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Por uma nova José Avelino

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Polo comercial de moda e têxtil completa 18 anos em 2019 e deve sofrer mais intervenções municipais até o ano que vem

Antes de homenagear o magistrado natural de Aracati, José Avelino, a famosa Rua com o nome dele já teve muitos nomes: Rua do Chafariz, Rua do Singlehurst e Travessa nº 19. Antigamente apenas um polo artesanal. Desde 2009, o polo de moda e adjacências vêm se modernizando e atraindo públicos nacionais e internacionais em busca de tecidos e roupas.

Mas, nem tudo são flores. Em 2017, a Prefeitura de Fortaleza interveio na organização da feira a pedido da Câmara de Dirigentes Lojistas de Fortaleza (CDL). O processo se deu por meio de muitas reuniões, quando, a pedido dos feirantes, a última feira ocorreu em 14 de maio daquele ano, Dia das Mães, data forte para o comércio.

A feira se tornou um grande polo econômico da região [Nah Jereissati – Diário do Nordeste]

A partir daí, a feira, que antes invadia a Av. Alberto Nepomuceno e a calçada da Catedral da Sé, passou a ser contida pela Guarda Municipal e fiscalizações. A desorganização imperava: interdição de vias de tráfego, lixo, lama, perigo de acidente com fiação elétrica, roubo de energia dos postes públicos. Não havia controle de horário, e o contingente poderia variar entre 1,500 a mais de 4 mil pessoas, dependendo da época do ano. Os imóveis ao redor também eram irregulares e não apresentavam a devida estrutura para incêndios, segundo o secretário municipal da Regional Centro, Adail Fontenele.

A maioria dos feirantes procurou comércios privados e centros comerciais nas cercanias da feira para se instalar. Os que não conseguiram entrar nos estabelecimentos particulares foram realocados pela prefeitura para outras áreas, como o Centro Fashion, que conta com 8.400 boxes de venda, ou o Centro Municipal de Pequenos Negócios (conhecido popularmente como Beco da Poeira), para onde foram transportadas em torno de 500 pessoas.

Miro Wilson, 34, comerciante na feira há 10 anos e hoje permissionário no Galpão do Pequeno Empreendedor, garante que as mudanças na região foram benéficas, mas que não houve a devida comunicação por parte da prefeitura acerca das mudanças na feira. “A gente trabalhava na praça, em cima da Sé, vendendo no chão. Mas hoje, graças a Deus, melhorou bastante com a infraestrutura que o prefeito quis implantar aqui, até para os galpões melhorou. Não sei qual era a ideia dele, mas ele já tentou fechar aqui”, ressalta.

A vendedora Rosa Rodrigues, 47, concorda. “A gente nunca entende o que a prefeitura quer fazer, até mesmo porque ela não se explica”. Depois de 4 anos vivendo como ambulante, atualmente Rosa é lojista no Leiria Shopping há 2 anos e explica que as condições de trabalho melhoraram, como a possibilidade de oferecer melhor atendimento aos clientes e ser menos enfadonho que andar na rua. Apesar da concorrência com os ambulantes vendendo a preços mais baixos, ela acredita que eles são o “front” da batalha, e acabam atraindo atenção de mais compradores.

A feira invadia a Av. Nepomuceno e acontecia em horários desregulados [Lucas de Menezes – Diário do Nordeste]

Hoje, com a situação estabilizada, a fiscalização opera de forma menos incisiva, o que fez surgir novos ambulantes pelas ruas e de madrugada. Seja por preferência pessoal ou por falta de vaga, alguns vendedores simplesmente não conseguiram se adaptar à vida de lojista.

“Muitas saíram. Pessoas que tinham cultura de trabalhar na rua. A taxa é pequena, 166 reais por mês, incluindo luz e água. É uma oportunidade boa. Tem gente que trabalha lá há 10 anos e vive bem, crescendo. Eles não se adaptaram muito bem, não foi falta de aviso. Isso eu não tenho como mudar. Hoje são pessoas que insistem em vender na rua, mesmo que esteja organizada e qualificada”, afirma o secretário municipal.

