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XII BIENAL: Os jornalismos possíveis de Eliane Brum

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Uni7 Informa

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A jornalista sublinha a importância de boas narrativas para o desenvolvimento de reportagens instigantes e destaca novos projetos

A jornalista, escritora e documentarista Eliane Brum participou da XII Bienal Internacional do Livro no Ceará, em Fortaleza, na última segunda-feira, 17. Debatendo o tema “Toda pessoa constrói uma versão da história a ser contada”, ela conversou sobre sua carreira, reportagem e os jornalismos possíveis para a construção de uma sociedade democrática.

Mediado pelo jornalista e biógrafo Lira Neto, o bate-papo, com a sala repleta de admiradores, relembrou a carreira de Eliane Brum: o legado na reportagem, os livros publicados, as colunas de opinião e documentários. Ao longo de sua vida, a escritora afirma ter aprendido muito com as pessoas que contou suas histórias. “Conheci muita gente que fazia literatura pela boca. Hoje me sinto povoada, multidão”, descobre-se.

A importância da escuta do outro na construção de boas narrativas foi debatida por Eliane Brum, ao lado de Lira Neto (Foto: Evelyn Barreto)

Ao narrar tantos causos de vidas, muitas vezes invisíveis para a grande mídia, Brum reconhece que o jornalismo é um caminho sem volta. Os profissionais são atravessados pelo percurso de existência de outras pessoas. “Não existem vidas comuns. O que existe são nossos olhos domesticados. Toda vida é extraordinária se a gente consegue enxergar”.

Reportagem

Eliane Brum define-se como “escutadeira” e afirma que não existe outra característica mais importante para um repórter. Relacionando o fazer reportagem com a história, os jornalistas, para a escritora, são historiadores do seu tempo. “A reportagem é a história em movimento, é documento”.

Ao rememorar suas histórias enquanto repórter, Eliane se mostra grata a cada pessoa que dividiu suas narrativas com ela. Enquanto documentarista ainda afirma que, para se perceber no outro, é preciso estar disposto à empatia e humildade. “Precisamos vestir a pele das pessoas, perceber essa outra forma de ser e estar no mundo e, só então, buscar o caminho de volta”, ensina.

Escrita

Com seis livros publicados, ex-colunista da Revista Época e atual colunista do jornal El País, Eliane Brum demonstra um grande apreço pelas palavras. Para ela, embora as narrativas de ficção e reportagem sejam diferentes, os conteúdos assemelham-se em seu poder de impactar vidas, tanto para quem faz, quanto para quem lê. “Quando escrevo, começo a contar uma história. Mas, no caso das colunas de opinião, há uma conversa que sempre continua pelo tempo. Não objetivo encontrar respostas, objetivo encontrar mais perguntas”, admite.

Ainda sobre os impactos da escrita em sua vida, a jornalista diz que as palavras têm função vital. É por meio delas que sente com mais intensidade as sensações do mundo, suas delicadezas e injustiças. “Escrever não é pouco, nem muito, é possível. É por isso que escrevo para não matar e para não morrer”, afirma.

Multimídia

Com dois documentários lançados e o terceiro “Laerte-se”, sobre a cartunista e chargista Laerte, Eliane encontra no audiovisual uma possibilidade de contar histórias que não seriam aceitas em veículos de comunicação da imprensa. Para ela, é outra forma de linguagem que deve ser utilizada para construir perfis que tragam novas perspectivas de interpretação.

Mesmo assim, a documentarista relata que, no fim, a estrutura é a mesma: uma história que precisa ser contada. “Não é você que escolhe uma história, é ela que te escolhe. E quando isso acontece não há mais sossego”, ressalta.

“O nosso jornalismo se torna irrelevante quando os diversos ‘Brasis’ são desprezados”, afirma Eliane (Foto: Evelyn Barreto)

Crítica social

Questionada pelo público sobre o sensacionalismo presente no jornalismo e as influências do âmbito digital na qualidade das matérias, Eliane diz, em tom de descontentamento, que o foco do brasileiro está nos lugares errados. Segundo ela, o jornalismo se prejudica ao contar histórias irrelevantes e em permitir que seus textos “pareçam cada vez mais com posts no Facebook”.

Neste cenário, ela tange, mídias alternativas surgem para suprir a necessidade de esclarecimentos dos fatos de importância no cotidiano. Assim, o leitor surge como agente principal para a seleção de boas e más matérias. “O nosso jornalismo se torna irrelevante quando os diversos ‘Brasis’ são desprezados”, sustenta.

Presente no encontro, o estudante de jornalismo Paulo Mesquita, 34, do Centro Universitário 7 de Setembro (Uni7) concorda com a afirmação da jornalista. “(Nas reportagens), são narrados fatos que podem diretamente modificar as vidas das pessoas e isso é algo muito sério”, afirma.

Vivências

Como atividade extraclasse, a turma de Projeto Integrado de Webjornalismo 2017.1 da Uni7, sob coordenação da professora Eulália Camurça, foi ao encontro de Eliane Brum e elaboraram esta matéria de forma colaborativa. Confira o depoimento de alguns alunos e da professora:

“Ao contar histórias de forma tão crua e ao mesmo tempo poética, Eliane mostra uma paixão pelo jornalismo que apaixona quem ouve. Numa platéia composta por muitos estudantes, ela ao mesmo tempo que compartilha experiências, também inspira a nova geração da profissão”

Sarah Sousa, 8º semestre

“Conheci a Eliane Brum, por meio de suas colunas de opinião na Época. Lembro que fiquei boquiaberta com a forma com que ela vê o mundo; uma forma, talvez, de encontrar a si mesmo por meio da profundidade do outro. Esse outro, que, muitas vezes, está à margem da grande mídia. É um sensibilizar-se forte e intenso que me encantou muito. Então, é por isso que vim pro jornalismo. Vê-la de pertinho foi como se eu encontrasse a mim mesma alguns anos atrás. Fiquei bem feliz por ter escolhido este caminho”

Paloma Magalhães, 7º semestre

“Eliane Brum mostra a grandiosidade de um jornalismo preocupado em ouvir e olhar no olho de quem é reportado. A forma como ela respeita e conduz as narrativas são inspiradoras para quem está começando e para quem já tem anos de redação”

Eulália Camurça, professora e jornalista

 A Bienal

A Bienal Internacional do Livro do Estado do Ceará é realizada pela Secretaria da Cultura (Secult), em parceria com o Instituto Dragão do Mar e com apoio do Ministério da Cultura.

Realizada no Centro de Eventos do Ceará, a Bienal chegou à XII edição e tem como tema “Cada pessoa, um livro; o mundo, a biblioteca” A programação encerra neste domingo, 23.

 

Serviço

XIIº Bienal Internacional do Livro do Ceará

Local: Centro de Eventos do Ceará

(Avenida Washington Soares, 999 – Edson Queiroz)

Período: 14 a 23 de abril de 2017

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