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TÉCNICOS: Desafio em curto e longo prazo nos clubes do futebol brasileiro

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No país onde 27 treinadores já foram demitidos em 2018, profissionais que resistem colhem resultados em forma de vitórias, classificações e títulos

Desde 2016 no Grêmio, Renato Gaúcho ostenta conquista da Libertadores (Foto: Lucas Uebel / Grêmio FBPA

Diferentemente da Europa, onde técnicos de futebol duram em seus times uma média de 16 meses, no Brasil os treinadores comandam as equipes em média por menos de 100 dias. Somente em 2018, 27 demissões já foram registradas no futebol brasileiro. Como fazer um trabalho em longo prazo em um mercado tão instável?

De acordo com o Analista de Desempenho Henrique Bittencourt, 25, o planejamento de um time de futebol varia de acordo com a metodologia empregada por cada comissão técnica. “Normalmente é mensal e semanal, resumido em mesociclo e microciclo. Tudo montado para direcionar os trabalhos, mas sujeito a alterações.” As mudanças podem ocorrer por conta de contratações, demissões, até lesões de atletas e suspensões nos campeonatos.

Apesar da média baixa de permanência nos clubes, há algumas exceções de técnicos que permanecem por mais de um ano a frente de um time brasileiro. Nas quartas de final da Copa Libertadores 2018, seis de oito técnicos estavam no comando de seus times há mais de 365 dias. Os dois técnicos argentinos classificados para a final do torneio, Marcelo Gallardo e Guillhermo Schelotto, executam suas funções no comando de seus clubes desde 2014 e 2016, respectivamente.

No Brasil, a permanência prolongada não é tão popular. Dos 20 times da Série A, apenas três técnicos foram contratados há mais de um ano: Mano Menezes, Renato Gaúcho e Odair Hellmann. Para Bittencourt, as dificuldades de trabalho em longo prazo acontecem no Brasil por conta da cultura. “Estive trabalhando com cinco treinadores e apenas um tinha programação visando o ápice do rendimento a médio e longo prazo, implementando princípios e subprincípios com paciência e critério. Após um mês de competição, 10 jogos, foi demitido.”

Trabalho prolongado rendeu a Mano Menezes título da Copa do Brasil (Foto: Cruzeiro Esporte Clube)

Para o estudante de jornalismo Matheus Eduardo, 22, um grande aficionado pelo universo de planejamento e tática no futebol, os principais componentes que ajudam ou atrapalham um trabalho em longo prazo no país é o contexto do mesmo. “Aqui no Brasil as equipes que conseguem fazer um futebol mais efetivo quase sempre estão ligados a um trabalho em longo prazo. O maior expoente disso é o Grêmio do Renato Gaúcho. O país tem um contexto bem específico para o trabalho dos treinadores. Como é um território grande, a logística é bastante difícil e o calendário é péssimo para se desenvolver um trabalho e a forma como se cria um campeonato. O Brasil é muito mundo a parte na hora de se avaliar o trabalho dos treinadores dentro dessa competitividade.”

“De 20 times da Série A, apenas três técnicos foram contratados antes de 2018”

Sendo o imediatismo uma das armas que trabalham contra um planejamento em longo prazo, Henrique frisa que muitas vezes esta exigência faz com que técnicos precisem deixar de lado suas convicções para conquistar resultados em curto prazo. “No geral essa rotatividade desenfreada de técnicos também é contraproducente para todos os setores profissionais do futebol. Podemos citar exemplos como o dos analistas de desempenho, que são importantes na transição desses trabalhos e precisam se adequar a uma nova rotina e filosofia. Os jogadores, que dentro do modelo de jogo de um determinado treinador têm suas qualidades exploradas e já estão inseridos numa metodologia que será modificada em três meses. E para os próprios técnicos, que possuem trabalhos condicionados pela cultura do resultado imediato, deixando de lado suas convicções para vencer o jogo seguinte e ganhar mais uma semana de sobrevida.”

O contraponto: técnicos que dão resultados positivos a curto prazo

Luiz Carlos Cirne, 46, mais conhecido como Lisca Doido, é um dos técnicos de futebol que contrapõem o trabalho em longo prazo no seu dia-a-dia. Contratado pela segunda vez pelo Ceará, o treinador é uma das principais peças para a recuperação da equipe no Campeonato Brasileiro e explica que o trabalho em grupo é um dos principais pontos para bons resultados. “O futebol não é mais um jogo de onze jogadores só. Hoje em dia, por conta de imprevistos, questões tática e lesões, é preciso ter um grupo forte de 22 jogadores, prepará-los da mesma maneira. A minha metodologia preza por isso. Temos exemplos de times brasileiros que tem 22 jogadores jogando e no Ceará também funciona assim.”

Para Lisca, pressão favorece a busca por bons resultados (Foto: Felipe Santos/Ceará SC)

Tendo chegado ao Alvinegro com uma grande pressão após o time estar na lanterna do Campeonato, Lisca destaca que a enxerga de forma positiva. “Tenho 28 anos como treinador e nunca, em qualquer categoria, houve um jogo em que não precisávamos ganhar. Nós queremos crescer, ganhar, produzir e a pressão é positiva, pois já trabalhei em clubes que se você ganhar, empatar ou perder, nada acontece e ninguém fala nada. A pressão é um diferencial de clubes de massa e gosto disso. Todo profissional de sucesso vai trabalhar com pressão e quanto mais pressão, melhor.”

O técnico afirma ainda que as dificuldades foram combustíveis para a busca por bons resultados. “Na dificuldade também existe uma grande oportunidade. É um lema na minha vida e tento sempre passar isso para os jogadores, já que começamos mal o ano e se criou uma possibilidade de recuperação, que temos condição de disputar competições de igual para igual com outros clubes.”

“Na dificuldade também existe uma grande oportunidade”
Lisca, 46

Em relação ao rodízio de técnicos no Brasil, Lisca frisou que é algo cultural. “A representatividade de um técnico hoje é muito grande e quando as coisas não acontecem fica mais fácil trocá-lo do que trocar uma série de circunstâncias. É ruim para técnicos, nossa média de permanência nos times é baixa. Quando ganhamos todos participam, mas quando perdemos é só o treinador, mas temos que nos adaptar a isso e trabalhar com tranquilidade e naturalidade quando há saídas, trocas, pois isso é corriqueiro em nossa profissão.”

Também foram procurados para participar da reportagem os técnicos Rogério Ceni, Mano Menezes e Renato Gaúcho, mas por motivos de força maior os treinadores não puderam conceder entrevista.

Texto: Iara Castro (6º semestre – Jornalismo/UNI7)

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