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OPINIÃO | Funk: O ritmo subversivo que movimenta o Brasil

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Surgido no final da década de 1980, o ritmo carioca tem sucessos milionários e detratores ávidos entre os mais conservadores

Em tempos de ascensão do funk na sociedade brasileira, o ritmo, que teve seu início atrelado ao movimento negro musical, sai de seu contexto unicamente periférico para movimentar outros espaços urbanos. A mudança é clara e os conflitos são muitos. O gênero musical que desde os anos 2000 vive uma realidade de aceitação e repúdio pela sociedade, ao mesmo tempo que lidera as playlists nacionais no Spotify, também foi alvo de um abaixo-assinado, em 2017, com mais de 20 mil assinaturas que pediram ao Senado que o tornasse crime. Entre os detratores do ritmo, é comum ouvir que o funk é um dos percursores de um declínio moral no Brasil.

As represálias sofridas por esse movimento cultural são proferidas pelo próprio poder público, que não reconhece o funk como um movimento musical de evidência. Exemplo disso, foi a ultrajante opinião do ex-prefeito de São Paulo, João Dória, que em 2016, classificou os eventos de funk da periferia, como “um cancro que destrói a sociedade”. Em contrapartida, sucessos como a música “Deu onda”, do MC G15, alcançaram mais de 300 milhões de visualizações no Youtube, tornando o ritmo um exemplo claro de que a produção cultural da periferia pode ser de qualidade.

O fato é que , o funk é revolucionário. O ritmo que surgiu dos movimentos culturais da comunidade negra e periférica carioca, hoje é consumido por todo o Brasil. E o melhor, em uma realidade que transcende a desigualdade social do país. O ritmo, que ainda considerado por muitos como algo depravante, já transcendeu a realidade do negro, pobre e morador da favela brasileira, para se estabelecer em todas as classes sociais.

A cantora Anitta, que conta com mais de 41 milhões de seguidores no instagram @anitta  e 12 milhões de inscritos em seu canal no Youtube “Anitta”, é a maior representante do ritmo no país. Em entrevista ao Brazil Conference and MIT 2018, a cantora declarou que o Funk continua sendo atacado, devído as suas raízes pobres. “A rejeição ao funk vem única e exclusivamente porque o funk veio do pobre, veio da favela.” disse.

Cantora Anitta

Para a cantora, as letras que compõem o funk, expressam a realidade da comunidade da favela. A realidade de pessoas que tiveram pouco ou quase nenhum acesso a direitos básicos, como sáude, educação, cultura e moradia. Uma comunidade cercada pelo tráfico, pela violência e prostituição. “Se o morador da favela acorda, abre a janela, e vê gente se drogando. Se ele vê pessoas se prostituindo. É a realidade dele. Acaba que para o morador da favela aquilo é super normal. E não tem como uma pessoa que não teve nem acesso a aprender outras coisas, cantar sobre algo diferente”, argumentou.

Apesar dos desafios enfrentados pelo ritmo no Brasil, o funk veio para ascender e viver o seu apogeu. Anitta, Ludmilla, MC Livinho, Gloria Groove e Kevinho são alguns dos atistas que se debruçam pelo funk e conquistam milhões. Segundo análise feita pelo “Spotify”, maior plataforma de streaming do mundo, só em 2017 o número de ouvintes de funk na plataforma cresceu 276%. No Brasil, das cinco músicas mais tocadas, três são funk.

Há uns dez anos atrás seria difícil pensar que o ritmo do funk alçaria voos tão altos na indústria musical brasileira. Apesar de muito críticado por suas letras e movimentos, o ritmo segue forte e mais subversivo que nunca. O funk veio para movimentar e ser símbolo de algo que veio da favela, do negro, do pobre. Veio para ser símbolo de tudo aquilo que a elite detesta: A ascensão da palavra daqueles que durante toda a história do Brasil estiveram calados.

O funk é meio de expressão da realidade vivenciada na comunidade. É através do ritmo que a favela ganha voz. As ações ostensivas que agridem o funk vêm do mesmo governo que não promove políticas públicas de cultura e lazer aos que nasceram pobres. Apesar de considerado imoral, é o baile funk o único meio de lazer aos que nasceram na favela e não tem dinheiro para ir ao shopping, cinema, ou teatro aos fins de semana. O funk é fruto da história brasileira, é realidade majoritária, é da população pobre e negra.

Texto: Nathan Silpe (3° semestre – Jornalismo / UNI7)

Fotos: Pinterest e Instagram

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