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LEVI DE FREITAS: A busca por humanizar uma editoria

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O repórter relata como é trabalhar dia a dia com a violência em um dos maiores jornais do estado

Embora cubra área policial, o repórter critica o modelo que banaliza o atual jornalismo no Brasil (Fotos: Laíne Carlos)

Embora cubra área policial, o repórter critica o modelo que banaliza o atual jornalismo no Brasil (Fotos: Laíne Carlos)

Ele é repórter de polícia do Diário do Nordeste, mas não gosta de assim ser chamado. Levi de Freitas é jornalista, formado na Faculdade 7 de Setembro (FA7). Desde 2014 está na editoria de Polícia, embora afirme não se apegar a qualquer editoria. Na profissão, já atuou em diferentes setores, desde esporte à economia.

Na editoria de Polícia, revela que gosta de ir além do “só sangue” e analisar o todo, deixando de lado a busca pela tragédia e o sensacionalismo. Com a experiência em diferentes áreas do jornalismo, Levi se diz um apaixonado pela apuração, pela busca da matéria e que não gosta de ficar só acomodado na redação. E, por conta disso, diz para o Quinto Andar, como, com o passar dos anos, aquele jornalismo que ele sempre imaginou, de apuração, estudado na faculdade, está deixando de existir.

Quinto Andar – Como você analisa o jornalismo policial hoje e as principais diferenças comparando-o com outras épocas? O que melhorou e piorou?
Levi de Freitas: Bom, hoje ele tem duas abordagens. A gente percebe que na televisão ainda tem muito aquele “espreme e sai sangue”, e no impresso, a gente tem procurado transformar mais numa análise de segurança pública, deixando de lado essa busca pela tragédia e analisar o todo, em detrimento da banalização da violência. No geral, o jornalismo policial tem tido uma melhora pelo que é ensinado na faculdade. A gente sabe que antigamente era muito mais sangue. A gente ligava a TV pela manhã e tinha a cara e o corpo de uma pessoa. Hoje, porém, o mesmo pessoal da televisão já tem mais cuidado.

QA – Qual a sua opinião sobre o sensacionalismo empregado nos programas policiais da TV?
LF: Detesto. Sou muito sensível. Já aconteceram várias vezes de eu me emocionar em alguma ocorrência. E esse lance de banalizar, ‘sensacionalizar’, procuro fugir disso. Porque é aquela coisa, você tem que se colocar no lugar do outro.

QA – Você acha que na graduação dos cursos de Jornalismo, falta alguma disciplina específica para conscientizar os futuros profissionais sobre o conhecimento e divulgação do segmento policial?
LF: Para onde você for, vai precisar se especializar em alguma coisa. No meu caso específico, sinto muita falta de conhecimentos básicos em Direito. Mas, isso vai muito da questão de especialização. Faz falta, principalmente, quando você está em um cargo acima, mas quando você é repórter, pode tirar suas duvidas ali com seu chefe. O jornalista não pode ter vergonha de dizer que não sabe. Então, é visível essa necessidade. No meu caso, na polícia, um curso de Direito seria muito bem vindo.

Levi de Freitas, repórter do Diário do Nordeste, conta como é trabalhar na editoria de Polícia (Fotos: Laíne Carlos)

Levi de Freitas, repórter do Diário do Nordeste, conta como é trabalhar na editoria de Polícia (Fotos: Laíne Carlos)

QA: O que pensa sobre o futuro jornalístico no Ceará e no Brasil?
LF: Voltando para aquela história do clique desenfreado, hoje não existe mais apuração direito. Quem manda na redação hoje é o Facebook e o Whatsapp. Cada vez que você publica uma coisa, que não é apurada direito, é um tiro que você dá no jornalismo. Fico muito temeroso, pois sei que o jornalismo não acaba, não tem como acabar, mas da maneira que a gente conhece, que a gente estuda na faculdade, que sempre imaginei, está morrendo. Claro, sem ser pessimista, a internet ajuda a gente a entrar em contato com áreas que eu ou qualquer outro jornalista não conseguiria chegar.

QA – Até aqui, na sua trajetória profissional, o que mais contribuiu para se destacar no jornalismo?
LF: Além do dinamismo, você tem que estar sempre aberta para o novo, mas sem perder seu senso critico. Penso que é isso que me diferencia. De ver a coisa com olhos mais amplos. Enfim, questionar e estar satisfeito com meu trabalho, mas sempre querendo fazer melhor, saber que tem sempre algo que você pode fazer.

QA – Quais foram os melhores e piores momentos que você viveu como repórter?
LF: Um caso foi o envenenamento do subtenente e do filho, e eu condenei o subtenente porque na minha matéria havia: “Subtenente mata filho autista e agride esposa”. Tudo bem, era a versão da mulher dele, pois ele estava em coma. Era o relatório policial na época e depois quando começaram a surgir provas de que havia sido a esposa, me senti culpado por ter condenado o subtenente na matéria. E o lado bom disso tudo foi que, por meio da apuração, consegui consertar aquilo que tinha feito.

QA – E quais seus projetos e planos?
LF: Assim, nessa área é muito difícil você se planejar, é complicado. Você tem de estar aberto ao que aparecer. Já fiz todo tipo de reportagem que você imaginar, mas hoje estou muito preso no impresso, e não quero ficar conhecido só como “O repórter de polícia do Diário do Nordeste”. Estou na polícia, mas não me apego a uma editoria. Quero um dia ser editor, e, quem sabe, chegar a ser diretor do jornal. Mas, eu também queria fazer reportagem especial, que aí sim, você tem tempo de apurar, pois são reportagens que você tem tempo pra trabalhar nela, até meses… Ali sim, pra mim, é um trabalho jornalístico.

Imagem de Amostra do You Tube

Laíne Carlos
(Texto, fotos e audiovisual)
5º semestre

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