MARTA BRUNO: Notícia com mais sensibilidade e olhar diferenciado
Na cobertura factual, a experiência de quem vê a evolução do jornalismo no segmento de Cidades
As novas ferramentas de fazer jornalismo estão mudando a forma de fazer notícia. A área da editoria de Cidades é considerada mundialmente como a “escola” da reportagem.
Marta Bruno, 39, formada pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é editora da área de Geral do Diário do Nordeste, que abrange as editorias de Cidade, Polícia e Regional. Especializada em Linguística e Jornalismo Científico, Marta conversou com o Quinto Andar sobre as mudanças no dia a dia do segmento de Cidades no últimos anos.
Quinto Andar – Como você analisa o jornalismo de cidades hoje e as principais diferenças comparando-o com outras épocas?
Marta Bruno: Mudou muito. Os repórteres focavam em trazer a notícia da rua, com personagens, matérias de comportamento e um panorama do que estava acontecendo na cidade na área de educação, saúde, trânsito. Hoje, esse jornalismo está mais generalizado e focado em números. Isso gera uma demanda que amplia mais as matérias, abrangendo a cidade como todo.
QA – Com o acesso à internet que temos hoje, e a velocidade das informações, as matérias ficaram de alguma forma mais fáceis?
MB: Não. A internet agilizou o processo, mas não mudou a forma de apuração, que continua sendo feita com o mesmo cuidado. Hoje, a gente recebe muita informação pelo WhatsApp. Uma foto que chega, não garante que a foto é aqui em Fortaleza, se foi feita pela pessoa que mandou. Então, as coisas chegam com mais facilidade, mas apuração tem que ser feita do mesmo jeito.
QA – As assessorias de comunicação tem papel importante no cotidiano das redações. Como você vê a atuação das assessorias, estão ajudando no segmento de cidades? Qual o papel delas hoje?
MB: As assessorias burocratizaram muito o processo. Querem responder pelos assessorados e acaba que limitam o trabalho do repórter. Por outro lado, elas têm ajudado a reunir material. O release [press release] não se limita mais a um e-mail. Muitas vezes a gente recebe ou pede maquetes de projetos, vídeos e fotos.
QA – Os jornais de outros estados ‘republicam’ alguma notícia da imprensa local?
MB: Não. Às vezes, pedem fotos, um contato de uma fonte, mas a matéria é feita por eles. O jornal, então, negocia uma foto ou vídeo. O que normalmente o jornal pede é que seja dado o crédito.
QA – E o que pensa sobre o futuro jornalístico no Ceará e no Brasil?
MB: Aqui mudou muito a forma de fazer jornal e de fazer notícia. O repórter vai para a rua, filma, faz um vídeo e coloca aqui na internet quando chega. A notícia é trabalhada de forma mais dinâmica e a gente não fica segurando a informação para soltar no dia seguinte. O que vai dá no outro dia é uma notícia mais elaborada.
QA – Na sua trajetória profissional, o que mais contribuiu para se destacar no jornalismo? Como obteve sucesso nesse mercado tão competitivo?
MB: Todo jornalista não deve perder do foco de que ele é um repórter em qualquer situação. Se hoje estou como editora, não deixo de ser repórter. Tem que ter um olhar e um ouvido apurado, numa conversa entre amigos, na rua, principalmente nessa área de Cidades que você vê a demanda da cidade. Não dá para descansar nesse sentido. Não é ficar procurando notícia, mas é você estar ligado e manter boas relações com as fontes.
QA – Quais foram os melhores e piores momentos que você viveu como repórter?
MB: A primeira coisa que vem na minha cabeça são essas matérias de chuva, que a gente ia e entrava com água até a cintura e não se lembrava de que aquilo era um risco, era bem difícil. Mas, momentos bons também. Íamos a locais que ninguém tinha ido, dávamos uma informação que ninguém tinha dado, conseguíamos uma imagem que ninguém tinha conseguido, viajar pelo interior era muito rico, isso era maravilhoso.
QA – É verdade que há uma crença, entre os jornalistas, de que o repórter que fizer bem as notícias de cidade, ele está apto a cobrir qualquer outro assunto?
MB: É verdade. O repórter de Cidade tem um fator muito importante que é a observação: o olhar dele e a matéria de cidade exige isso. Ele vai para a chuva, para o sol, para dentro de um ônibus, são coisas completamente diferentes, mas que enriquecem muito. O repórter consegue circular por esses locais de uma forma muito mais natural.
QA – O que você, Marta Bruno, tem feito atualmente aqui no Diário do Nordeste? Quais os projetos e planos?
MB: Sou editora da área de Geral, que cobre Cidade, Polícia e Regional. Nessas editorias a gente tem projetos ao longo do ano, tudo já esquematizado. A gente sabe o que vai fazer nas datas, cinco anos disso, dez anos daquilo…
QA – E qual seria a dica que você deixa para nós, estudantes de jornalismo, que estamos ainda começando essa trajetória profissional?
MB: Creio que todo mundo deve passar por uma redação de rádio, TV, impresso ou de internet, para ver essa história da apuração. Você aprende a ter agilidade para escrever, para editar e para pensar na melhor imagem. Então, é ter essa sensibilidade de perceber, ter um olhar diferenciado.
Erikison Amaral
5° Semestre