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FA7 NO CENTRO: Mercado, lugar de negócios, espaço de convivência

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Ana Luísa conhece o São Sebastião como poucos, sua estrutura e as pessoas. Para ela, é como se fosse a própria casa

Ana Luisa, com os funcionários, em seu estabelecimento

Ana Luisa, com os funcionários, em seu estabelecimento

Basta dar poucos passos para perceber a beleza e variedade contidas no Mercado São Sebastião, dividindo o mesmo espaço. Ana Luísa, 29, é uma dessas realidades. Ela possui um restaurante que serve comida tradicional no mercado há seis anos. Apesar do trabalho pesado, não abre mão de se destacar pelo visual: está sempre maquiada e com uma faixa rosa na cabeça. Conheceu o marido ali e sempre teve o sonho de abrir seu próprio negócio, que foi alimentando, ao fazer cursos na área administrativa e de gestão. Não queria necessariamente o ramo alimentício, mas a paixão do marido pela cozinha e o fato de a sogra ter um restaurante no Mercado São Sebastião a incentivou, fazendo-a abrir um ao lado.

“Ele cozinha melhor do que eu”, diz, animada, Ana Luísa, que cuida da parte burocrática e tem mais dois funcionários que, apesar de tímidos, aceitaram que fosse produzida uma foto com eles. O visual do lugar é o que mais chama atenção: a parede, com um papel de estampa floral, e as fardas tingidas de roxo, saltam aos olhos. Ana sonha em ter um escritório voltado para decoração de ambientes, e por isso já faz um curso na área. Apesar do tempo corrido, diz que dá para conciliar as duas coisas. Mora perto do trabalho e não leva mais de 20 minutos de carro, que ela faz questão de dizer que comprou com a renda de seu negócio familiar. Além disso, destaca que já está em seus planos comprar uma casa.

Orgulhosa, fala que gosta de seu trabalho, e que o mercado mudou muito desde que ela chegou lá: “está mais organizado”. Conta que as vendas são ótimas e, vaidosa, observa que a aparência física de um lugar é essencial para uma boa impressão, “por isso sempre procuro arrumar tudo da melhor maneira”.

Do lado de fora do mercado, Liduina, 44, vende café e chás, como vendedora ambulante. Reservada, não quis tirar fotos. Usa roupas muito simples. Seus produtos custam 0,50 centavos de reais. Liduina mora no bairro Padre Andrade e pega dois coletivos para chegar ao trabalho. Acorda às 3 da manhã para fazer os chás e o café, pois a mãe encontra-se operada do punho. “Antes ela vendia comigo, mas agora está de cama porque levou uma queda enquanto estava no banheiro”. Não tem filhos e nem quer tê-los. Mora com os pais, e cuida deles e de 10 cachorros. “Melhor do que gente”, diz, risonha.

Ana conhece o mercado inteiro, porque começou a vida ali. “Com 17 anos comecei de verdade a trabalhar, ajudando minha mãe, que vendia verduras e grãos”. Fala que os relacionamentos dela com o espaço físico e com as pessoas é muito intenso e diferente. “Aqui é minha casa!”. Como exemplo, relata ter conhecido um namorado aos 17 anos ali. Ele cortava carne, mas “a ingratidão me fez perder a afeição”. Eles até hoje são amigos e convivem pacificamente, assim como todos naquele espaço. Sobre o regulamento que proíbe os ambulantes, ela se sente segura de seus espaços e “cheguei primeiro, eu estou apenas trabalhando. Eles não vão me tirar daqui, a gente trabalha direito e respeita os outros, assim a vida segue”.

As vendas são difíceis, pois isso é difícil fazer planos. Liduina trabalhou como zeladora, no mercado mesmo, mas diz que se for comparar, era muito melhor, pois tinha um salário regular e os direitos garantidos, enquanto as vendas de café e chás são muito irregulares. Sobre as tristezas, ela cita “só as dívidas, mas a gente vai pagando” e sobre os momentos inusitados, diz que já viu de tudo, desde gente que vai somente tomar café a pessoas que vão “resolver a vida mesmo, pedir conselho pra tomar decisões”.

Para ela, o mercado é um lugar de negócios, mas representa um espaço de convivência. Sobre a violência, diz que até que lhe respeitam, “pois sabem que não vão ganhar muito nos roubando. Além do mais, a gente se faz de cega que é pra melhor passar. Nem todos são vagabundos”.

Alice J. Guilherme
1º semestre

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