Miro acredita que ainda há muito medo no processo de regularização dos feirantes, e com algum incentivo eles vão conseguir pagar seus impostos e crescer. “Sei que o governo federal incentiva o microempreendedor, mas o microempreendedor não é tolo, porque abrir é fácil, manter é que é difícil”, enfatiza o comerciante.

Para o economista e professor, Luciano Comin, os feirantes podem ter se associado com empresários “que passaram a dar sustentação e maior fama a essas feiras de madrugada”, aproveitando do não pagamento de impostos para obtenção de lucro. Segundo ele, muitos ainda são dependentes da feira e, apesar da requalificação do polo econômico, não abrange todos os perfis de comerciantes da área.

Um novo centro

Estima-se que 350 mil pessoas circulam pelo Centro de Fortaleza, todos os dias, mas apenas 28 mil são moradores. Se fosse um município, seria o segundo maior arrecadador do ICMS do Ceará. A Prefeitura de Fortaleza tem um gasto de aproximadamente 500 mil reais mensais para a manutenção do polo econômico da José Avelino.

O secretário municipal garante que o projeto “Novo Centro” da prefeitura trará um novo ordenamento para o comércio informal e novas oportunidades para os comerciantes. Dentre as diretrizes, há o interesse em “consolidar o polo econômico de moda”, com a requalificação de vias e praças, como a Rua Guilherme Rocha, que já se encontra concluída, além da criação de quiosques e feirões para os comerciantes.

Secretário Adail Fontenele (Fonte – Site da prefeitura)

Segundo Fontenele, o principal problema é a resistência da população às tentativas de organização municipal, com uma cultura de “indisciplina” que, muitas vezes, preferem andar pelas calçadas a estar em um lugar fixo. O projeto levou em consideração as propostas de diversos moradores da região e busca criar um ambiente mais agradável para o consumo, passeio e lazer.

A feira vai até você
Segundo o secretário municipal, o público mais disputado pelos comerciantes não é o varejista, mas o de atacado. “Eles não querem saber de quem vai comprar duas camisetas e dois calções. Eles estão interessados no camarada que vem de Belém do Pará, de Teresina, de Cabo Verde, Moçambique, e compra 500 peças disso, 300 peças daquilo”, ressalta.

Uma forma encontrada para contornar esse problema foi o uso da internet para promover e encomendar produtos. É o caso de Rafael (nome fictício a pedido do entrevistado), ex-comerciante da José Avelino por quatro anos e hoje dono do próprio ponto de vendas no Leiria Shopping há um ano. “Atualmente minha venda é 80% pela internet. Se eu for esperar a pessoa vir na minha loja para comprar, eu tô ‘ferrado’”, brinca.

É comum encontrar ônibus trazendo comerciantes de diversas regiões do país pelas cercanias da José Avelino [Reprodução (TripAdvisor]

O uso das redes também evita que o comerciante se torne refém da circulação dos ônibus “guias”, que trazem pessoas de diversas regiões do país. Além da comodidade para o cliente, o processo é lucrativo para os lojistas, que contratam os serviços de transportadoras privadas, topiques e correios para realização das entregas. Rafael conta que sua principal forma de divulgação é o Instagram, onde possui mais de 30 mil seguidores.

A estratégia é estar visível para o máximo de pessoas e se destacar. “Já tenho dois grupos no WhatsApp, tenho Instagram e Facebook. Existem regras para entrar nos grupos, mas no Instagram e Facebook é livre acesso. Todo dia coloco uma postagem lá, vou conseguindo seguidores e as pessoas me procuram. Às vezes faço publicidade patrocinada”, complementa o comerciante.

Serviços
Galpão do Pequeno Empreendedor
Endereço: Rua José Avelino, 42/95, Fortaleza
Telefone: (85) 8728-9677
Instagram: Galpão do Pequeno Empreendedor

Shopping Leiria Fortaleza
Av. Pres. Castelo Branco, 70, Fortaleza
Telefone: (85) 98803-1828

Regional Centro
Rua Major Facundo, 907, Fortaleza
Telefone: (85) 32543427

Grupo Facebook de vendas “Feira José Avelino”

Texto: Guilherme Magalhães e Cida Souza (6º semestre – Jornalismo/UNI7)

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