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CELY FRAGA: Os desafios diários do jornalismo de cotidiano

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Atual editora de Cotidiano do jornal O Estado, jornalista avalia sua experiência no mercado de trabalho

 Cely Fraga, 36, é a atual editora de Cotidiano do jornal O Estado (Foto: Arquivo Pessoal)

Cely Fraga, 36, é a atual editora de Cotidiano do jornal O Estado (Foto: Arquivo Pessoal)

Ela entrou muito cedo no curso de Estilismo e Moda, na Universidade Federal do Ceará. Não se identificou, contudo, com a área. Depois de tentar “empurrar” o curso, repensou sua situação acadêmica. Fez vestibular, então, para Jornalismo na Faculdade Integrada da Grande Fortaleza (FGF). O tempo passou e, hoje, Cely Fraga, 36, é a atual editora de Cotidiano do jornal O Estado.

Como tinha de bancar a faculdade, foi difícil conciliar o trabalho com estágios, explica. Em 2009, O Estado a contratou como repórter. Um ano depois, era editora do caderno Imobiliário. Com as mudanças editoriais sugeridas pela diretoria de tempos em tempos, Cely foi para a editoria de Política. “Mais um ano passou e, novamente, outras mudanças. Dessa vez, na editoria de Cotidiano, na qual estou atualmente”, diz. Em entrevista, Cely fala das experiências vividas durante sua trajetória profissional. Confira:

Quinto Andar – Você pode contar como é trabalhar noticiando o jornalismo de cotidiano?
Cely Fraga: É difícil. O cotidiano, do qual se alimenta o jornalismo, é uma realidade, muitas vezes, triste. É claro que temos boas notícias, mas, diariamente, temos muitas mazelas para retratar. Em linhas gerais, trabalhar nessa editoria é estar sempre conectado, antenado. É estar preparado para tudo. Como diz aí o slogan de uma rádio, ‘em 20 minutos tudo pode mudar’. E é verdade. Não tem rotina nessa editoria.

QA – Trabalhar no núcleo de cotidiano é complicado?
CF: Não diria complicado, mas complexo. É dar um novo olhar para um assunto. É dar um sentido para o leitor sobre o conteúdo. A editoria é um universo. Imagina o quanto acontece no seu dia a dia. Agora, imagina o quanto acontece no dia a dia da cidade. Isso já dá a dimensão do trabalho. E aí que entra o jornalista. Diante de tantas informações, selecionamos o que julgamos importante para o leitor. E ele precisa dessa informação mais aprofundada. Ele quer transparência, saber o que de fato está acontecendo. Contra nós, o fator tempo. Nesse caso, as novas tecnologias são excelentes recursos. Contudo, além dos critérios jornalísticos que aprendemos em sala de aula e dos novos recursos, nesse núcleo, especificamente, precisamos do olhar aguçado e muita sensibilidade.

QA – Como você analisa o jornalismo de cotidiano hoje e as principais diferenças comparando-o com outras épocas? O que melhorou e piorou?
CF: Aqui entra aquela questão da velocidade da informação. As informações chegam de toda parte e a cada minuto. Um acidente grave interditou a BR-116, o trânsito está parado. Um incêndio tomou conta do Parque do Cocó. Um vigilante foi morto e tomaram sua arma. Os jornais chegam, às vezes, quase igual com a polícia. Melhorou por que agora temos fontes em todas as partes, temos câmeras que flagram praticamente tudo. É como se tivéssemos olhos e ouvidos em todos os lugares. Ampliou nosso alcance. Piorou porque não podemos estar em todos os lugares ao mesmo tempo. O excesso de informações nos faz correr e viver sob pressão. Afinal, o que devemos selecionar? Mais uma vez, o fator tempo. A correria nos obriga a deixar passar muita coisa, nos faz deixar de cobrar muita coisa. No lugar de aprofundar, surfamos na superfície.

QA – Você acha que na graduação dos cursos de Jornalismo, falta alguma disciplina específica de jornalismo de cotidiano para conscientizar os futuros profissionais sobre o conhecimento e divulgação deste segmento?
CF: Faltou, pelo menos na minha época, uma disciplina específica para o jornalismo policial. É importante, em minha opinião, uma orientação de como essa área do jornalismo funciona. É manter a objetividade, mesmo que aquela matéria seja uma crítica àquela delegacia onde você tem suas fontes. É relatar um caso de abuso de autoridade policial, apesar de ter feito amizade com vários policiais e assim por diante. Também é uma editoria que você precisa compreender diferentes expressões jurídicas, e ter cuidado e ética para tratar alguns assuntos como exploração sexual infantil e estupro. São experiências que você vai absorvendo no dia a dia. Faltou, no entanto, essa abordagem na minha formação.

QA – Na sua trajetória profissional, o que mais contribuiu para se destacar no jornalismo? Como obteve sucesso nesse mercado tão competitivo?
CF: Primeiro, um pouco de sorte, de estar no lugar certo e na hora certa. Segundo, dedicação. Terceiro, e não menos importante, prezando pelo nome e credibilidade como profissional.

Imagem de Amostra do You Tube

QA – Para finalizar, a imprensa de um modo geral se pauta em assuntos sobre jornalismo de cotidiano nos momentos de crise, sem tratar sistematicamente a questão. Como o jornalista de cotidiano pode melhorar esse debate na mídia, em tempos de convergência?
CF: É complexo. Precisa sair do lugar comum e da zona de conforto. Tem que brigar por espaço e lutar para colocar em foco todos os atores sociais daquela crise. Não é tratar a questão, mas provocar o debate e aquecer a discussão. É oferecer material para que esse debate aconteça.

Lorena Mesquita
4º semestre

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