recordar é viver”!

Márcio Michiles, professor da rede privada de Fortaleza

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