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289 ANOS DE FORTALEZA: O mar como quintal

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A história do bairro Serviluz é contada por meio de sua estreita relação com os verdes mares da capital cearense

O barulho vem da mistura do agito de mais um dia com o despertar do oceano. Comércios que abrem, crianças que ligeiramente andam em direção à escola, adultos rumo ao trabalho e pranchas, muitas pranchas de surf debaixo de diferentes braços. São jovens e velhos que saem a todo o momento de becos munidos de seus “brinquedos” que possibilitam deslizar nas ondas.

Surfar é um verbo comum de se ouvir na comunidade do Titanzinho, localizada na orla leste de Fortaleza, mas precisamente no bairro Serviluz. A localização ajuda. A praia é praticamente particular e o mar surge como fonte de renda para pescadores e atletas. Sem contar que o lugar respira a junção das brisas do Porto do Mucuripe e do começo da Praia do Futuro.

Viver ao sabor das ondas, porém, não parece ser ideal (ainda que para alguns moradores isso seja tudo), já que os índices de pobreza e criminalidade na comunidade são alarmantes. O “Titan”, como muitos chamam, sofre com a falta de assistência social e de políticas públicas que promovam a educação, esporte e cultura.

O pedacinho de praia ao lado do Cais resiste incansável à desigualdade e ao esquecimento. O velho farol mantém a chama acesa na vida difícil dos moradores. O dia vai findando e o espetáculo fica por conta do contraste da periferia com o entardecer que se deposita sobre o mar esverdeado da cidade.

O vento que vem da Praia do Vizinho, no começo da orla da Praia do Futuro sobe sobre as casas e vaga no ar. O grande quebra-mar avança sobre as ondas, e a garotada toda sai para surfar. Às vezes com pequenos pedaços talhados de madeira, brincadeira inocente com histórico de revelar estrelas mundiais.

“O vento mais irado da cidade” também abriga a realidade triste das ruas estreitas, dos barracos e da vida sofrida vivida na favela. Mas para os “titânicos” todo tempo é tempo de sobreviver e de sonhar. O mar explode em pleno gueto, amenizando o sofrimento em seu refúgio.

O que resta aos personagens desse pedaço de terra é se reinventar diariamente, promovendo projetos que saltam de suas mentes criativas. Um dessas figuras é João Carlos Sobrinho, conhecido popularmente como “Fera”. A pele escura e queimada do sol denuncia que o tempo passou, mas o professor de surf que agora tem 46 anos de idade não se entregou à aposentadoria.

“Não tenho mais o pique de antes. Meus filhos surfam e me deixam para trás. Mas sempre que posso tento descer minhas ondinhas. O surf é uma terapia”, conta. São sujeitos como Fera que nos deixam uma reflexão: como vencer o atraso social. Talvez encontremos a resposta no mar. Não adianta lutar contra. O jeito é se adaptar.

Gabriel Antônio
6° Semestre

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