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A superficialidade da opinião: Profundos ou profanos?

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Somos agricultores, semeando opinião por todos os lugares que passamos. Estamos carregados de sementes e elas estão sendo plantadas em várias terras. Mas acredito ter sido uma surpresa a todos nós o descobrimento de uma terra tão fértil, uma em que toda semente, por mais suja e quase morta que pareça, tem uma grande chance de gerar frutos, sejam bons ou ruins.

Achamos na internet um lugar onde podemos falar sobre tudo, um lugar onde finalmente temos voz, onde podemos expressar tudo que acreditamos e colocar os nossos pensamentos relevantes à exposição para todos. Utopia. Não somos relevantes quando temos chance. Temos espaço, mas ele parece estar reservado às nossas tolices. Trocamos a chance de sermos profundos pela facilidade de sermos profanos.

O que quero dizer é que, numa era onde todos podem opinar sobre tudo, será raro, dentro de uma proporção, encontrar um agricultor que plante uma semente de profundidade em alguma discussão. Como é visto no teorema do macaco infinito, criado por T. H. Huxley, em que ele diz para darmos máquinas de escrever para milhares de macacos no mundo inteiro e provavelmente algum deles produzirá uma obra prima, mas na sua maioria, serão achadas coisas totalmente sem sentido. E digo algo semelhante: deem a todos um lugar onde publicarem suas ignorâncias sobre determinado assunto e assim farão, não terão pudor de propagarem o errado, pois nem sequer sabem o que estão fazendo.

Somos leigos e profanos em relação a conteúdo. Estamos vagando por páginas e páginas, perfis, blogs, sites, recolhendo todo tipo de informação, afinal não tivemos tanta em nenhuma era. E nós, fazemos pouco uso relevante da quantidade de conteúdo que coletamos. Distribuímos sem filtro aquilo que nem sabemos se é bom. Damos frutos podres para outros comerem. Causamos indigestão social. Nós, em uma grande maioria, nos fadamos a viver à beira do conteúdo, nos galhos mais baixos das imensas árvores que estão sendo regadas, discutindo política como torcedores de futebol, de longe, nas arquibancadas, não exercendo os riscos da coerência, não fazendo parte do jogo. Falamos do que não sabemos, reproduzimos o que nos foi dito, somos superficiais.

Somos rasos demais, profanos demais, somos árvores crescidas, mas totalmente vulneráveis a qualquer vento. Não possuímos raízes fincadas no fundo. Nós queremos ser produtores de opinião e dar uma contribuição para a opinião pública, mas parecemos ser incapazes. Além do fato de que vejo uma opinião que não é tão pública assim.

Entendemos por opinião pública, a opinião da maioria em relação a determinado assunto. No entanto, vemos cada vez menos uma produção de opinião e cada vez mais uma reprodução do que já foi criado. A opinião não é nossa, é superficialmente jogada por nós. A profundidade se perde dia após dia. Para produzir uma opinião, é necessário pensar, e nos nossos vagos flashes de reflexão, pensar gasta um tempo que não queremos perder.

O aprofundamento gasta tempo e exige um esforço mental, isso faz com que nossa geração, em parte preguiçosa, não queira a busca das respostas, não queira a reflexão devida, mas sim, comentários e mais comentários, que não levam a lugar algum. Isso nos faz criar uma máxima em cima de nós mesmos: pessoas com excesso de informação e, infelizmente, escassez de conteúdo.

Adailson Silva
4º semestre

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