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FA7 NO CENTRO: Sabedoria de raiz… Até quando?

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Visita à Toca do Pajé

Visita à Toca do Pajé

Nascido em Itapipoca (CE), seu Martinho foi o primeiro raizeiro do Mercado São Sebastião – Fortaleza, onde instalou, na década de 1930, a Toca do Pajé – em homenagem aos seus grandes mestres amazônicos – os índios. Antes disto, no entanto, já mantinha a sua barraquinha no entorno do que viria a ser o mercado, onde vendia sementes, folhas, cascas e raízes. Mas, acima de tudo, orientava os seus fiéis clientes sobre o manuseio desses itens, eficazes na busca da saúde.

Por experiência própria, evitava os “homens de branco” e sempre que se via acometido de alguma doença, tinha na Amazônia o rumo certo para a cura. Nessas idas e vindas, trazia plantas que não existiam no Ceará e voltava sempre com novidades, que refletiam positivamente nos negócios. Mas, a vida tem os seus caprichos e, com uma doença tipicamente amazônica – a malária, seu Martinho faleceu.

Os negócios, até então partilhados com a esposa Marilene, foram por ela integralmente assumidos, mantendo assim a única fonte de renda da família de cinco filhos. Aos 66 anos, dona Marilene é a alma do negócio e discípula do Martinho. É ela quem prepara o tradicional Sete Ervas– carro chefe da empresa, bem como as demais garrafadas e lambedores. O conhecimento das ervas medicinais ela repassa aos filhos, em particular para Sônia, a mais nova, que a auxilia no mercado e ao neto, Diego.

Dona Marilene abre o boxe, diariamente, às 6 horas e Sônia passa ali a maior parte do dia, no frenético atendimento ao público, encerrando o expediente às 18 horas. A filha orienta os que a procuram, com a sabedoria do mestre, alertando sobre a forma correta de manuseio das ervas, ressaltando que até a temperatura do corpo de quem prepara pode influenciar no resultado.

Mesmo em um dia considerado de pouco movimento, é constante a busca por orientações e insumos. A maior parte da clientela encontra-se na chamada classe A, que, segundo Sônia, tem maior compreensão da importância da medicina natural e não “corre para o hospital com qualquer coisinha”. Ultimamente, o público de alta renda tem buscado o “Marmeleiro”, que é excelente para o tratamento de viroses intestinais. Muitos médicos e estrangeiros (residentes na cidade ou em férias) também são clientes.

Um grande prazer da Toca do Pajé, segundo suas proprietárias, está em fornecer para o Exército, que, anualmente, realiza compra de ervas típicas do Ceará, e, segundo informado no mercado, as remete para outras localidades. Para a Amazônia, por exemplo, são enviados “Cabeça de Nêgo” ou “Batata de Teiú”, que são excelentes para picada de cobras.

Mas um grande lamento ronda os que trabalham na Toca do Pajé. Eles têm a intuição de que a atividade está se acabando, seja pelo falecimento dos que conhecem em profundidade o assunto, seja pelas dificuldades que vêm encontrando com o lobby da indústria farmacêutica, que não reconhece os poderes das ervas, a não ser que sejam manipuladas em laboratórios. Ou, ainda, pela desistência dos fornecedores em prosseguir com os seus negócios.

Estes últimos têm mudado de ramo, tanto pelas inúmeras limitações impostas ao setor, como devido à excessiva fiscalização e aos custos de importação, como é o caso do “Hibisco”, a erva da moda, que vem da região Andina. Mas, enquanto a matriarca tiver interesse, a Toca do Pajé vai prosseguir produzindo medicamentos da sabedoria popular.

Ana Cláudia Lemos
1º Semestre

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